Cinquenta anos. O Sp. Braga volta a conquistar uma Taça de Portugal 50 anos depois. Pela espera, pelo crescimento a nível de resultados nos últimos anos, por ter sido protagonista e vencido o melhor jogo da competição esta época, por ter resistido emocionalmente à perda da vantagem na final, a um prolongamento e aos penáltis, com ameaça da repetição da história recente, e pelo que aconteceu há um ano no Jamor, merece.

Mais do que pela exibição que fez.

Não concordo com José Peseiro. Nenhum treinador pode achar injusta uma derrota, neste caso apenas no desempate dos 11 metros, quando a sua equipa comete tantos erros – não forçados, se quisermos adaptar a terminologia do ténis – e é penalizada por duas vezes. Mesmo que depois venha daí uma avalanche de futebol ofensivo e de filigrana – o que não foi o caso – nunca se poderá queixar.

Os minhotos tiveram um percurso irrepreensível. Académico de Viseu, Farense, os oitavos de final loucos com o Sporting (4-3 após prolongamento no Minho, numa das melhores partidas de toda a temporada), Arouca e Rio Ave antes de pisarem o Jamor. Depois de uma época em que apresentaram momentos de brilhantismo esperava-se mais.

Não se viu do Sp. Braga grande vontade de atacar. As saídas para o ataque, em transições rápidas não passaram o intervalo, e já tinham sido fugazes antes do descanso. Também não defendeu sólido como um rochedo, embora tenha conseguido maniatar durante 45 minutos uma equipa sem ideias como era a portista, com uma linha defensiva subida e blocos muito compactos. Os erros foram aparecendo, sem grande provocação, e isso bastou-lhes.

Podia não ter bastado, claro.

O FC Porto conseguiu empatar no prolongamento, e a decisão foi novamente para penáltis, como há um ano frente ao Sporting. Foi aí que se mostrou competente, e não vacilou, conquistando o troféu. Foi aí, nesse momento emocionalmente tão instável, que provou que merecia novamente o caneco que Miguel Perrichon tinha conquistado para a cidade em 1966, com o consequente apuramento inédito para uma prova europeia, a Taça das Taças.

Este Sp. Braga fez por merecer a Taça mais pelo passado recente do que pelo que fez no Estádio Nacional. Com o segundo lugar na Liga em 2010, o terceiro em 2011/12, e os quartos de 2010/11, 12/13, 14/15 e 15/16. Com a final perdida na Liga Europa em 2011, depois de ter falhado à justa o apuramento para os oitavos da Liga dos Campeões, num grupo em que chegou a bater o Arsenal na Pedreira – pelo caminho eliminou Liverpool, Dínamo Kiev e o Benfica, antes de ser derrotado em Dublin pelo FC Porto com um golo de Falcao. A Taça da Liga de 2012/13 seria sempre escasso para um emblema que tanto tinha progredido.

Paulo Fonseca também merece. Mais um excelente trabalho, a lembrar a qualidade que vem mostrando há já algum tempo e que apenas não estava maturada o suficiente na altura em que entrou no clube que agora derrotou. 

Rafa, pela época, sem dúvida. A época mais consistente da carreira tê-lo-á colocado certamente à beira do salto.

A Taça vai servir de afirmação dos bracarenses como quarta maior força do futebol nacional. E dizermos que não esteve tão bem como antes numa final que acabou por vencer só pode ser bom sinal para o futuro. Um sinal claro de que não atingiu ainda todo o seu potencial.

LUÍS MATEUS é subdiretor do Maisfutebol e pode segui-lo no TWITTER. Além do espaço «Sobe e Desce», é ainda responsável pelas crónicas «Era Capaz de Viver na Bombonera» e «Não crucifiquem mais o Barbosa» e pela rubrica «Anatomia de um Jogo».