O 10 sempre foi mais do que um número, um dorsal, mais até do que uma posição em campo. O 10 era o craque, o líder incontornável do ataque. Criador e, muitas vezes, também finalizador. No passado, muitas vezes o 10 era o 10, outras camuflava-se noutros números. «Os 10 e os deuses» recupera semanalmente a história destes grandes jogadores do futebol mundial. Porque não queremos que desapareçam de vez. 

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A mãe, ainda na terra, quer que seja guarda-redes para que não se magoe nas peladas com o irmão e os amigos no pátio. Só que o seu talento nunca poderia ficar confinado à sua própria baliza e, aos 13 anos, o Padova é o clube que mais depressa se deixa convencer pela magia dos seus pés. Catorze jogos mais tarde, já na arrebatada Juve, torna-se Il Pinturicchio, a reencarnação desse modesto pintor do Renascimento nascido à sombra da arte do Rafael Roberto Baggio, o 10 mais 10 que a Itália e a Vecchia Signora possuiam.

Chega em janeiro de 1993, e no primeiro jogo a titular assina um hat-trick frente ao Parma. São cinco golos em 14 jogos, acompanhados pela promessa de muitos mais. Afinal, tem apenas 19 anos. O seu crescimento, tutorado por Marcelo Lippi, acompanha o da própria equipa, com Baggio, o Rafael, a perder espaço e a rumar a outras paragens. Uma Liga dos Campeões em 1995-96, oito scudetti – dois retirados pelo escândalo Calciopoli -, uma Intercontinental, uma Supertaça Europeia e uma Taça de Itália reluzem no seu currículo.

Torna-se capitão, e não abandona o barco quando surge o castigo e a despromoção. É ele quem lidera a equipa de volta à Serie A, apesar das ofertas milionárias que chegam a Turim. Com golos, claro. Ninguém marca mais do que ele na Serie B. Em 2008, em jogo de Champions no Bernabéu, bisa e o estádio inteiro aplaude-o de pé na altura da substituição. É a honra suprema.

A substituição:

Estreia-se na squadra azzurra em 1995, soma 27 golos em 91 encontros. Sagra-se campeão do mundo em 2006, tendo assinado um golo na meia-final frente à Alemanha e um penálti no encontro decisivo perante a França.

No final da época de 2011-12 chega a notícia que poucos gostam de ouvir. A Juventus decide não renovar contrato com Il Capitano, colocando um ponto final a um romance de 19 anos.

Aos 38, muda-se para a Austrália, para o Sydney FC. Dois anos depois, segue para a Índia, para os Dehli Dynamos. Em 2015, aos 41, depois de quase um ano sem clube, reforma-se.

Del Piero foi referência na «squadra azzurra».

Um 10 fantástico. O fantasista puro, especialista também em livres e penáltis. Muitos golos marca ainda da alla Del Piero, naquela diagonal da esquerda para o meio, com remate em curva a apontar ao ângulo superior mais afastado, disferido de fora da área. Acompanha a festa com os braços abertos e a língua de fora, fazendo lembrar Michael Jordan, e finaliza com um salto teatral e um murro no ar.

É um criativo, com voraz apetite pelo golo e pelo último passe. Joga muitos anos como segundo avançado, a sua posição preferida, embora fosse capaz de passar por todas as posições da linha avançada. É muitas vezes também trequartista, médio ofensivo de ligação para o ataque, em que sobressai a sua visão, controlo de bola e saída do um-para-um. Com Sacchi na seleção, é ocasionalmente extremo, fazendo brilhar a sua capacidade de cruzamento, com ambos os pés. É um dos maiores do jogo, o Pinturicchio que pintava como Rafael.

Alessandro Del Piero
9 de novembro de 1974

1991-1993, Padova, 14 jogos, 1 golo
1993-2012, Juventus, 513 jogos, 208 golos
2012-2014, Sydney FC, 48 jogos, 24 golos
2014, Delhi Dynamos, 10 jogos, 1 golo

6 campeonatos italianos (Juventus, 1994-95, 1996-97, 1997-98, 2001-02, 2002-03, 2004-05, 2005-06, 2011-12)
1 Serie B (Padova, 2006-07)
1 Taça da Itália (Juventus, 1994-95)
4 Supertaças italianas (Juventus, 1995, 1997, 2002 e 2003)
1 Liga dos Campeões (Juventus, 1995-96)
1 Supertaça Italiana (Juventus, 1996)
1 Intertoto (Juventus, 1999)
1 Taça Intercontinental (Juventus, 1996)

Alguns prémios individuais:

MVP Taça Intercontinental (1996)
Jogador do ano sub-21 (1996)
Melhor marcador da Liga dos Campeões (1997-98, 10 golos)
Futebolista italiano do ano (1998 e 2008)
Jogador com mais assistências na liga italiana (1999-2000)
FIFA 100

Alessandro Del Piero marcou mais de 200 golos pela «Vecchia Signora».

Primeira série:

Nº 1: Enzo Francescoli
Nº 2: Dejan Savicevic
Nº 3: Michael Laudrup
Nº 4: Juan Román Riquelme
Nº 5: Zico
Nº 6: Roberto Baggio
Nº 7: Zinedine Zidane
Nº 8: Rui Costa
Nº 9: Gheorghe Hagi
Nº 10: Diego Maradona

Segunda série:

Nº 11: Ronaldinho Gaúcho
Nº 12: Dennis Bergkamp 
Nº 13: Rivaldo
Nº 14: Deco
Nº 15: Krasimir Balakov
Nº 16: Roberto Rivelino
Nº 17: Carlos Valderrama
Nº 18: Paulo Futre
Nº 19: Dragan Stojkovic
Nº 20: Pelé

Terceira série:

Nº 21: Bernd Schuster
Nº 22: Nándor Hidegkuti