Tal como há um ano, o Benfica será o único representante português entre as oito equipas mais resistentes do futebol europeu quando, às 11 horas desta sexta-feira, se iniciar, em Nyon, o duplo sorteio para as meias-finais da Liga Europa e da Liga dos Campeões. A confirmação da 14ª semifinal europeia no historial dos encarnados – e da terceira no currículo de Jorge Jesus - chegou sem surpresa, diante de um AZ acessível, mas não foi acompanhada pelo apuramento do outro clube luso que ainda estava em prova na Liga Europa.

O FC Porto tornou-se, a par do Basileia, a vítima mais recente da competitividade recuperada de dois históricos espanhóis com tradições fortes na segunda prova da UEFA: Sevilha e Valência deram a volta às derrotas da primeira mão e confirmaram a Liga de Espanha como a grande dominadora da temporada, com metade dos representantes entre os últimos oito das duas provas. A supremacia espanhola poderia ser ainda mais acentuada, visto que nas últimas rondas Barcelona (Liga dos Campeões) e Bétis (Liga Europa) caíram diante de adversários do mesmo país. Os representantes solitários de Inglaterra e Alemanha (Chelsea e Bayern, na Liga dos Campeões), Portugal e Itália (Benfica e Juventus, na Liga Europa) vão agora tentar que o domínio espanhol em 2013/14 se fique por aqui.

Num sorteio sem condicionalismos, e apesar das noites gloriosas vividas por Valência e Sevilha, os adeptos do Benfica deverão estar a torcer por um adversário espanhol, já que a Juventus faz, nesta altura, papel de principal favorito a uma competição que tem a final marcada para o seu estádio. Por outro lado, os índices de sucesso dos encarnados nesta fase das provas europeias de clubes são francamente bons: em 13 semifinais disputadas, nove valeram a passagem à final, a última das quais com o Fenerbahçe, há um ano. A décima final está só a dois jogos de distância

Mas calhe ou não a Juventus, depois dos macios holandeses desta quinta-feira acabaram-se as ilusões quanto a facilidades para os encarnados. Mesmo jogando mais de meia hora com dez, o Sevilha, novamente com Beto em grande plano, e com Daniel Carriço e Diogo Figueiras em ação, esteve perto de infligir ao FC Porto uma das dez piores derrotas no seu historial europeu – só evitada com o golo de Quaresma nos descontos. Por outro lado, o Valência, de João Pereira, Ricardo Costa e Ruben Vezo, conseguiu algo inédito na história da Liga Europa, tornando-se, com o apoio dos seus adeptos, a primeira equipa a dar a volta a uma desvantagem de 3-0 na primeira mão.

Os encarnados, que ocupam atualmente o 6º lugar no ranking de clubes da UEFA (atrás de Barcelona, Bayern, Real Madrid, Chelsea e Man. United) têm um estímulo acrescido que é a possibilidade de terminarem o ano à frente do Manchester United, embora para isso tenham de somar cinco pontos, começando por garantir a passagem à final.

Mourinho com três desforras à escolha

Na Liga dos Campeões, com a final de Lisboa no horizonte, o Bayern de Munique, única equipa sem representantes portugueses, tenta um desafio inédito: o de tornar-se o primeiro campeão europeu a revalidar o título na era Champions, iniciada em 1993. Depois das emoções fortes de uns quartos-de-final apaixonantes, ficou claro que nenhum dos três rivais ainda em prova dará facilidades à equipa de Guardiola, nem sequer o sensacional At. Madrid que, 40 anos depois, com mérito absoluto de Simeone, Tiago, Diego Costa e companhia, atinge um patamar a que decididamente não estava habituado.

Para José Mourinho, seja qual for o adversário do Chelsea designado pelo sorteio, a oitava presença nas meias-finais (saldo de dois apuramentos e cinco eliminações), recorde absoluto na competição, terá sempre sabor de desforra: seja com o Bayern do rival Guardiola, com quem perdeu a Supertaça Europeia; seja com o At. Madrid, para quem perdeu a última competição que disputou em Espanha; seja, especialmente, com o Real Madrid, que deixou há um ano, com desgaste indisfarçável. Para os merengues, porém, mais importante que a decisão do sorteio será o evoluir da situação clínica de Cristiano Ronaldo, pelo menos para a segunda mão da meia-final: como se viu em Dortmund, a equipa «merengue» vulgariza-se sem o seu jogador mais decisivo. E, nesta fase, a Liga dos Campeões não pactua com equipas vulgares.

