Menos de um mês depois de Rui Costa ter feito história no ciclismo nacional e uma semana depois da conquista dos sub-20 no hóquei em patins, Portugal pode vir a festejar outro título mundial, já este sábado. O responsável, desta feita, é Paulo Gonçalves, que está perto de se sagrar campeão do mundo de Todo-o-Terreno, repetindo um feito que Hélder Rodrigues conseguiu em 2011.

Se o piloto, natural de Esposende, conseguir manter a vantagem sobre o espanhol Marc Coma na derradeira etapa do Rali de Marrocos vai conquistar o título. E Portugal irá, certamente, celebrar.

Vão suceder-se as mensagens de felicitações, as partilhas nas redes sociais e a elevação do orgulho nacional. Contudo, tal como Rui Costa, João Sousa ou António Félix da Costa (para citar apenas alguns exemplos recentes de sucesso), a chegada ao cume da montanha deu-se sob alçada estrangeira.

Paulo Gonçalves integrou este ano a estrutura da Honda, a mesma de Hélder Rodrigues, com a equipa HRC Speedbrain. Anteriormente a sua equipa tinha base em Espanha. Ficar por Portugal, numa modalidade como esta, significava a estagnação.

Sofia Gonçalves, esposa do piloto, explicou ao Maisfutebol que o apoio português é residual. «Tem alguns pequenos patrocínios, mas é mais coisa de amigos. Nada muito grande», assegura.

E, por isso, não tem dúvidas: “Era impossível lutar pelo título mundial sem estar inserido numa estrutura como o Paulo está. Desde logo porque não conseguia fazer o Mundial completo. São muitas datas. Era preciso muito dinheiro.”

As contas para a vitória

Mas o português conseguiu. Pela segunda vez. Já no ano passado realizou todo o calendário. Agora repetiu o feito e, espera, com maior sucesso no final. O adversário, porém, é de peso e promete não facilitar.

Marc Coma é pentacampeão do mundo (2005, 2006, 2007, 2010 e 2012) e chegou ao Rali de Marrocos, última prova do calendário, com mais três pontos do que o português. Paulo Gonçalves sabe que se vencer a prova leva o título para casa. Sabe ainda que, se for segundo e Coma ficar atrás de si, também festeja no final. Mas também sabe que se for quarto o espanhol é campeão, mesmo que desista. O pior resultado da temporada é anulado.

A vantagem tem oscilado, mas Paulo Gonçalves mantém-se na frente de Coma desde a segunda etapa. À entrada da última, são 20 os segundos de vantagem. O português sai para a prova depois do espanhol o que pode constituir uma vantagem. Há que aguardar.

Da oficina do pai para o topo do mundo?

Chegar ao título mundial era chegar ao topo da montanha, depois de uma vida quase sempre ligada às motos.O interesse, de facto, vem de muito novo.

O pai de Paulo Gonçalves tinha, e tem, uma oficina em Esposende. O filho ganhou o gosto pelas duas rodas. “Começou a correr numa moto pequenina, depois passou a entrar em competições”, conta Sofia Gonçalves. A partir de 1997, tornou-se piloto profissional no motocrosse. Depois passou para o Todo-o-Terreno. Manteve-se rápido e ganhou a alcunha de «Speedy» Gonçalves que adotou e dura até hoje.

A esposa assiste de longe à azáfama de viagens e competições. Muitas vezes com o coração nas mãos. Afinal, ainda é um desporto perigoso.

“É sempre complicado, mas já foi mais. Há sempre receio e é um alívio receber a notícia no final de cada prova que ele chegou e está bem. Mas ele agora está um piloto mais maduro também”, sublinha a esposa.

Por isso, talvez até seja mais complicado para quem fica a ver de fora. “Tenho acompanhado as etapas todas no computador, sempre à espera de notícias. Muitos nervos mesmo. Às vezes acho que é mais duro para nós do que para ele”, brinca.

Sofia diz que o marido, que nos tempos livres gosta de andar de moto-de-água e de jogar às cartas com os amigos, está confiante para a missão que falta.

“No sábado fica tudo decidido. É o trabalho de toda a temporada e ele vai dar tudo por tudo. Isso nem se põe em causa”, sublinha.

Portugal ficará à espera de boas notícias.