Se alguém escrever um livro sobre as relações mais estranhas do mundo contemporâneo terá, certamente, de reservar algumas páginas para a amizade entre Dennis Rodman e Kim Jong-un, ditador da Coreira do Norte.

O excêntrico ex-basquetebolista, quase tão famoso pelo que fazia em campo como fora dele, apaixonou-se pela Coreia do Norte desde que, em fevereiro deste ano, se tornou o primeiro norte-americano a conhecer, publicamente, Kim Jong-un. E correu bem. No final, Rodman disse que tinha ganho «um amigo para toda a vida».

Quem achou que o norte-americano estaria a exagerar pode ter-se enganado. Depois dessa primeira visita, realizada para uma demonstração de basquetebol, Rodman voltou. E não foi só uma vez.

Em setembro conheceu a filha de Kim e, agora, abraça um projeto ainda mais ousado: vai ser treinador da seleção local.

«Sim, vou para a Coreia do Norte treinar a equipa local. E vou levar jogadores americanos lá. Vou sim. Vou ser a pessoa mais famosa do mundo, quando vocês vierem os americanos a cumprimentá-los, desejando que portas se possam abrir», afirmou Rodman à Associated Press.

Rodman parte para a Coreia do Norte esta segunda-feira e espera ser recebido de braços abertos por Kim Jong-un, apesar do momento instável que o país vive.

Na última sexta-feira, Jang Song Thaek, tio do ditador e número 2 do regime, foi executado, acusado de «traição à pátria» e de levar «uma vida devassa», caindo nos vícios de jogo e de mulheres. Foi, também, apagado da história do país. Todas as fotografias em que aparecia nos arquivos históricos foram alteradas.

Os analistas internacionais consideram que este é um dos momentos mais difíceis para os norte-coreanos. A instabilidade é tanta que tudo pode acontecer.

Mas nem isso demove Dennis Rodman da sua vontade de continuar a esbater diferenças entre o seu país e o outro, que aprendeu a gostar. Aliás, no passado Rodman já referiu que o basquetebol poderia unir os líderes das duas nações.

«Talvez Barack Obama pudesse pegar no telefone e ligar a Kim Jong-un. São os dois fãs de basquetebol», lembrou. Será suficiente?



A tentativa de suícidio, os cabelos coloridos, as mulheres, o wrestling...

Esta missão que deu a si próprio de tornar-se num embaixador do estreitar de relações entre EUA e Coreia do Norte tem outro capítulo. Dennis Rodman quer levar jogadores da NBA, do passado e do presente, até à Ásia, para uma demonstração. Garante ter, aliás, alguns nomes apalavrados. Mas não os revela.

«Falei com muita gente na semana passada. Muitos dizem ok, vamos a isso. A minha ideia não é ir lá para provar nada. Quero apenas que as pessoas venham porque é uma grande oportunidade de conhecerem uma cultura diferente», explicou.

Rodman considera que há preconceito a mais quando se fala da Coreia do Norte: «Venham ver como é e depois contem o que viram. É por isso que quero levar jogadores da NBA até lá.»

A ideia parece ousada? É Dennis Rodman, no fundo. Falamos de alguém que apareceu vestido de noiva na apresentação da sua autobiografia, dizendo ser bissexual e que queria, por isso, casar consigo próprio. Ao pé disto, visitar a Coreia do Norte neste clima de instabilidade é parece sensato, ou não?

De facto, Rodman, que dividia atenções com Michael Jordan ou Scottie Pippen nos Chicago Bulls de 1996, sempre levou uma vida fora dos padrões comuns.

Descrito como um adolescente tímido passou por uma assumida tentativa de suicídio que o mudou, em 1993. A partir daí adotou o estilo bad-boy e passou a pintar o cabelo com cores garridas, multiplicando ainda as tatuagens e os piercings no corpo.

As mulheres que o acompanhavam também passaram a ser uma imagem de marca. Teve um relacionamento famoso com a ex-«Baywatch» Carmen Electra para além de Madonna.

Em 1996, numa altura em que estava suspenso na NBA, estreou-se numa nova vertente: o wrestling. Apareceu numa edição do Monday Nitro, o programa do género que liderava audiências na altura, ao lado de Hulk Hogan, um dos mais famosos lutadores de todos os tempos. Participou em dois combates, tornou-se membro da stable nWo e...voltou para o basquetebol. Por pouco tempo. Em 2000, já nos Dallas Mavericks, despediu-se da NBA.

Seguiram-se anos com investidas no cinema, regressos ocasionais ao wrestling, problemas conjugais e problemas com álcool que o levaram várias vezes à prisão.

Depois disto tudo, já não parece assim tão descabido que Rodman considere que esta é uma bola altura para viajar para a Coreia do Norte, não é?