10 de Novembro de 2009. A Alemanha veste-se de negro em memória de Robert Enke. O guarda-redes põe termo à própria vida após anos e anos de angústia, quase numa existência paralela. Na intimidade soçobrava vezes sem fim aos sintomas imparáveis de uma depressão; no contacto exterior mostrava uma serenidade e um profissionalismo exemplares.

Em entrevista ao Maisfutebol, Sérgio Pinto aceita falar sobre um dos seus colegas «mais marcantes» de sempre. «Foi meu companheiro de equipa durante os últimos dois anos e meio, até falecer. Estava a jantar quando me ligaram a dar a notícia. Fiquei paralisado, sem palavras. Quis acreditar que era uma brincadeira, até ligar a televisão», recorda, incomodado.

Um desconhecido com sete anos de Bundesliga

A voz trémula despista qualquer sensação de paz. O desaparecimento de Enke está ainda bem presente no balneário do Hannover 96. «Era o nosso capitão. Imaginar uma morte daquelas... Ele lançou-se para baixo de um comboio. Só alguém profundamente desesperado o faria.»

A última conversa de Enke no balneário

Sérgio lembra-se perfeitamente da última vez que falou com Enke. «Foi nos vestiários, logo a seguir ao jogo com o Hamburgo. O Robert fez um jogo e dei-lhe os parabéns. Ninguém sabia que ele era uma pessoa doente. Connosco era brincalhão fora da hora do trabalho, mas a treinar era sério e concentrado. Não falava e não precisava. Quando falava todos o escutavam», relata.

«Em quase três anos nunca o vi a cometer um erro em jogo. Um erro evidente. Mas ele era obcecado pela perfeição. Ao mínimo deslize via-o chateado. Custa aceitar ver uma pessoa espectacular e tão jovem desaparecer assim.»

«F.C. Porto? Ia a correr da Alemanha a Portugal»

O primeiro treino após o funeral de Enke foi dilacerante. «O pior dia de trabalho da minha vida. Como é que alguém podia estar concentrado com os colegas a chorar ao lado?» A resposta só encontra silêncio. «Saber que ele nunca mais iria estar ali connosco... Foi duro, insuportável.»

«Escondemo-nos atrás da morte do Enke»

Os resultados do Hannover 96 têm sido decepcionantes. A equipa que era capitaneada por Robert Enke está no penúltimo lugar. O português Sérgio Pinto confia na recuperação. «Escondemo-nos atrás da morte do Enke. Perdíamos e toda a gente dizia que era normal. A comunicação social escrevia que nenhuma equipa suportaria uma perda destas. Nós conformámo-nos e começámos a encarar a derrota como algo normal.»

Perante isto, Sérgio Pinto não tem dúvidas. «A melhor forma de o voltarmos a homenagear é a garantir a manutenção. E é isso que vai suceder.»

O dia do funeral de Robert Enke:



Algumas defesas de Robert Enke: