Nélio Nunes prometeu o Mundo a estes miúdos. Em Portugal, trabalhariam como profissionais, treinariam em grandes clubes, jogariam até nos Distritais de Lisboa com a camisola do Leão da Tribo de Judah Futebol Clube. Tudo em troca de uns milhares de euros. «É uma burla», dizem os jovens.

O Maisfutebol recebeu várias denúncias sobre o tema. Ao longo das últimas semanas, recolheu informações sobre um fluxo migratório com destino prometido, sem retorno. Desde Agosto de 2010, as viagens intensificaram-se. Dezoito jogadores abraçaram o sonho europeu, pagando entre 2.000 a 5.500 euros cada.

Benfica e Porto, miragens de quem passou fome

Através de anúncios difundidos na internet, Nélio Nunes prometia testes em emblemas de primeira. Entretanto, decidiu avançar com a sua própria marca. Num vídeo, o Leão da Tribo da Judah F.C., baseado na Amadora, anuncia um projecto para chegar à Liga em 2014. Impossível, antes de mais. Em contacto com a A.F. Lisboa, o organismo garantiu que não tem qualquer registo deste clube.

Jovens formados, desempregados ou nem isso, deixaram-se cativar pela ambição de jogar na Europa. Endividaram-se, pediram o mesmo à família e fizeram as malas. Para eles, seria uma fortuna com lucro garantido. Afinal, os contratos de representação aludiam a um salário de 1.800 euros por mês.

Nélio Nunes nasceu no Brasil e tem frequência superior. Bem-falante, empreendedor, profundamente católico, apoia-se na religião e transmite a fé aos jovens que partem atrás do sonho. A 8 de Agosto de 2010, já com empresa sediada na Amadora, embarca com o primeiro grupo para Portugal. Eram nove, mas cinco foram barrados no Aeroporto de Madrid.

Renato, Abner, Robson, Jacir, Guilherme, Ronaldo, Thiago O., Renan, Igor, Eduardo, Thiago R., Porfírio, Roni, Douglas, Paulo, Luciano, André e Glaucko. Um plantel cheio de promessas perdidas. Com contratos assinados, a que o Maisfutebol teve acesso, depositaram o seu futuro nas mãos do empresário.

«Profissionais? Nem um jogo fizemos»

O primeiro grupo chegou em Agosto e separou-se em Setembro. Pelo meio, os quatro jogadores treinaram no E. Amadora sem esperanças de ficar, deram umas corridas no Monte da Galega e em parques públicos, viram Nélio Nunes prometer um investimento de cinco milhões de euros no clube da Reboleira.

Ao nosso jornal, o administrador judicial do Estrela confirmou a história: o empresário apresentou uma proposta mas não o dinheiro. Discutiu com funcionários e obrigou a intervenção policial. Os jovens perderam a ilusão. Naturalmente extrovertidos, foram acumulando conhecimentos por conta própria. Graças a isso, três rumaram à Rep. Irlanda. Nélio Nunes pagou as viagens, nada mais.

De salvador a indesejado na Amadora

O empresário brasileiro reuniu outro grupo em Dezembro de 2010. «Prometeu-me um teste no Chelsea. Chegando lá, tudo que ele prometia, em vídeos no Youtube, era afinal mentira», resume Douglas, um dos jovens. Quase todos desistiram. Nélio Nunes não. No mês passado, lançou outro vídeo, anunciando o recém-formado Flamengo de Portugal. Dois jovens continuam na esfera do empresário. Até quando?

O Maisfutebol confrontou Nélio Nunes com estas denúncias, por telefone e e-mail, mas este não rebateu os argumentos.

Conheça toda a história, através dos artigos associados ou dos links colocados no meio do texto.