Há jogadores assim. Talhados para sair do banco e resolver. Depois, no jogo seguinte, voltam novamente à condição de suplentes. Pode ser uma embirração do técnico, uma fé, ou pode ter a ver com certas caraterísticas do próprio jogador. Alguns não conseguem render uniformemente durante os 90 minutos, mas podem fazer algo mais quando se sentem pressionados pelo tempo.

Não faltarão exemplos em Portugal, mas talvez um tal de Juary, que deu a Taça dos Campeões Europeus ao FC Porto, em 1987, depois de ter sido lançado no jogo, possa ser uma espécie de expoente máximo desta categoria muito especial de jogadores. Há quem lhes chame armas secretas.

Visto por este prisma, Serginho, avançado do Arouca, é a arma secreta mais utilizada da Liga. Pedro Emanuel já o foi buscar 10 vezes ao banco, para mexer com o jogo. No último, inclusive, marcou… mal pisou o relvado. Pena que o golo não tenha evitado a derrota, mas ficou a intenção.

«Não fazia ideia de que era o suplente mais utilizado. Também foi a primeira vez que entrei e marquei. Já tinha sido suplente utilizado muitas vezes e nunca tinha acontecido. Foi o golo mais rápido da minha carreira, só estava em campo havia 10… segundos. Só me lembro de correr, isolar-me, e rematar», conta ao Maisfutebol.

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«Tenho consciência de que algo assim não me volta a acontecer. Foi uma vez na vida, mas já valeu bem a pena. No Beira Mar, por exemplo, já tinha entrado e feito assistências, mas nunca tinha marcado», sublinha, esperando que o feito o possa catapultar para a equipa já esta sexta-feira, no Estádio da Luz.

A alcunha de supersónico pode pegar, mas aquilo que está a dar visibilidade a Serginho é mesmo essa condição de trunfo lançado ao jogo em praticamente todas as partidas. «É bom. É sinal de que o treinador tem confiança em mim para acrescentar. Não é o mesmo que jogar de início, mas o importante é que tenho participado em todos os jogos», analisa.

É preciso saber apanhar o ritmo

As diferenças entre jogar de início ou entrar a meio do encontro são óbvias. «As coisas nem sempre correm bem quando tempos pouco tempo. É completamente diferente de começar o jogo. Com o passar dos minutos, vamos ganhando confiança e temos mais espaço de manobra para nos mostrarmos. Agora entrar, é mais complicado. Tem de se apanhar o ritmo, o jogo já está partido…», explica Serginho.

O avançado concorda, porém, que apanhar o jogo numa fase mais decisiva, também pode ser bom, porque há mais espaço, os adversários já estão cansados e com menos discernimento. «Isso também é verdade. Há vários fatores em causa», reconhece. Pelo menos no último domingo, correu-lhe bem. «Podia ser assim até final da época [risos].»

O ex-Beira Mar não esconde que tem, como objetivo, conquistar a titularidade «mais cedo ou mais tarde», e, entretanto, tenta «ajudar ao máximo» a equipa. «É para isso que estou a trabalhar», afiança, ao mesmo tempo que acredita que a «falta de sorte» na frente há de passar.

Vice-campeão de sub-20 de uma geração mal-amada

Serginho fez parte da geração que conseguiu chegar à final do Mundial de sub-20 de 2011. A tal equipa por quem ninguém dava nada. «Lembro-me que os outros países tinham comprado os direitos televisivos, mas Portugal só o fez quando passámos da fase de grupos», recorda. Sintomático.

«Conseguimos vencer o estigma e dar a volta por cima», realça, orgulhoso. Só lamenta que os jogadores não tenham sido melhor aproveitados. «O que se destacou mais será o Nélson Oliveira, mas, mesmo assim, não está no Benfica, foi emprestado ao Rennes», relembra.

«É uma pena que não se tenha olhado de outra forma para estes jogadores. Estão a jogar, mas, com exceção do Cédric, estão todos em clubes de menor dimensão», atira.