Não sei se também lhe aconteceu, leitor, mas quando João Almeida cruzou a meta eu devia estar com a pulsação acima de cem batimentos. Não saí do sofá, é certo, mas fiz um esforço terrível.

O que é normal.

João Almeida é daqueles portugueses que tem a rara faculdade de nos arrastar com ele. Quando sofre, naquela cara de esforço, com a língua de fora e a respiração ofegante, não sofre sozinho: sofremos todos com ele.

João Almeida é um herói. O que ele fez não foi apenas histórico: foi épico.

O ciclista de A-dos-Francos transformou a etapa numa epopeia e foi ao fundo da alma buscar a força que nós sabemos que é nossa quando a vemos: a força com que Gil Eanes dobrou o Cabo Bojador, a força com que D. Pedro libertou o Porto do cerco dos absolutistas, a força com que o Marquês de Pombal reconstruiu Lisboa depois do terramoto de 1755.

Tal como nos momentos mais memoráveis, a força de Portugal esteve com João Almeida. Afinal ele traz nos genes o que de melhor nós temos: a força, a determinação, a capacidade de sofrer.

Não sabemos até quando o ciclista vai segurar a camisola rosa. Viu-se no domingo que lhe falta quem o ajude: no fundo ele corre sozinho, num assomo de coragem invulgar.

Não sabemos até quando vai segurar a rosa, dizia-se, mas também isso não importa. Sabemos, com a certeza absoluta, que vai segurá-la até ao limite do impossível. Nós, claro, vamos estar ao lado dele, a sofrer com ele. Porque João Almeida é tudo o que nós temos de melhor.

Vamos juntos, campeão.