Há ideias que tendemos a aceitar com demasiada facilidade.

Nos últimos anos concordámos todos que o campo de recrutamento da seleção principal era escasso. Não havia novos valores, chorámos.

Paulo Bento foi-nos dando razão, sempre pouco convicto quando se tratou de abrir o grupo, apostar em algum sem grande passado na seleção. Chegámos ao Mundial 2014 e foi o que se viu: o selecionador fez jogar os do costume e o país indignou-se. Então e os novos, nada?!, perguntou-se.

Em setembro perceberemos que espaços abrirá o selecionador, agora que o país está desejoso de caras novas, e mais disponível para apostas e riscos.

Enquanto setembro não chega, alegremo-nos com o que a seleção sub-19 anda a fazer no Europeu. Se lhe juntarmos o trabalho dos sub-21 de Rui Jorge acho que podemos concluir que em breve seremos obrigados a alterar o discurso.

Já sabemos que isto nunca partirá dos dirigentes dos clubes, nem sequer dos treinadores. A Liga não existe e a Federação, além do que faz nas seleções (e é muito, claro), não consegue encontrar um discurso forte sobre o tema. Restam os próprios jogadores, sempre preocupados com outras coisas, e os adeptos. 

O leitor, provavelmente também adepto de um clube, perguntará: nós? A resposta é simples: sim, vocês. Apoiando os jovens da casa, compreendendo que se aposta num miúdo dando-lhe minutos e desenhando um plano de carreira consistente. Aplaudindo-o quando precisa, pressionando os dirigentes para que façam escolhas coerentes.

Na semana passada ficámos a saber que o FC Porto deixou sair uma das suas referências da formação nos últimos anos. Deixa o Dragão, onde nunca foi aposta, e vai jogar para a Bélgica. Na entrevista que deu ao Maisfutebol, Tiago Ferreira indicou diversos nomes de qualidade formados no clube. Um deles o avançado André Silva, autor de quatro golos da seleção sub-19 na partida de Portugal frente à Hungria. Esperemos que tenha melhor sorte. Mas esperemos sentados.

[artigo original: 23h13]