Três jogos até ao fim, e muito importantes para quem luta ainda por objetivos na Liga, sejam o título, a Europa ou a permanência. Só que, mesmo a esses três intensos encontros do fim, é possível olhar para trás e fazer contas, não sem risco, àquele que será o 11 do campeonato. Uma escolha subjetiva, e não apenas estatística, e que originará sempre discussão*. É esse exercício que faço hoje.

Época muito segura de Patrício.

Na baliza, haverá a primeira batalha de argumentos. Ederson termina a época com uma aura que se poderá prolongar pelo próximo ano, depois de Júlio César ter segurado o Benfica à tona naquele arranque mais titubeante. Também Rafael Bracali, talvez o maior competidor pelo número 1 deste onze ideal, atravessa uma temporada entusiasmante, com defesas incríveis num Arouca surpreendente e a lutar por lugares europeus. No entanto, RUI PATRÍCIO foi sempre um porto seguro para o Sporting, mostrando regularidade, consistência e defesas decisivas ao longo de uma época sempre prego-a-fundo, no limite, a levar a questão título até ao fim.

Nas laterais, MAXI PEREIRA e LAYÚN são praticamente indiscutíveis face ao contributo ofensivo que acrescentaram ao seu primeiro papel, o defensivo, nesta época do FC Porto. 14 assistências e três golos do mexicano e os sete passes decisivos e um golo do uruguaio são registo de destaque, que não terão igual em nenhuma das outras equipas. A ajudar também estará a divisão de jogos entre João Pereira, Esgaio e Schelotto à direita, e Jefferson, Zeegelaar, Jonathan Silva e Bruno César à esquerda em Alvalade, bem como a lesão de Nélson Semedo e a afirmação de André Almeida, além de uma época regular, mas com pouca inclinação ofensiva de Eliseu.

A exemplo do que aconteceu nas laterais, as zonas centrais das principais defesas foram muito fustigadas por lesões. Jorge Jesus experimentou várias duplas e muitos nomes, como Ewerton, Paulo Oliveira, Tobias Figueiredo, Naldo, Rúben Semendo e Coates, com o uruguaio a ser fundamental na melhoria da segurança leonina. Na Luz, apenas um nome corre a época de início ao fim, o que somado à qualidade e regularidade que sempre apresentou fazem dele um dos donos do lugar: JARDEL. Luisão lesionou-se, chegou Lisandro convenceu e lesionou-se, agora joga LINDELOF, que se tem mostrado a um nível fantástico. No Dragão, não foi um ano fácil e depressa Maicon, que já não lá mora, Indi, Marcano e o jovem Chidozie mostraram não ter capacidade para já para entrar na luta. Hugo Basto, no Arouca, é um dos que merece menção honrosa, por uma temporada bem acima da média. Tudo somado, a escolha seria entre Lindelof e Coates, com o sueco a ganhar a referência por bater todas as expetativas, mas com direito a photofinish.

Layún é rei das assistências a três jornadas do fim.

Como médio-defensivo, e numa época bem abaixo do esperado de William Carvalho, fico com DANILO, dos poucos que escaparam ao desabar portista. Fejsa chegou forte, mas um pouco tarde para entrar na discussão, Vukcevic também merece ser sublinhado pela qualidade que acrescentou ao miolo bracarense, embora não encaixe muito bem como trinco, apesar de ser o mais recuado da dupla talvez mais eficaz no Minho, formada com Luiz Carlos.

À sua frente, ADRIEN. O médio do Sporting protagonizou uma época de intensidade absurda, obrigado a isso também pela quebra de William. Oito golos, quatro de penálti, e quatro assistências não explicam tudo aquilo que foi o dínamo leonino ao longo de todas estas jornadas. Claramente melhor a reagir à pressão alta imposta pelos rivais, e com uma grande disponibilidade física e vontade para chegar à baliza contrária, muito do bom do que a sua equipa fez chegou por influência do seu capitão por decreto, que usa a braçadeira por vontade do treinador, mais confortável com uma referência mais à frente em detrimento de Rui Patrício. Renato Sanches foi fundamental no renascer do Benfica, Herrera acabou por aparecer aqui e ali em alguns momentos do FC Porto, Andrezinho integra bem também um bom Paços, Carlos Martins somou nove assistências sem jogar grande parte dos jogos do Belenenses, pelo qual também se destacou Bakic, Otavinho marcou a diferença no Vitória Guimarães. Nenhum chegou perto de Adrien.

À direita, JOÃO MÁRIO. Podia ser Pizzi, pelo que significou na época encarnada a partir do momento que começou a ser visto como interior direito, mas o médio do Sporting prolongou-se por toda a temporada e merece o lugar. Pinceladas de classe em muitos jogos, sete assistências, seis golos, e toda a inteligência ao serviço de Jesus. Grande performance! Uma nota ainda para Pedro Santos e Iuri Medeiros, dois bons nomes portugueses em destaque nas equipas de Paulo Fonseca e Miguel Leal, e ambos com bom faro para o golo: sete.

Do outro lado, talvez a decisão mais difícil. Bryan Ruiz fez uma grande primeira metade de temporada mas diluiu-se um pouco, Nico Gaitán foi surgindo, a espaços, com a magia de sempre, e somou já 13 assistências. Rafa foi MVP do Sporting Braga em várias partidas. Brahimi, apesar de muito irregular, esteve em alguns altos do FC Porto. Mas se há rendimento que salta à vista é o de DIOGO JOTA, já contratado pelo Atletico Madrid, com 12 golos marcados e quatro assistências. Claramente o melhor jogador de um Paços tranquilo, que chegou a ter uma forte candidatura à Europa, e senhor de belos golos, como o marcado ao Benfica, na Mata Real. Um caso-sério.

Diogo Jota tem sido um caso sério na Mata Real.

À frente, JONAS e SLIMANI, melhores marcadores das respetivas equipas, e não só. Números à parte, ninguém pode ficar indiferente à classe do primeiro, melhor jogador da Liga até agora, e a força move-montanhas do segundo. O brasileiro, com 30 remates certeiros, assinou ainda 11 passes fatais para companheiros. O argelino marcou 24 e assistiu duas vezes. Mitroglou foi fundamental nos encarnados (18 golos) com golos fundamentais como o de Alvalade, Aboubakar chegou a ameaçar entrar na luta (13) mas viveu um apagão comprometedor, Bruno Moreira (14) e André Claro (12) foram os melhores portugueses. Bonatini (15) promete voos mais altos.

Jonas foi o melhor jogador do campeonato até agora.

Para um campeonato com pouca qualidade, nada mal não acham?

* Poderá obviamente debater este onze na caixa de comentários por baixo deste artigo de opinião ou mesmo diretamente com o autor, através do Twitter.


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LUÍS MATEUS é subdiretor do Maisfutebol e pode segui-lo no TWITTER. Além do espaço «Sobe e Desce», é ainda responsável pelas crónicas «Era Capaz de Viver na Bombonera» e «Não crucifiquem mais o Barbosa» e pela rubrica «Anatomia de um Jogo».