Quando saí do outro lado do campo e fui caminhando em direção ao banco, vi um homem sentado no chão, pernas esticadas, calções e polo da seleção, a comer muito calmamente uma fruta e a olhar para dentro de campo. Na altura não liguei. Quando me aproximei, aí sim percebi tudo.

Era Cristiano Ronaldo.

Mais ao lado estavam Pepe e José Fonte. Um pouco depois apareceram Bruno Fernandes, Bruno Alves, Quaresma e Ricardo Pereira, que também se sentaram no chão, ao lado de Ronaldo.

Ainda andavam por lá Fernando Santos, muito interventivo, e João Pinto, mais calmo.

Acho que já dei nove boas razões para explicar a derrota da equipa dos jornalistas frente a uma equipa formada por funcionários da Federação. A verdade é que é difícil não acusar a pressão.

Mas há mais uma razão: Fernando Santos recusou orientar equipa de jornalistas. Houve quem lhe pedisse, que lhe dissesse que precisávamos dele, quem clamasse por ajuda.

«Nem eu consigo fazer nada.»

O caso era grave, portanto. Mas enfim, cada um fez o que pôde. Menos Fernando Santos, claro. Diz que tem um jogo mais importante em que pensar no sábado. Gostava de saber qual.

O jogo que opôs uma seleção dos mais talentosos – futebolisticamente falando – jornalistas a uma equipa de funcionários da seleção acabou 4-1, mas podia perfeitamente ter acabado 1-1, 2-2 ou até 1-2, 1-3, 1-4. Era um jogo de futebol e todos os resultados eram possíveis, portanto.

As duas equipas tiveram, de resto, uma ocupação dos espaços exemplar, uma organização admirável, uma qualidade técnica brilhante. Foi enfim uma tarde de excelente futebol.

Ronaldo vibrou com duas boas jogadas de Ricardo Regufe, antes do representante da Nike se lesionar, mas não deixou também de aplaudir o golo de João Franco, repórter de imagem da TVI.

Os maiores aplausos, esses, foram para um golo do assessor Onofre Costa. A plateia gostou.

Ora por falar em plateia, vale a pena dizer que também houve algumas gargalhadas. Mas isso agora não interessa nada. O que interessa, sim, são sobretudo duas coisas: as equipas da seleção mantêm o hábito de alcançar bons resultados e Cristiano Ronaldo viu-me jogar à bola.

Ou pelo menos correr, vá.

«Czar ao jogo» é um espaço de opinião do editor Sérgio Pereira, enviado-especial do Maisfutebol ao Mundial 2018, na Rússia