O jogador do Sporting Luís Maximiano confessou, esta segunda-feira, em tribunal, que teve medo, quando um grupo de encapuzados invadiu a Academia de Alcochete, em maio de 2018. 

Estava a dar os primeiros passos na equipa. Era um sonho. Fiquei assustado com o que podia acontecer a seguir."

Na décima sessão do julgamento da invasão à academia leonina, em 15 de maio de 2018, com 44 arguidos e que decorre no Tribunal de Monsanto, em Lisboa, Max, como é conhecido, testemunhou por videoconferência, a partir do Tribunal do Montijo, a pedido do Sporting, assistente no processo, por “questões psicológicas”. 

Mandaram me para dentro do balneário, porque estava gente a entrar. Lembro me do Vasco Fernandes [secretário técnico] tentar fechar as portas, mas forçaram e entraram com máscaras.” 

O jogador disse que, naquele momento, “não houve conversas”. “Da minha parte não aconteceu nada. Não tive reação”, contou, acrescentando que foram em direção a Rui patrício, Battaglia, Montero, William Carvalho, Acuña e Misic. 

Fiquei tão bloqueado, atrapalhado que fiquei sem reação. Houve pânico e muita confusão. Entraram e começamos a perceber que era algo mais grave”, explicou o guarda-redes, de 20 anos, acrescentando que no interior do vestiário “estava praticamente todo o plantel” e que o holandês Bas Dost se encontrava no corredor.

Maximiano contou que viu as agressões aos colegas com cinto, garrafões de água, murros e pontapés. O jogador conta que William e Rui Patrício foram agredidos com murros. Battaglia levou com um garrafão e Montero levou com um estalo na cara. Misic levou com um cinto. O Acuña levou pontapés de duas ou três pessoas. 

A última tocha foi atirada em direção ao Mário Monteiro e atingiu-o na barriga.”

Maximiano diz que viu os agressores encapuzados "em cima" de Rui Patrício, a dizerem que "ele não merecia vestir a camisola". 

O jovem afirmou ao coletivo de juízes, presidido por Sílvia Pires, ter ouvido uma frase dita por um dos elementos: “ou ganham no domingo [a Taça] ou vocês vão ver.”

Luís Maximiano disse ter estado presente numa reunião de 14 de maio de 2018, véspera do ataque, entre o plantel e elementos do Conselho de Administração, incluindo o então presidente Bruno de Carvalho.

O guarda-redes contou que Bruno de Carvalho disse que tinham “acontecido algumas coisas com a claque” na Madeira, após a derrota com o Marítimo, por 2-1, no domingo antes, 13 de maio, que afastou os ‘leões’ da Liga dos Campeões.

Nessa reunião o então presidente do clube disse que era preciso “proteger a equipa, que estava com o plantel e que era preciso resolver essa situação”, aludindo ao episódio de trocas de palavras entre alguns jogadores e elementos da claque Juventude Leonina, no Aeroporto da Madeira, com enfoque no jogador Acuna.

Max indicou que Bruno de Carvalho disse que tinha falado com o “chefe da claque, que não era uma situação fácil”, mas que a mesma teria de ser resolvida “em família”, reportando-se a ele próprio e ao plantel.

O julgamento prossegue na tarde desta segunda-feira, com as inquirições de Wendel e Jeremy Mathieu.

Miguel Coutinho, advogado do Sporting, clube que se constituiu assistente do processo, requereu que oito dos futebolistas que ainda se mantêm no atual plantel fossem inquiridos através de videoconferência, invocando razões de ordem psicológica.

O coletivo de juízes acedeu ao pedido e Wendel, Mathieu, Acuña, Battaglia, Luís Maximiano, Coates, Ristovski e Bruno Fernandes vão então prestar declarações por videoconferência.