Benfica lidera contributo para o ranking

Com os dois pontos da vitória desta quinta-feira sobre o AZ, a que se junta o ponto de bónus pelo apuramento, o Benfica reforçou o estatuto de equipa portuguesa com maior contributo nas provas europeias durante os últimos cinco anos. Os encarnados estão à frente do FC Porto, que terminou o seu desempenho na prova com a derrota em Sevilha.

Na época em curso, o Benfica já somou 24 pontos (que valem 4,000 no ranking, visto que são a dividir por seis), contra 16 do FC Porto (2,666). Já fora de cena, Estoril, V. Guimarães, P. Ferreira e Sp. Braga são as outras equipas que contribuíram para o total de 9,083 que se regista depois dos jogos desta quinta-feira.

No conjunto dos cinco anos, o contributo do Benfica corresponde agora a quase um terço do total (32,6%), contra 27,4% do FC Porto. Sporting e Sp. Braga vêm bastante mais atrás, seguindo-se mais seis equipas que em conjunto valem pouco mais de 10 por cento do total.

O Benfica passou a ter o maior contributo de entre as equipas portuguesas no final da época passada, com a vitória sobre o Fenerbahçe que valeu a ida à final da Liga Europa. Foi a primeira vez, no século XXI, que o desempenho dos encarnados no conjunto de cinco épocas (critério usado pela UEFA para definir o ranking) superou o do FC Porto. Na altura, a diferença era tangencial (16,495 contra 16,451 dos dragões) mas acentuou-se de forma significativa na temporada em curso.

Outro dado relevante é o facto de a fatia de Benfica e FC Porto ter um peso maior (60,0%) do que em temporadas recentes, por força dos eclipses europeus de Sp. Braga e Sporting nas últimas duas épocas..

Contributo nos últimos cinco anos:
Total de pontos: 61,466
Benfica: 20,066 (32,6%)
F.C. Porto: 16,833 (27,4%)
Sporting: 9,433 (15,3%)
Sp. Braga: 8,167 (13,3%)
Marítimo: 2,133 (3,5%)
Nacional: 1,416 (2,3%)
Estoril: 1,083 (1,7%)
V. Guimarães: 0,917 (1,5%)
P. Ferreira: 0,750 (1,3%)
Académica: 0,667 (1,1%)

2013/14*
Total: 54,5 pontos a dividir por seis equipas (9.083)

Benfica=24 (4,000)
FC Porto=16 (2,667)
Estoril=6,5 (1,083)
V. Guimarães=4 (0,667)
Paços de Ferreira=3 (0,500)
Sp. Braga=1 (0,167)

*Em atualização

2012/13
Total: 70,5 pontos a dividir por seis equipas (11.750)

Benfica=26 (4,333)
F.C. Porto=20 (3,333)
Marítimo=8 (1,333)
Sp. Braga=7 (1,167)
Sporting=5,5 (0,917)
Académica=4 (0,667)

2011/12
Total: 71 pontos a dividir por seis equipas (11.833)

Benfica=24 (4,000)
Sporting=21,5 (3,583)
Sp. Braga=11 (1,833)
F.C. Porto=10 (1,666)
Nacional=3 (0,500)
V. Guimarães=1,5 (0,250)

2010/11
Total: 94 pontos a dividir por 5 equipas (18.800)

F.C. Porto=30 (6,000)
Sp. Braga=25 (5,000)
Benfica=22 (4,400)
Sporting=13 (2,600)
Marítimo=4 (0,800)

2009/10
Total: 60 pontos a dividir por 6 equipas (10.000)

Benfica=20 (3,333)
F.C. Porto=19 (3,167)
Sporting=14 (2,333)
Nacional=5,5 (0,916)
P. Ferreira=1,5 (0,250)
Sp. Braga=0 (0)

Sistema de cálculo da UEFA:
São consideradas as últimas cinco temporadas. Para cada uma, considera-se o total de pontos conseguidos pelas equipas (2 por vitória, 1 por empate, metade destes valores nas pré-eliminatórias), dividido pelo total de equipas desse país que participam nas competições europeias do ano em causa.

A isto há que acrescentar cinco pontos de bónus por cada presença nos oitavos-de-final da Champions e, depois, nas duas provas, um ponto pelos quartos-de-final, meias-finais e outro ainda pela chegada à final. O acesso à fase de grupos da Liga dos Campeões rende quatro pontos de bónus.

O ranking actual determina a distribuição das equipas nas provas europeias em 2015/16. Em 2014/15, Portugal tem seis presenças: duas diretas na Liga dos Campeões, uma no play-off da Champions e três na Liga Europa.