As cheias que inundaram parte dos Balcãs já fizeram mais de quatro dezenas de mortos e deixaram centenas de milhares de desalojados. Não é possível deixar de referir o cenário geral que está a afetar Bósnia-Herzegovina, Sérvia e também a Croácia seja qual for o tema que traz à MF Total esta tragédia.

Na sequência desta catástrofe, a SuperLiga da Sérvia, o principal campeonato do país, foi interrompido e o título de campeão está em suspenso. O estado de emergência foi declarado na última quinta-feira, dia 15, e a decisão dos responsáveis sérvios em suspender o campeonato surgiu no dia seguinte.

Ficaram por disputar, desde logo, a 29ª e penúltima jornada (que estava marcada para dia 17) e, também, a 30ª e última ronda (prevista para esta quarta-feira dia 21). A suspensão caiu precisamente quando o Estrela Vermelha pode garantir o título de campeão. A equipa de Belgrado está no primeiro lugar com três pontos de vantagem sobre o rival da capital Partizan e tem vantagem no confronto direto (perdeu 1-2 fora e ganhou 1-0 em casa).

Ora, se o Estrela Vermelha fizer mais pontos no seu jogo com o OFK Belgrado do que o Partizan no encontro com Spartak Subotica há campeão à (próxima) 29ª jornada, com o título a ir para os vermelho e brancos de Belgrado – travando a série de seis títulos consecutivos de campeão para o outro grande emblema da capital sérvia.



É este cenário que está, assim, em stand by até que volte a jogar-se o principal campeonato de futebol da Sérvia. O diretor da SuperLiga foi apelando aos clubes para que continuassem a treinar porque iriam jogar. A data para o próximo ato ficou agora marcada para este sábado que vem.

O anúncio foi feito pela federação sérvia nesta terça-feira, dia em que o país ficou também a saber que a partir desta quarta-feira vão cumprir-se três dias de luto nacional pela catástrofe que assolou o país. O luto termina na sexta-feira. O futebol voltará no dia seguinte.

Como foi impossível dissociar a dimensão humanitária da tragédia quando se lançou o tema em concreto da suspensão da Superliga sérvia, também – como num sentido inverso – as pessoas do desporto não deixaram de fazer uso da sua notoriedade para tentar ajudar as centenas de milhares de vítimas que ficaram sem nada.

O caudal dos rios parece estar agora a baixar um pouco. Mas a rápida subida das águas após três dias de chuva intensa como nunca antes visto deu desde logo a dimensão da tragédia que estava acontecer. Os jogadores do Estrela Vermelha tiveram o seu jogo do título adiado. E foi nesse mesmo dia que se dispuseram estar em Sabac em funções de proteção civil. Acabaram por ficar a ajudar em Belgrado devido à quantidade de voluntários já em ação numa das povoações mais afetadas pela subida das águas do rio Sava.

A campanha de ajuda pedida por Novak Djokovic acabou por ser das mais divulgadas mundialmente; quer pela dimensão desportiva que o sérvio tem, quer pelo impacto que as suas palavras tiveram.




Nole, que no Twitter se fez acompanhar pelo companheiro de equipa da Sérvia na Taça Davis Nenad Zimonjic, fez também acompanhar os seus apelos de uma grande dimensão mediática. Não só mostrando esta mesma faixa na meia-final do Masters de Roma, como dedicando logo essa vitória ao seu «povo» - e no tradicional autografar da câmara de televisão à saída do court, Djokovic escreveu em cirílico «Amo-vos».

Mas aproveitou ainda mais a sua dimensão de ex-nº1 do ténis mundial ao instar os media de alcance mundial como a «BBC» e a «CNN» a não ignorarem uma «catástrofe de proporções bíblicas». Ganho o torneio de Roma, o nº2 do ranking ATP não só voltou a fazer a mesma dedicatória, como doou os cerca de 550 mil euros do prize-money às vítimas.

Em Portugal, o apelo dos desportistas foi bem visível nas t-shirts que os sérvios do Benfica Markovic e Fejsa vestiram quando foram levantar a Taça de Portugal ganha neste domingo no Jamor. «Rezem pela Bósnia e pela Sérvia», foi a sua mensagem.



Mas o futebol, como as pessoas – e por isso mesmo – é muitas vezes utilizado também no sentido inverso. E se a destruição causada pelas cheias na Bósnia tem sido comparada à destruição causada pela guerra de 1992-95, esse conflito ainda tem muitas feridas abertas. E foi no futebol e com uma catástrofe natural como móbil que os albaneses adeptos do Drenica (num jogo com o Pristina) mostraram o seu ódio pelos sérvios: «Rezem pela Bósnia, morte à Sérvia».