Confesso que não entendo as pessoas que olham para este Mundial e descobrem o melhor de sempre.

Como muito bem explicou o Nuno Madureira, o melhor Mundial de sempre é aquele que nos acontece ali pelos 14 anosÉ provável que não existam estudos suficientes sobre isto, mas estou convencido de que apenas por essa idade dispomos de tudo o que é preciso para viver um Mundial. E neste tudo incluo como primeiros ingredientes tempo, disponibilidade mental e total ausência de cinismo. Além da óbvia paixão pelo jogo e pelo que é novo.

Claro que o melhor de sempre aconteceu em Espanha, em 1982. 

Mas sim, este também não foi nada mau. 

Um Mundial não se faz sem heróis. Tivemos vários, talvez um acima de todos os outros: Gary Medel, o chileno que jogou todo ligado e cujo esforço foi tão intenso que lhe valeu uma condecoração do exército.

Também houve um super-herói, o guarda-redes norte-americano Tim Howard, que manteve equilibrado o jogo entre Estados Unidos e Bélgica, nos oitavos de final.

Houve também revelações. James foi a maior de todas. O mundo começou por reparar no colombiano há um ano, por causa do preço, o que não é exatamente simpático. Nós conhecíamos-lhe o valor, mas duvido que esperássemos semelhante capacidade para liderar uma seleção que, não o esqueçamos, tinha perdido a referência uns meses antes. Qualidade sim, claro. Mas aquilo foi muito mais do que isso, foi toda uma nova dimensão de James Rodriguez.

Alguns momentos dividiram o mundo e dominaram todas as conversas. Como aquele em que Van Gaal decidiu substituir o guarda-redes e pedir a Krul que enfrentasse as grandes penalidades. Por falar na baliza, a ideia alemã de fazer jogar a central o tipo que usa luvas não foi exatamente nova, mas Low levou-a mais longe (e não, não estou a esquecer-me de Higuita, só acho que é uma coisa um pouco diferente...).

Houve também um jogo que nunca esqueceremos, aquele jogo sobre o qual se escreverão livros: o Brasil-Alemanha, o mundo tão parado de espanto como a equipa de Scolari.

Deste Mundial resultaram também factos. Pela primeira vez uma seleção europeia ganhou na América. Klose passou a ser o melhor marcador. A Alemanha passou a ser a seleção com mais golos em Campeonatos do Mundo, o que faz sentido. O campeão anterior, a Espanha, tombou com um estrondo nunca visto e mais uma vez o melhor jogador do planeta, Cristiano Ronaldo, foi uma figura sem brilho numa história tão maior do que ele.

Este Mundial também teve Portugal, mas este mês foi tão intenso que a triste figura da seleção depressa adquiriu a dimensão que de facto merece: uma nota de rodapé.

Tivemos reviravoltas, surpresas, um dos melhores do mundo acabou expulso por morder num adversário. Houve pequenos que demonstraram coragem, seleções organizadas, exemplos encantadores de amor à camisola. Costa Rica e Argélia, sem dúvida, mas também os Estados Unidos. 

Discutimos erros de arbitragem, saltámos impusionados por grandes golos e nem sequer faltaram os «cromos» nas bancadas, um clássico nas grandes competições desportivas dos tempos modernos. Os que nunca apreciarão a Itália puderam rir e os que desconfiam sempre da Inglaterra mais uma vez tiveram razão. 

Quase não houve violência e apesar de termos sentido a falta de grandes jogos nos quartos de final, a qualidade média do futebol que se jogou no Brasil foi boa. 

O jogo ficou melhor depois do Campeonato do Mundo e talvez não possa haver elogio maior.

Pensando nisto só mais um bocadinho antes de voltar às férias, este deve ter sido um Mundial muito bom para viver com 14 anos.