Chama-se Donald Sterling e apesar de ser multimilionário nunca deixou de estar ligado à polémica, mas neste fim de semana o proprietário dos Los Angeles Clippers colocou a fasquia demasiado alta e está ser criticado por todos, inclusivamente pelo presidente dos Estados Unidos e pelas principais figuras da NBA.

Numa gravação divulgada pelo site TMZ, Sterling surge a proferir comentários racistas enquanto fala com a namorada, a modelo V. Stiviano, por esta ter publicado na sua conta de Instagram uma foto com Magic Johnson. «Incomoda-me que querias transmitir a tua ligação aos negros. Precisas fazer isso? Podes dormir com eles, podes fazer o que quiseres. A única coisa que te peço é que não promovas isso e que os leves aos meus jogos. Não tens de ter fotos com pessoas negras no teu Instagram asqueroso», ouve-se dizer uma voz masculina, supostamente do milionário. 



Barack Obama foi um dos primeiros a condenar as acusações: «Quando um ignorante fala para demonstrar a sua ignorância, não podemos fazer nada, só deixá-lo falar. Tenho confiança na direção da NBA. Adam Silver é um homem bom e resolverá isto», disse o Presidente dos Estados Unidos, deixando um claro aviso às instituições responsáveis pela gestão da liga profissional de basquetebol.

Magic Johnson, um dos jogadores mais importantes da história da NBA e uma das personalidades mais respeitadas no meio, já reagiu à polémica, dizendo que lamenta pelos seus amigos Doc Rivers e Chris Paul (técnico e jogador dos Clippers respetivamente) por terem de trabalhar com um homem assim e assegurou que nunca mais vai ver um jogo da equipa de Los Angeles enquanto o proprietário for este.




Doc Rivers não gostou do que ouviu. «Não sei se estou surpreendido ou não, mas obviamente ninguém na equipa gostou de ouvir aquilo», disse, enquanto preparava mais um jogo dos play-off, com os Golden State Warriors. Chegou a ser colocada a hipótese de boicote ao jogo, mas a equipa decidiu continuar em competição, como admitiu o técnico: «A melhor resposta que podemos dar como homens, não como homens negros, mas como homens, é ficarmos juntos e mostrar quão fortes somos como grupo. Não escapar. Não desistir. É fácil protestar. O protesto estará no nosso jogo.»

Coincidência ou não, a equipa acabou por perder na deslocação a Oakland (empate na eliminatória 2-2), onde não esteve o proprietário, mas a sua mulher Shelly Sterling, vestida de preto e em apoio constante à equipa. Sem querer prestar declarações, emitiu um comunicado em que disse não acreditar que aqueles comentários racistas sejam verdadeiros.

Durante o aquecimento a equipa protestou virando as camisolas do avesso, ocultando por isso as letras que identificam os Los Angeles Clippers.




Implacável foi LeBron James, estrela dos Miami Heat. «Se as notícias são verdadeiras é inaceitável que isso acontece na nossa liga. Não importa se és branco, negro ou hispânico. Não há espaço para Donald Sterling na NBA. Se o dono da equipa onde jogo dissesse isto teria de falar com os meus colegas e com a minha família para decidir se continuava. Acredito na NBA e espero que alguma coisa seja feita o mais rápido possível», disse.

Mais ponderado foi o comissário Adam Silver, explicando que terá de confirmar que aquela é mesmo a voz de Sterling: «Todos os membros da família NBA devem ter direito de defesa e é por isso que eu ainda não estou preparado para discutir quaisquer eventuais sanções contra Donald Sterling», frisou, considerando, porém, que se tratam de comentários «ofensivos e repugnantes».

Os Clippers anunciaram a abertura de uma investigação independente sobre o caso. Em comunicado oficial, o presidente Andy Roeser referiu que a voz da mulher pode ser de uma outra mulher que tem um processo em tribunal contra a família Sterling. 

A polémica está instalada e os próximos dias serão importantes para perceber o que vai acontecer ao excêntrico dono dos Los Angeles Clippers, enquanto a sua namorada continua a espalhar estilo no instagram.



«Só na América» é uma rubrica do jornalista Filipe Caetano