Campeão europeu de futebol de praia sentado no banco de suplentes do Jamor. O destino trocou as voltas a João Marques, treinador da equipa de futebol feminino e simultaneamente da equipa de futebol de praia do Sp. Braga. O Maisfutebol esteve à conversa com o treinador cuja história se encarregou de proporcionar duas finais praticamente em simultâneo.

Uma situação que, de resto, até nem é propriamente nova, como demos conta há quatro anos com Nuno Hidalgo. Desta vez a história ganha maiores proporções por se tratar do treinador e também porque se registaram resultados contrastantes, com motivos para festejar num lado e lágrimas no outro.

A época do futebol feminino do Sp. Braga correu de feição. Segundas classificadas no campeonato, as «meninas», como João Marques gosta de lhes chamar, garantiram o acesso à final da Taça de Portugal. Em futebol de praia os bracarenses são tricampeões nacionais, ganhando direito a disputar a Euro Winners Cup, Liga dos Campeões da areia.

Resultado: a equipa de futebol de praia foi ultrapassando etapas, chegando à final que teve lugar às 19horas de domingo, dia 4 de junho. A 130 quilómetros, no Jamor, menos de duas horas antes iniciava-se a final da Taça de Portugal feminina.

«Foi pena coincidir os dois jogos na mesma altura, porque não desfrutei do momento com os jogadores quando foram campeões, gostaria de ter estado com eles no levantamento da taça», começou por referir o técnico. A Taça de Portugal foi para o Sporting, em futebol de praia os bracarenses conseguiram um feito inédito.

Apesar de não marcar presença na festa imediatamente a seguir ao apito final na Nazaré, João Marques lá conseguiu estar na areia: «O meu coração esteve lá», desabafa, mas os jogadores fizeram questão de festejar com máscaras do técnico, como se vê na foto.

Opção lógica pelo futebol feminino

«Foi uma decisão do clube, uma opção lógica. No futebol feminino treinámos todos os dias, no futebol de praia foi de segunda a sábado, consegui acompanhar os jogos e também os treinos. Andei da Nazaré para Braga todos os dias a fazer viagens, fiz os treinos todos no futebol feminino e os jogos do futebol de praia, mas a escolha foi do clube. Foi pensado, sabendo também que no futebol de praia as coisas estavam preparadas para o objetivo que nós pretendíamos», afirma João Marques, explicando que a Euro Winners Cup de futebol de praia se tratou de uma competição concentrada na Nazaré e a Taça de Portugal feminina uma competição que vem desde o início da época.

Percebe-se pelo discurso que o técnico ocupou o banco de suplentes no Jamor e não nas areias da Nazaré, uma opção natural, como sugere. Com o jogo do futebol feminino a ser apenas decidido no prolongamento as duas equipas estiveram em campo em simultâneo. A equipa de futebol feminino perdeu diante do Sporting (2-1), enquanto que nas areias da Nazaré o Sp. Braga levou a melhor (8-5) sobre os ucranianos do Artur Music.

A tristeza acabou por se sobrepor à conquista da Liga dos Campeões, ainda que se trate de um título inédito para o futebol de praia nacional. «O sentimento mais abundante foi de tristeza e de desilusão de ver as minhas meninas, que fizeram tanto sacrifício durante a época com muita entrega e atitude, a chegar ao fim e não atingir os resultados a que nos propusemos. Senti uma mágoa muito grande por elas e pelos adeptos», disse.

Pequeno-almoço e jantar de campeão na Nazaré com o Jamor pelo meio

Até à final a logística foi-se conseguindo, com viagens regulares entre a Nazaré e Braga, para acompanhar a equipa de futebol de praia e o futebol feminino. Na final o caso mudou de figura. João Marques já explicou a escolha, falta explicar como se geriu o dia da final. O técnico tem o adjunto Diogo Barros como braço direito, sendo que depois cada modalidade tem a sua estrutura.

«Fiz a palestra do futebol de praia no treino da manhã, no dia da final, de manhã cedo. Tomei o pequeno-almoço com eles na Nazaré e fui ao início do treino, falámos o que tínhamos a falar e depois parti para Lisboa e a partir desse momento não entrei mais em contacto com o futebol de praia, porque sabia que estava tudo organizado e preparado para a final», explicou o técnico que começou no futsal do clube e atualmente desdobra-se entre as «meninas» e as areias.

Entre estes desdobramentos, o treinador concentrou-se apenas no futebol feminino, para se focar a cem por cento numa das vertentes e não se perder entre as duas: «Depois de o jogo ter acabado, sensivelmente há quinze minutos, é que soube o resultado final do futebol de praia. Não quis misturar nem saber qualquer informação para não chegar a um ponto em que não estava focado nem num lado nem noutro. A partir do momento em que entrei no Jamor o meu foco foi no futebol feminino e depois, quando acabou, as notícias vieram da Nazaré».

A tristeza predominou no Jamor, em contraste com a felicidade extrema vivida na Nazaré. Os resultados registados obrigaram João Marques a novo raide entre as duas modalidades. Nesta última viagem teve a companhia do presidente António Salvador.

«Depois da final da Taça de Portugal, em que o nosso presidente estava a ver, algum tempo depois fomos ter à Nazaré para marcar presença no jantar da comemoração do título inédito, apesar de ter custado muito ter abandonado as minhas meninas naquele momento. Mas, por outro lado também tinha um grupo de jogadores que mereciam a minha presença depois de uma conquista inédita. Fomos para Nazaré festejar com a equipa de futebol de praia», recorda o técnico arsenalista.

Aposta para manter e reforçar com a academia

Referência nas duas modalidades, a intenção do Sp. Braga é reforçar a aposta quer no futebol feminino quer no futebol de praia, ao que tudo indica com João Marques no comando técnico das duas equipas. No futebol de praia essa é uma realidade consumada, no futebol feminino o técnico ainda vai reunir com a direção.

Certo é que daqui para a frente, quer na areia quer no futebol feminino, o Sp. Braga promete ambição e crescimento, até pela academia, que trará mais qualidade de trabalho.

«Este ano as nossas condições no futebol feminino já foram muito boas. A nível nacional penso que fomos o clube com melhores condições. O Sp. Braga dá uma logística e tudo necessário aos atletas, em relação ao futebol de praia vai haver um melhoramento muito grande com a academia, que vai ter um campo de futebol de praia. Penso que nenhum clube tem um campo de futebol de praia para a sua equipa», revela o treinador natural de Famalicão.

Na base deste crescimento anunciado está a aposta na formação. «Vamos começar com a formação, no próximo ano haverá equipa B, tanto no futebol de praia como na equipa feminina vamos trabalhar a formação, porque o objetivo é nos próximos três quatro anos o Sp. Braga ter a base das equipas da sua própria formação», explica João Marques.

Ultrapassada a mágoa pelas «meninas» e pelo facto de não ter festejado o título de campeão da europa como ambicionado, João Marques já perspetiva a próxima época com ansiedade.

«Sinto-me um privilegiado por poder estar à frente destas duas modalidades. Formar jogadores, ter jogadores nas seleções fruto da formação, será um trabalho pelo qual estamos ansiosos».