No momento em que substituiu Philippe Coutinho, aos 69 minutos do Barcelona-Getafe em maio de 2019, Abel Ruiz cumpriu um sonho que o comandava há sete anos. Ruiz pisou o relvado do Camp Nou e jogou na frente ao lado do ídolo Lionel Messi. Conseguiu, aliás, servir o argentino com um toque de calcanhar dentro da área do Getafe. Foi feliz.

«Foi um dia muito especial, muito bonito. Poder estrear-me em Camp Nou após tantos anos à espera disso na cantera. Tive o prazer de jogar ao lado dos melhores jogadores do Mundo. Pude cumprir esse sonho», disse, semanas mais tarde, à Marca.

VÍDEO: o passe de calcanhar de Abel Ruiz para Messi

Quase dois anos depois, Abel Ruiz está longe de Barcelona. Veste a camisola do Sp. Braga e teve, esta quarta-feira, a capacidade de desfazer a defesa do FC Porto em poucos minutos, na segunda-mão das meias-finais da Taça de Portugal: dois golos e um remate à barra da baliza de Diogo Costa. Tudo até aos 20 minutos de jogo.

O avançado espanhol não é um jogador qualquer, apesar de ter passado grande parte da temporada na sombra de Paulinho. A saída do internacional português para Alvalade abriu uma vaga no ataque e Carlos Carvalhal tem recorrido mais vezes a Abel Ruiz do que a Sporar. Leva nove golos marcados na temporada, sete em 2021.

Abel Ruiz justificou um investimento de oito milhões de euros por parte da SAD presidida por António Salvador. Chegou em janeiro de 2020 a Braga por empréstimo, já envolvido no negócio que colocaria Francisco Trincão no Barcelona. O esquerdino foi, curiosamente, uma das pessoas que mais o ajudou na chegada ao Minho.

«No confinamento partilhámos muito, porque vivemos juntos. Nós e o David Carmo», contou Abel Ruiz à EFE. «O Trincão conseguiu apanhar um pouco de espanhol e até de catalão comigo. Ensinei-lhe um pouco do que ia encontrar em Barcelona. Falo bastante com ele, e é normal que agora me pergunte muito por coisas de lá. Ajudo-o no que posso.»

Trincão saiu para a Catalunha no verão, Abel Ruiz assinou com o Sp. Braga até 2025, ficando com uma cláusula de rescisão no valor de 45 milhões de euros. Repetimos: o atacante, embora tenha evidenciado dificuldades nos primeiros tempos em Portugal, não é um jogador qualquer.

No dia 25 de maio de 2017, Ruiz foi destacado pelo jornalista Nuno Travassos no espaço P.S. - Para Seguir. «’El Toro’ de Almussafes», lia-se no Maisfutebol. Almussafes é uma pequena localidade a 24 quilómetros de Valência. Foi nesse pueblo que Abel começou a jogar e a despertar a atenção do emblema ché. Aos oito anos assinou pelo gigante do Mestalla.

Quatro anos mais tarde, o futebol do pequeno avançado já era notícia em Espanha. Tanto assim é que o Real Madrid e o Barcelona abordaram os seus pais. Os maiores dos maiores queriam contratá-lo, mas a família Ruiz optou pelos catalães, aproveitando a entrada do irmão mais velho numa universidade da Cidade Condal.

«Lembro-me do primeiro dia em que fui visitar Barcelona. Encontrei-me com o David Villa, que agora me representa com a sua agência. Tenho fotos com ele e agora somos bastante amigos. Era um ídolo para mim. E no dia em que cheguei para ficar encontrei o Tito Vilanova, que na altura era o treinador», lembrou à agência de notícias espanhola.

Abel Ruiz foi sempre uma das figuras mais prometedoras em La Masia e conquistou um espaço importante também nas seleções jovens de Espanha. Foi ao Europeu de sub17 em 2016, ao Europeu de sub17 em 2017, ao Mundial de sub17 também em 2017 e ao Europeu de sub19 em 2019. Nessas quatro fases finais fez 23 jogos e 15 golos.

Campeão da Europa de sub17, vencedor da UEFA Youth League, campeão da Europa de sub19 e, claro, campeão espanhol na época 2018/19. O que lhe faltou para ter mais oportunidades na equipa principal do Barcelona?

«O Barcelona não pode dar as oportunidades ou os minutos que queres. É das melhores equipas do mundo e é muito difícil triunfar lá. Por isso quis dar um passo sólido e ir para outro clube, para somar minutos que não teria no Barcelona», revelou na conversa com a Marca, em 2020.

Abel Ruiz como capitão da seleção de Espanha de sub19 (Facebook)

«No meu caso foi uma decisão minha. Tinha apoio do Barcelona e foi uma decisão conjunta com a família vir para Braga. Tivemos muito apoio por parte do clube português, a direção até veio a Barcelona falar connosco. Não foi o Barcelona a dizer-me 'vai embora’», garantiu.

Abel Ruiz Ortega, 21 anos, poderoso e rápido, é um atacante para seguir nas próximas semanas. De repente, os oito milhões investidos na sua aquisição começaram a fazer todo o sentido. O futebol é um universo esquizofrénico.