Ricardo e André, os irmãos Horta, agora juntos no Sp. Braga, estiveram numa animada conversa com o Maisfutebol, através do Instagram. Com pouco mais dois anos de diferença, os dois irmãos cresceram num ambiente de extrema competitividade, a puxarem um pelo outro, desde o futebol, naturalmente, mas também no futsal, basquetebol, ping pong e ténis. Bastou lançar o tema e o duelo, ao despique, chegou a ser tenso, mas sempre divertido e com fair-play.

A conversa, conduzida por João Paiva, começou com alguns problemas  técnicos, com Ricardo a sentir dificuldades em juntar-se ao direto do Instagram. Uma oportunidade que André não deixou passar em claro para meter a primeira farpa no irmão mais velho. «Ele especializou-se mais em fazer filhas do que propriamente com as novas tecnologias. Tecnologias é bola para ele, perdeu muito tempo a fazer filhas. É um rapaz regular, ano sim, ano não, faz uma filha, todos os anos faz golos, é um gajo regular», começou por destacar o delfim da família.

Ricardo respondeu à letra, como irmão mais velho. «Tirei um mestrado em fazer filhas. Como o meu irmão não tem filhos, tem inveja. É, aliás, o meu pior filho. Ele vive connosco, é o meu pior filho, o que dá mais problemas. Ele é mais sentimental do que eu, deve estar com saudades minhas», respondeu.

Estava lançado o tema da forte competitividade entre os irmãos Horta.

«Desde muito cedo, como temos uma diferença pequena, de apenas dois anos, houve sempre uma grande competição em todos os desportos que fazíamos. Tivemos sorte de termos espaço para jogar futebol, tínhamos um cesto de basket, mesa de ping-pong na garagem. Mas as vitórias, invariavelmente, caíam sempre para o irmão mais velho. No ping pong posso dizer que era onde ele dava mais luta, mas as vitórias caíam sempre para mim. Chegávamos a fazer Grand Slam de ping pong, quem ganhasse cinco jogos é que vencia. Tenho mais Grand Slam do que ele», explicou Ricardo.

André tem uma memória da infância bem diferente, pelo menos no que diz respeito ao ping pong. «No ping pong ele não tinha hipótese. Era uma coisa absurda. Eu treinava na escola e à noite chegava a casa e ganhava-lhe», recorda.

Ricardo ouviu e pediu a João Paiva para falar de ténis e para recordar uma história em que o jovem André, com dificuldades em servir diante do irmão, acabou por fugir do court. «Apesar da diferença de idade ser pouca, ainda são dois anos. Quando eu tinha dez ele já tinha doze, aí a diferença de força notava-se. Houve uma vez que fui a correr para cada. Abandonei o jogo. Não conseguia jogar mais. Era um mau perder por não conseguir fazer uma coisa que ele já fazia bem. Ele precisava de mim para jogar, mas arranquei e fui direito à garagem. Vingava-me no ping pong. Mesmo no ping pong era equilibrado, eu acho que ganhei mais vezes, mas era equilibrado. Era, sobretudo, intenso. Acabávamos de jogar e tínhamos de ir tomar banho. Era como se estivéssemos uma hora a jogar futebol no ringue», conta André.

André cresceu e acabou por recuperar a diferença no ténis para o irmão, pelo menos é o que conta. «No início ele ganhou-me mais vezes, mas depois equilibrei. O ténis é o meu desporto preferido e tive de começa a praticar mais. Ténis é apaixonante para mim. Quando comecei a jogar já jogava futebol há dois ou três anos, no Benfica, e acabei por não mudar. Mas é aquele desporto que não me cansa, consigo estar duas ou três horas a jogar. O futebol é a minha profissão, sei que posso ser muito bom a jogar futebol, mas no ténis ia ser apenas mais um», destaca o mais jovem dos Hortas.

Nesta modalidade, apesar da paixão que tem pelo ténis, André reconhece que Ricardo era, de facto, melhor. «Ele tinha muito jeito. Participámos em torneios para adultos e ele limpou três, incluindo um a mim na final. Depois, com o passar do tempo, foi deixando de jogar. Principalmente quando foi para Málaga. Separámos-nos e deixámos de fazer tantas coisas juntos. Mas ele tinha muito jeito. Mas agora pergunta-lhe pelo futsal...».

Então e no Futsal, Ricardo? «Ele começou por dizer que era o melhor em quase tudo, depois disse que abandonou o ténis e que, afinal, no ping pong era taco-a-taco. Agora veio falar no futsal? É um jogo quase idêntico ao futebol, mas mais curto, mas acho que ele tem boas impressões minhas no futsal. Fizemos apenas um jogo um contra o outro e, que eu me lembre, ele ganhou. Ele lança boatos para as pessoas pensarem que ele sai por cima nas competições, mas na verdade acaba por dizer que eu sou melhor do que ele», responde Ricardo.

No futebol, há menos dúvidas, com André a dar de imediato a taça ao irmão. «É ele o melhor. Aliás, tem provado época após época que é ele. O que é que eu posso dizer? Os números falam por si», assume André. Ricardo concorda. «Sim, ele não é mentiroso. Ele também é bonzinho no futebol, faz uns bons passes», acrescenta.

André, apesar de tudo, reconhece a liderança do irmão. «Ele disse que eu era o filho mais difícil de educar, mas acho que já não dou tantos problemas. É sempre ele que vem dar aquele safanão para abrir a pestana e acordar quando é preciso», reconhece.

Ricardo assume, claramente, o papel de irmão mais velho. «Se é difícil para mim, imagina para os meus pais. Ele é mais espalha-brasas. Penso que é a expressão indicada para o caracterizar. Fala muito, mete-se muito e, às vezes, faz coisas sem pensar e eu estou lá para lhe dar uns safanões e metê-lo na ordem. Faz parte do papel de irmão mais velho», destaca ainda Ricardo.