Jorge Jesus assumiu que está diferente e, em boa verdade, as últimas declarações no Brasil já apontavam nesse sentido: falava mais na primeira pessoa do plural, mencionava frequentemente a equipa técnica e atribuía várias vezes o mérito das vitórias aos jogadores.

O treinador pode, por isso, ter alterado a perspetiva com que olha para as coisas. Já a gestão das expetativas, essa, permanece igual. O que é uma excelente notícia para o Benfica.

Se não, veja-se.

Na apresentação, por exemplo, Jorge Jesus disse que «jogar o dobro não chega, o Benfica vai jogar o triplo», garantiu que é «muito mais treinador do que era» quando saiu da Luz e reclamou que não está habituado a ganhar o campeonato, está habituado «a ganhar tudo».

«Não tenham dúvidas: vamos fazer uma grande equipa e vamos arrasar.»

Ora isto, meus senhores, é Jorge Jesus. Podia ser mais cauteloso e apostar num discurso mais conservador, mas aí não estaria a ser ele. Ele é assim: não sabe jogar com expetativas moderadas.

O Benfica, sabe-se depois disto, não ficará satisfeito em ser bom ou ser bonzinho. O Benfica vai ter de ser espetacular. Vai atirar lá para cima, tão alto como os sonhos possam chegar.

Para uma equipa não haverá maior motivação que essa.

Jorge Jesus é assim: chega e agita as coisas. Grita, esperneia e desassossega. Podia ser como os outros, podia ser razoável e politicamente correto.

Era seguramente muito mais cómodo e barato. Não haveria tanta cobrança, tantas críticas, tantos olhares. Provavelmente também não haveria tanta gente a querer que ele falhasse.

Mas não se chega ao céu com os pés presos na terra. E Jorge Jesus não tem medo de voar.