Uma equipa dependente de um jogador. E um jogador dependente da sua condição física, que não é a melhor. Ronaldo não está a 100% (muito menos a 110%) e por isso não pode ajudar a Seleção Nacional tanto como gostaria. O corpo parece ceder depois de uma época recheada de recordes, mas também muitos minutos e jogos disputados em esforço.

Antes do desafio, uma mensagem de esperança:


A euforia que se viveu à volta de Cristiano desde que chegou ao Brasil serviu para alimentar a esperança, mas o avançado chegou à estreia no Mundial sem as condições que o fizeram brilhar ao longo de toda a temporada. A proteção no joelho esquerdo denuncia a evidência e o resultado está no rendimento em campo.

Toda a gente o queria ver, como ficou demonstrado nos adeptos presentes em Salvador:



O desafio contra a Alemanha já se afigurava como o mais complicado nesta primeira fase e a equipa não conseguiu responder às constantes adversidades que foram surgindo ao longo dos 90 minutos. Ronaldo tocou na bola pela primeira vez aos 46 segundos e para dar um toque de habilidade, parecendo querer mostrar que estava presente e preparado para tudo.

Aos quatro minutos já ganhava espaço na esquerda e abria em Hugo Almeida, que caminhou para a área e rematou para defesa fácil de Neuer. A Seleção entrava confiante e Ronaldo, mesmo sem a velocidade de outras alturas, agarrava a responsabilidade. Dois minutos depois tenta o remate de longe, mas a bola vai parar às mãos de uma loira na bancada. Jogada seguinte, Miguel Veloso recupera a bola a meio-campo e lança Ronaldo na esquerda, que foge ao defesa e atira rasteiro junto ao primeiro teste, obrigando o guarda-redes a fazer uma defesa por instinto.

Os primeiros dez minutos da Seleção prometiam, mas foi só isso e Ronaldo foi arrastado pela torrente. Um minuto depois João Pereira faz grande penalidade e Muller abre o marcador. A bola começa a não chegar lá à frente, Moutinho não consegue ligar-se ao jogo e Cristiano protesta com os colegas. Ao intervalo, a dura realidade: 3-0.



A Seleção regressa do balneário com a missão de conter danos e Ronaldo pede a bola logo nos primeiros segundos, só para dizer que continua ali, mas ao segundo lance já protesta com os colegas. Aos 51 é Cristiano que perde a bola e permite a Ozil criar uma das melhores oportunidades da Alemanha, obrigando Rui Patrício a fazer uma defesa apertada.

Cinco minutos depois, Ronaldo começa a ser assobiado, mas já se sabe como é que ele reage a isso (muito mais se alguém gritar por Messi). Aos 59, falta de Boateng à entrada da área e Cristiano pode testar o seu «tomahawk», mas a bola bate na barreira. Uma sombra de si próprio, o capitão vai tentando, sem o fulgor de outros tempos.

Aos 75 minutos volta a surgir nos ecrãs e com uma grande correria, mas para protestar com o árbitro depois de Éder ter sido derrubado na área e não ter sido assinalada a grande penalidade. Um 3-1 naquele momento, com golo de Ronaldo, faria com que tudo fosse menos pesado…

Mas nada disso aconteceu e a Alemanha chegou ao humilhante 4-0. Portugal irreconhecível, Ronaldo volta a perder a bola, remata ao lado e até acerta no único jogador que está na barreira num livro a meio do campo da Alemanha. Cristiano testa fintas (as famosas «pedaladas»), mas quase sem sair do lugar e com passes para o lado. É novamente assobiado.

As circunstâncias do jogo (nomeadamente as lesões de Coentrão e Hugo Almeida, para além da expulsão de Pepe) impedem a gestão de esforço do «capitão» e Ronaldo é obrigado a cumprir os 90 minutos. Nos instantes finais, nova oportunidade para rematar à baliza, num livre junto à área, e aí sim testa os reflexos de Manuel Neuer, que faz mais uma defesa eficaz.

Cristiano terá sido um dos melhores da Seleção contra a Alemanha (se é possível eleger alguém), mas os números mostram que este não é o mesmo jogador que deslumbrou o mundo. Vale a pena olhar para a estatística disponibilizada pela FIFA, que mostra a comparação com Muller, definitivamente o melhor em campo.

O alemão, para além dos três golos que marcou, correu mais dois quilómetros do que Ronaldo, mas rematou menos (4 contra 7), demonstrando tremenda eficácia. Fizeram o mesmo número de passes, correram praticamente à mesma velocidade (o que seria impossível se Cristiano estivesse ao melhor nível) e ocuparam basicamente os mesmos espaços. 




Ronaldo continuará a ser a referência da Seleção, mas os próximos dias deverão servir para recuperar psicologicamente para domingo, quando Portugal defrontar os Estados Unidos em Manaus.

Cristiano saiu cabisbaixo do relvado, mas recebeu o conforto de todos, nomeadamente de Schweinsteiger, adversário de tantas ocasiões, que não deixou de dar uma palavra de alento ao «capitão».