A qualidade de um treinador pode ver-se em vários aspetos, mas ninguém me tira da cabeça que há um deles que se sobrepõe aos outros: a capacidade de tirar o melhor rendimento dos jogadores.

É claro que não podemos desconsiderar a qualidade de treino, o trabalho tático, a motivação dos atletas, a leitura de jogo, o estudo dos adversários. Tudo isso é sem dúvida importante, mas tudo isso, também, acaba por se refletir numa coisa: a faculdade dos jogadores sentirem que valem mais do que se calhar valem e jogarem a um nível superior.

No fundo é o que torna Leonardo Jardim, por exemplo, tão especial: conseguir rentabilizar individualmente os jogadores e com isso fazer equipas fortes.

Ora olhado para o Benfica, não consegue ignorar-se a evidência de que o primeiro passo de Bruno Lage para fazer a equipa subir um degrau qualitativo passou pelo rendimento individual dos atletas.

Quatro atletas, acima de tudo. Gabriel, Pizzi, Samaris e Seferovic.

Lembrar o que estavam a fazer com Rui Vitória, e o que conseguem jogar agora com Bruno Lage, torna inequívoco o trabalho do atual treinador do Benfica e ajuda a perceber o crescimento da própria equipa.

Pizzi, por exemplo, andava nos últimos tempos escondido, sendo muitas vezes sacrificado quando era preciso mudar alguma coisa na procura do golo. Gabriel criava dúvidas sobre a pertinência do investimento de oito milhões de euros, ele que pouco acrescentava em qualidade. Samaris pura e simplesmente não contava e Seferovic justificava a titularidade, sim, mas não mais do que isso.

Agora voltamos a ver o melhor Pizzi, que decide um clássico no Dragão, conhecemos um Gabriel que recupera bolas, pressiona adversários, faz passes de trinta metros e marca golos, descobrimos um Samaris que segura o meio campo e esbarramos num Seferovic goleador como nunca foi.

É verdade que o Benfica não são só eles, mas de jogadores como João Félix, Rafa ou Ferro poucas referências tínhamos. Por isso não podíamos dizer que não tinham a qualidade que agora vemos.

O que é certo que é Bruno Lage está a tirar o melhor rendimento dos jogadores, naquele que é o primeiro passo para construir um onze forte, que recuperou sete pontos e é agora líder da Liga.

Como o fez? Provavelmente através de um bom trabalho em todos os aspetos que se referiu lá atrás. Um jogador ganha confiança quando sente jogar bem, numa equipa bem trabalhada nos treinos, com conceitos claros e relevantes, para se entregar a um líder em quem confia.

Mas no fim desse trabalho complexo, é olhando para os jogadores que se percebe a qualidade de um treinador. E Bruno Lage, não há dúvidas, está a fazer um trabalho de muita qualidade.