Há um dia, por esta hora, não seriam muitos os adeptos do F.C. Porto capazes de identificar à primeira Sinan Bolat, o reforço surpresa que o clube apresentou esta terça-feira. Apesar de ter 24 anos e uma carreira de relativo sucesso na Bélgica, Bolat já viveu momentos de maior fulgor. Portugal poderá ser, por isso, o palco para renascer.

A história de Sinan Bolat não é, de resto, muito diferente da de muitos emigrantes turcos que se deslocam para a região da Bélgica e Holanda. O ponto de diferenciação é mesmo o talento para o futebol, que lhe serviu para fugir a uma vida que, muito provavelmente, ira ter muito...kebab.

Filho de pais turcos, Bolat chegou à Bélgica ainda criança e foi neste seu segundo país que viveu praticamente toda a infância e o tempo que se seguiu.

O seu pai veio para a zona de Limburg para trabalhar nas minas. Mas o encerramento do seu posto de trabalho, na década de 70, levou-o a apostar num mercado deveras diferente: um restaurante de kebab, comida tradicional na Turquia.

A ideia não era, de todo, original. Na região havia vários restaurantes e a família Bolat mudou-se, por isso, para as imediações de Antuérpia, onde abriu o restaurante. Hoje é o irmão mais velho do reforço portista quem está ao comando.

«Ele é aquilo a que na Bélgica chamam: filho dos kebab. O talento para o futebol é que o afastou deste ramo, se não era muito provável que estivesse, ainda hoje, a ajudar o irmão», explica-nos Bart Laggae, jornalista belga que conhece bem a carreira do reforço portista.

No futebol, Bolat começou por ser médio. Quem lhe gaba o jogo de pés lembra que essa incursão inicial ajudou a desenvolver esse aspeto. A carreira teve início no Genk, equipa com tradição de bons guarda-redes na Bélgica. Veja-se Thibaut Courtouis, atual titular da seleção, por exemplo.

Em 2008, com 20 anos, veio a primeira mudança. Kismet Eris, ainda hoje o seu agente, decide levá-lo para o Standard Liège, onde tinha boa relação com o Luciano Donofrio. Leva consigo Benteke, hoje no Aston Villa. O Genk recebeu pouco dinheiro pela venda.

Bolat foi recebendo, então, chamamentos da Turquia, depois de ter decidido que iria ser internacional pelo país dos seus pais. Mas preferiu continuar no Standard, onde se tornou uma das referências da equipa. O golo apontado na Liga dos Campeões, em 2009, foi apenas uma das passagens mais gloriosas.

Um ano sem competir

A fama crescia na Bélgica e Bolat acalentava esperanças de se mudar para um campeonato mais competitivo. Daí a nega aos emblemas turcos. A abrupta saída de Luciano Donofrio do Standard complicou todo o cenário.

E como um mal nunca vem só, chegou uma lesão e consequente paragem. Nesse período mudou-se para o Fulham, que aceitou recebe-lo para recuperar a forma. No final deveria ter assinado pelo Fulham, mas um diferendo com o agente complicou a mudança.

Voltou a Liège, onde a concorrência na baliza era apertada. Foi em janeiro deste ano. Nunca mais voltou a jogar. Está, por isso, há um ano sem competir.

A mudança para Portugal, contudo, não surpreendeu os belgas. «Todos sabem que tem grande talento e é muito bom profissional. É um dos grandes guarda-redes da Bélgica nos últimos anos», garante Bart Laggae.

O desafio, agora, tem dois nomes: Helton e Fabiano. Mas também um objetivo claro: aumentar o curriculum, que conta com uma Liga Belga, duas Taças e duas Supertaças. O pontapé de saída está dado.