O presidente do Sindicato dos Jogadores Profissionais de Futebol (SJPF) responsabiliza sobretudo os clubes "grandes" pela «insustentável» crispação na modalidade. Em declarações à agência Lusa, Joaquim Evangelista lamenta a «ausência de uma liderança forte superior» que os acalme.

«Acho que os três grandes têm uma responsabilidade especial. Os dirigentes, por omissão ou ação, têm sido os principais responsáveis, porque através do seu exemplo podiam, muitas das vezes, ajudar a minimizar os danos. Podiam convocar os adeptos para outro tipo de atitude, mas, infelizmente, o desporto está associado a resultados e isso obviamente traduz-se muitas vezes em constrangimentos para os próprios», apontou.

O presidente da Sindicato de Jogadores defende a existência de um interlocutor desportivo ou politico que sensibilize os dirigentes dos clubes para a mudança. «Se não tivermos liderança, alguém que dê o exemplo, com mais autoridade moral, institucional, no plano desportivo ou político. Estamos num caminho perigoso», advertiu.

E desafia a quem tem responsabilidades no futebol para uma reflexão pessoal. «É um dever de cidadania desportiva ativo. Os dirigentes devem permanentemente cultivar a defesa dos valores desportivos. Sem protagonismos ou vaidades pessoais. Há uma hipocrisia tremenda ao nível do dirigismo e em contradição consigo mesmo porque se comportam de uma maneira e falam de outra», disse.

Mais do que medidas punitivas avulsas, Evangelista defende que a pacificação só pode ser alcançada com um acordo global entre os agentes desportivos. «É impossível alguém por si só mudar um problema que está enraizado. É preciso ter capacidade mobilizadora, dialogar. Pluralismo também do ponto de vista da ação. Uma concertação social de interesses desportivos. Cada um a apregoar as suas virtudes não é um bom caminho», prevê.

Até porque, com todos os episódios de violência no desporto, Portugal vive um «problema cultural», carregado de um particular «sentimento de impunidade».

«Noto que vale tudo no desporto. Sentimento de impunidade. Pouca transparência. Muita opacidade. Muitas dependências e conflitos de interesse. Obviamente isso restringe e limita quem quer fazer. Mesmo dirigentes mais novos que podiam fazer a diferença acabam por ganhar vícios antigos. O futebol tem regredido nos últimos anos, mesmo que o negócio tenha crescido», lamentou.