Thomas Hitzlsperger, 31 anos, teve um daqueles gestos que podem ficar marcados na história do desporto. Ao assumir a sua homossexualidade, tornou-se no ex-jogador de maior perfil no futebol a quebrar um dos tabus ainda existentes no desporto. Não foi o primeiro a fazê-lo, mas a importância da sua carreira traz o assunto novamente para o topo da agenda e poderá encorajar outros atletas a assumir posições similares.

«Tem sido um longo e difícil processo [até tomar consciência de que era gay]. Só nos últimos anos percebi que preferia viver com um homem», disse, em entrevista ao jornal «Die Zeit», poucos meses depois de ter terminado a sua carreira como futebolista devido as lesões persistentes.

«The Hammer», como era conhecido, considera que «ser gay é um assunto ignorado no futebol» e que «não é levado a sério nos balneários»: «Ser homossexual em Inglaterra, Itália e Alemanha não é muito importante, pelo menos nos balneários. Eu nunca me senti envergonhado pelo que sou, mas nem sempre foi fácil sentar-me à mesa com 20 homens jovens e ouvir piadas sobre gays. Só tens de os deixar fazer isso, enquanto as anedotas têm alguma piada e não são insultuosas.»

O outing de Hitzlsperger surge menos de um ano depois da federação alemã ter desafiado os jogadores homossexuais a assumirem a sua condição e a ministra da Justiça, Sabine Leutheusser-Schnarrenberger, convidou a seleção a desfilar no Dia do Orgulho Gay.

Estrela nos relvados, Hitzlsperger, quer iniciar um novo percurso. O antigo médio representou a seleção alemã por 52 vezes - fez parte do grupo que ficou em segundo lugar no Euro-2008 e em terceiro no Mundial de 2006. Hitzlsperger passou pelo Aston Villa, Estugarda, Lazio, West Ham, Wolfsburgo e Everton.

As reações têm sido muito positivas, mesmo no meio futebolístico. O ex-colega Lukas Podolski e a estrela inglesa Gary Lineker foram duas das figuras que falaram abertamente sobre o assunto nas redes sociais.


Hitzlsperger também usou o twitter para agradecer as mensagens.


Não é a primeira vez que um futebolista assume a abertamente a sua homossexualidade. Um dos primeiros profissionais a fazê-lo foi o ex-internacional sub-21 inglês Justin Fashanu, no distante ano de 1990. Em fevereiro do ano passado o ex-jogador do Leeds e internacional americano Robbie Rogers também anunciou que era gay.

No desporto em geral, várias figuras tiveram gestos públicos similares, como a tenista Martina Navratilova em 1981, o basquetebolista John Amaechi em 2007, ex-jogador de rugby Gareth Thomas, o pugilista Nicola Adams ou o saltador olímpico Tom Daley, que no mês passado assumiu ter uma relação com um homem. Em 1995, o campeão olímpico Greg Louganis aproveitou o fim da carreira para revelar que era gay.

Em Portugal não há registo de um um único desportista profissional que se tenha assumido como gay. O único caso será o de Nicha Cabral, o primeiro português a correr na Fórmula 1, no final da década de 1950. No livro «3.º Sexo», da jornalista Raquel Lito, publicado em 2009, assumiu a sua homossexualidade.

Em 2000 ganhou polémica uma história que envolvia o futebolista Calado, então no Benfica, por alegado envolvimento com o cantor «Melão», da banda Excesso. Durante um Benfica-Sp. Braga, adeptos usaram insultos homofóbicos contra Calado e o jogador já não quis alinhar na segunda parte. Viria a sair do clube pouco depois, mas negou sempre a homossexualidade.

Em 2012, o judoca João Pina foi fotografado para a edição de Julho da Qüir, revista gay portuguesa.