Percebo perfeitamente o que Jesualdo Ferreira quis dizer na conferência de imprensa desta terça-feira, quando falou no estado da discussão no futebol português.
Mas a última coisa de que um treinador português pode acusar os jornalistas que tratam o desporto é que discutem o acessório quando discutem futebol.
Por uma razão simples: os treinadores, sobretudo os que trabalham em clubes de topo, estão entre as figuras públicas menos disponíveis.
Piores do que eles só mesmo os jogadores.
Não é justo que Jesualdo Ferreira fale nas «15 horas semanais de programas na TV» e depois não esteja disponível para estar em nenhuma dessas horas. Simplesmente não é justo.
Também não é justo que os treinadores se queixem de que a discussão sobre o jogo é fraca. Claro que é. Todos eles, de uma forma ou de outra, colocam os árbitros no ponto de mira.
Vou repetir. Todos.
Uns antes dos jogos. Outros durante. A maioria depois, quando perdem.
Ao levar a conversa para a arbitragem, os treinadores distraem os adeptos e perdem reais oportunidades de discutir o jogo.
De resto, os treinadores estão entre as pessoas do futebol que vão sossegadamente de férias assim que a bola pára.
Jesualdo tem uma história no futebol português que conheço bem e por isso respeito. Mas é preciso registar que os treinadores, como classe, são o elo mais fraco desta história.
São menos organizados e interventivos do que os jogadores. Têm a aprender com os árbitros e, suprema heresia, há dias em que olho para eles e os noto menos unidos do que os dirigentes.
Dito isto, gostava de convidar Jesualdo Ferreira para uma entrevista no Maisfutebol. Com o tempo que quiser. Em vídeo ou texto. Com o formato que entender: clássico, com perguntas enviadas pelos leitores ou em chat moderado com os adeptos.
Fica feito também um convite para um outro modelo, no Maisfutebol ou no TVI24: discutir a Liga juntamente com Paulo Bento e Quique Flores. Sem perguntas sobre árbitros.
NOTA: além de director do Maisfutebol sou editor de desporto da TVI. Nesta qualidade, fui um dos responsáveis por ter colocado José Mourinho a comentar o Portugal-Espanha, no Euro 2004, para muita gente o melhor comentário que alguma vez ouviram. E em 2008 convidei Jesualdo Ferreira para comentar a abertura do Euro, na Áustria e na Suíça. E edito diversos programas de televisão sobre desporto. Fica feita a declaração de interesses. E sim, gostava de ter mais treinadores e jogadores a falar de bola. Mas se não quiserem também está bem. Não podem é queixar-se.