Uma vitória ou dois empates. O Benfica está a dois pontos do título a duas jornadas do fim.

Poderá consegui-lo já sábado, e para isso terá de ultrapassar uma das boas novidades desta Liga: um Vitória de Guimarães a roçar o topo, algo que já não acontecia há algum tempo.

Está longe de ser um jogo fácil, mas será o primeiro match point para a equipa de Rui Vitória e no seu estádio, provavelmente esgotado e decidido a carregar a equipa às costas até final.

Antes de olharmos para o que os rivais não fizeram – e há sempre esse lado da questão –, valerá a pena sublinhar que o Benfica reagiu melhor aos maus momentos do que o FC Porto, o seu concorrente mais direto, reagiu aos bons.

À primeira escorregadela, o empate com o Vitória de Setúbal em casa, o Benfica responde com um triunfo na Choupana frente a um Nacional no qual ainda não se vislumbram os contornos de crise profunda. Depois da derrota nos Barreiros frente ao Marítimo ganha o dérbi com o Sporting. Ao empate a três com o Boavista e à derrota no Bonfim – com goleada ao Tondela e eliminação da Taça da Liga frente ao Moreirense pelo meio – contrapõe com seis triunfos consecutivos, incluindo um em Braga, e só quebra a série na Mata Real. Mais uma vez, a partir desse nulo em Paços de Ferreira só desperdiça pontos no clássico com o FC Porto e no dérbi de Alvalade.

Enquanto o Benfica vê esfumar-se uma boa vantagem, os dragões protagonizam recuperação notável. São nove triunfos seguidos para a Liga, graças ao impulso dado a contratação de Tiquinho Soares, mas aquele que seria o décimo, que valeria passagem para a frente da Liga antes do clássico da Luz, é falhado: empate no Dragão frente ao Vitória de Setúbal.

Precisamente no seu melhor momento, a equipa de Nuno Espírito Santo mostra de novo fragilidade e transmite a mensagem errada ao rival.

Os portistas não voltam a encontrar-se. Na Luz, ainda conseguem empatar, mas depois atrasam-se em Braga e, para cúmulo, não aproveitam logo a seguir o empate no dérbi, fraquejando em casa frente ao Feirense.   

Se os encontros dos encarnados em Moreira de Cónegos e na Luz frente ao Estoril apenas correm bem no que diz respeito ao resultado, a Rui Vitória tem de ser atribuído o mérito de nunca ter deixado a equipa entrar em espiral negativa. No jogo a seguir, a equipa respondeu sempre.

Não tendo sido brilhante, o jogo de Vila do Conde frente a um Rio Ave de grande qualidade trouxe um Benfica intenso e unido, como já tinha sido na primeira parte de Alvalade ou em grande parte do embate com o FC Porto. Quando nada mais funcionou ressurgiu a qualidade dos seus jogadores.

Jonas, Pizzi, Mitroglou. Lindelof, Ederson. Um Cervi fantástico, inesgotável, em Vila do Conde. Um Salvio que definiu bem quando mais importou para a equipa. E Jiménez, que não marcava há muito tempo, logo quando foi chamado ao onze.

O Benfica não chega aqui sem ter sido feliz, sem ter ganho alguns jogos no limite.

O que confirma o que já aqui escrevi: Portugal vai ter um campeão de uma Liga nivelada por baixo, sobretudo no que aos três grandes diz respeito. Se for o a Benfica chegar ao tetra não o fez de forma exuberante, mas foi o menos mau (o que também pode ser lido como todos os outros foram piores). O mais regular.

Se o FC Porto ainda conseguir chegar lá, o que matematicamente ainda é possível, o Benfica terá fraquejado no pior dos momentos. E repete-se tudo o que escrevi o parágrafo anterior.

O campeonato está a acabar e há boas perspetivas de festa na Luz. O momento, a concretizar-se, será histórico, já que o clube nunca festejou antes um tetra. No entanto, mesmo que se concretize será importante para quem prepara o que aí vem reconhecer que, desta vez, o FC Porto esteve muito perto, como antes esteve o Sporting.

Antecipando nova possível debandada de jogadores nucleares, haverá certamente muito que pensar durante o verão. Logo depois da festa.

P.S. A ideia de campeonato nivelado por baixo retrata sobretudo os três grandes. Apesar de ter tido um Sporting de Braga abaixo do esperado, esta foi também a Liga que mostrou um Vitória de Guimarães de grande qualidade, um Marítimo consistente, um Rio Ave a jogar muito bem à bola e um Chaves que, a espaços, foi bastante interessante. Se a estes clubes somarmos um Estoril renascido com Pedro Emanuel, não há como não ter esperança de que venhamos a ter um campeonato ainda melhor a partir de agosto.