2017 foi mais um ano, não o primeiro e certamente não o último, de afirmação do treinador português como um dos mais bem preparados no contexto europeu. Se Leonardo Jardim foi o expoente máximo dessa ideia, com resultados bem acima dos esperados, não só em França mas também na Liga dos Campeões, há que destacar ainda os feitos de Paulo Fonseca no renascimento do Shakhtar, de Marco Silva num Watford de escassa matéria-prima e com um excelente arranque na nova temporada, e do próprio Nuno Espírito Santo, a reagir muito bem à saída do Dragão e a tornar o Wolverhampton o grande candidato à subida.  

Se a isto somarmos a fome que José Mourinho mantém por títulos, com uma Taça da Liga e a Liga Europa conquistadas, e até a boa impressão que Carlos Carvalhal deixou no Championship ao ponto de lhe ser entregue a missão espinhosa de salvar o Swansea da descida, temos ainda mais provas de que o técnico português está bem e recomenda-se, e particularmente na maior liga do mundo.

(Faço aqui um parentêsis sobre Mourinho. O Manchester United atravessa um período de maior instabilidade, mas tem tudo para terminar como segunda melhor equipa atrás do rival City. Se isso acontecer em maio confirmar-se-iam os sintomas de recuperação, já que nas últimas temporadas foi apenas 7º, 4º, 5º e 6º classificado. O que se aponta aos Red Devils é uma mais fraca qualidade de jogo, e um plantel ainda desequilibrado, com o português a não conseguir apagar da cabeça das pessoas os 105 milhões pagos por Pogba, que está longe de ter adquirido influência desse volume na equipa. Mou também não tem ajudado nos encontros com a imprensa. Critica os jogadores quando corre mal, algo raro no início da carreira, ou os árbitros, e agora acusa o City e Guardiola de um orçamento bem maior. É verdade, perde por cerca de 113 milhões – 463M vs 350M em duas épocas –, mas também gastou pior e joga bem pior, em contraste com uma ideia clara de jogo e de domínio territorial sobre os adversários.)

Portugal vai estar em nova fase final, e a defender o estatuto de campeão europeu. Conseguiu-o na última jornada, depois de um arranque em falso na Suíça, mas foi a tempo de confirmar ser a melhor equipa do grupo e candidato a um lugar de destaque na Rússia. A Seleção partirá para Mundial com expetativas justificadas, face à qualidade que foi angariando e consolidando nos últimos anos, e depois de num ou outro momento da qualificação ter provado que tem mais futebol do que o que tem demonstrado.

Um Cristiano Ronaldo a manter-se no topo, com Lionel Messi sempre por perto. A discussão vai continuar sobre quem é o melhor, e isso para aqui pouco interessa. Novos títulos coletivos, entre os quais mais uma Liga dos Campeões, e os maiores prémios individuais, golos atrás de golos, muitos deles decisivos, e a garantia de que o próprio está longe sequer de antecipar o fim. A Pulga salvou a Argentina no limite, Cristiano foi importante na caminhada de Portugal, e haverá também Neymar na Rússia, com um Brasil de novo candidato, reequilibrado por Tite. Não tenho dúvidas de que o Escrete partirá para o Mundial com uma confiança que não tinha há muito tempo, e com alguma da magia do passado, dada por nomes como Coutinho, Gabriel Jesus, Daniel Alves, Douglas Costa e o tal Neymar, claro.  

Vinga na Liga um futebol de boas ideias, em que se enquadram pelo menos Rio Ave, Portimonense e Desp. Chaves. Boas apostas das direções dos clubes, os treinadores Miguel Cardoso, Vítor Oliveira e Luís Castro têm orquestrado alguns dos melhores momentos do campeonato. Em Vila do Conde, a filosofia parece mais duradoura e menos circunstancial, e é bom sinal que se estenda a outras equipas da prova. Privilegiar a posse de bola e não abdicar do seu processo de jogo mesmo perante equipas com maiores argumentos não é fundamento que se esgote em si mesmo. É preciso organização, e também jogadores que possam colocar em campo essas mesmas ideias com maior facilidade. A ideia tem de ser sustentada. O Rio Ave é, por isso, o melhor exemplo, e tem-se mantido entre as melhores equipas do campeonato. Para já, as três chegam ao inverno sem grandes motivos de aflição.     

Há promessas de um Sp. Braga com margem de crescimento, logo a começar pela boa prestação europeia, que se estendeu a exibições personalizadas na Luz e em Alvalade na segunda metade do ano. Há muito que os minhotos tentam aproximar-se dos grandes, mas só o conseguiram de forma esporádica no célebre ano da luta com o Benfica pelo título, com Domingos Paciência ao leme. Não será ainda muito provavelmente esta época que o conseguirão, mas com processos consolidados depois de um arranque mais trémulo, e com a perspetiva ainda de reforço de um plantel com muita qualidade, poderão estar a ser lançadas as bases para uma nova tentativa em breve. Assim, 2018 o confirme.

Se a primeira metade do ano viu o Benfica chegar com justiça a um inédito tetra, a segunda teve um FC Porto cheio de adrenalina, ainda que condicionado pelo fair-play financeiro, disposto a desafiar o status quo e até a afirmar-se como grande candidato a festejar em maio, nem que seja pelo que mais jogou no embate com os rivais. Para já, os dragões estão em todas as frentes – Liga, Liga dos Campeões, Taça de Portugal e Taça da Liga – e o mérito tem de ir todo para o novo treinador Sérgio Conceição. O Sporting mantém a ambição, e com a investida confirmada no mercado em janeiro, faz novo all-in para 2018. O plantel tem inúmeras soluções, mantém referências e, para já, está a par dos dragões. Os encarnados já perderam tudo menos a Liga, e precisam de tempo e até de jogadores para o novo modelo, mas continuam por perto. O dérbi será muito importante para o que aí vem.

Duas super-equipas, contruídas com muito dinheiro. Se olharmos apenas para o lado desportivo – esquecendo por momentos as questões relacionados com o fair-play financeiro –, e colocando de parte a falta de equilíbrio que tal origina nos campeonatos locais, é um prazer assistir ao que Manchester City e Paris Saint-Germain são capazes de colocar em campo. No caso dos ingleses, há que somar à qualidade importada o fator-Guardiola. Se internamente já se percebem as diferenças há várias semanas, o maior desafio será agora a nível continental, com o campeão em título Real Madrid – que terá já pela frente os franceses –, Barcelona e eventualmente Bayern Munique e Juventus a terem mais rivais com que lutar pela glória na Champions.

Kevin de Bruyne. A grande figura de um Manchester City de luxo. O belga está, aos 26 anos, no melhor momento da carreira, soma golos e assistências, com a posição mais recuada em campo, como eventual número 8, a beneficiar a fantástica visão periférica de que dispõe. Ele vê tudo, disse Guardiola quando chegou, e tem razão. Dispensado do Chelsea por Mourinho foi afirmando-se no Wolfsburgo até ser recuperado pelos Citizens, ainda de Manuel Pellegrini, a troco de 75 milhões de euros. Claramente o melhor jogador da primeira metade da época, e responsável em grande parte pela produtividade de Agüero, Gabriel Jesus, Sterling e Leroy Sané. Que craque!

Nas modalidades, Miguel Oliveira em Moto2, Frederico Morais no surf, Inês Henriques na marcha, e os já catedráticos Telma Monteiro, Nélson Évora, Fernando Pimenta e Patrícia Mamona deixam também excelentes indicações para o próximo ano.