A época 2001/02 não tinha começado bem para o Sporting. À vitória sobre o F.C. Porto seguiram-se derrotas com Belenenses e Alverca, e depois um empate em Leiria, já com Mário Jardel. A chegada do avançado brasileiro acabou por ajudar a equipa leonina a acertar o passo. No início de Dezembro assumiu mesmo a liderança da Liga, mas a três dias do Natal sofreu um duro golpe, na receção ao Vitória de Setúbal.

«Aos 79 minutos Niculae mandou um tiro ao poste, abanou a baliza, mas foi ele que caiu, gravemente lesionado, depois de chocar com Ico», lia-se então na crónica do Maisfutebol. Jardel decidiu o encontro ao minuto 90, e dedicou o golo ao romeno, que foi operado a uma lesão no ligamento cruzado interno do joelho esquerdo. Dez golos em vinte e três jogos tinham criado grandes expectativas nos adeptos leoninos, mas a temporada acabou precocemente para o avançado contratado ao Dínamo de Bucareste (onde agora joga).

«Foi um momento muito triste para o Sporting, com um jogador que já conhecia da Roménia. O Niculae era e é um grande jogador, que merece esse reconhecimento. Tive razão quando o levei para o Sporting», diz Boloni, dez anos depois, ao Maisfutebol.

João Pinto recorda a importância do primeiro golo do romeno, aquele que garantiu a vitória sobre o F.C. Porto, logo na primeira jornada. «Deu-lhe confiança e ajudou-o a conquistar o respeito de colegas e adeptos», explica. O atual vice-presidente da Federação Portuguesa de Futebol fala de um avançado «muito generoso, que ajudava a equipa em termos defensivos». «Talvez até generoso de mais, olhando para as lesões que teve», complementa.

Pedro Barbosa, outros dos elementos desse plantel, diz que Niculae «mostrou-se logo um grande avançado, possante, lutador». «É sempre difícil pensar no que poderia ser, mas estou convencido de que teria dado uma grande transferência para o Sporting. Fez um grande jogo com o Milan, e os italianos já estavam a reparar nele», recorda o comentador TVI.

Na voz do próprio Marius Niculae também se nota a sensação de que podia ter ido mais além. E a tristeza de ter feito apenas metade da campanha 2001/02. «Contribui em dois ou três por cento», diz ao nosso jornal, num misto de tristeza e alegria. «De qualquer forma foi um ano espetacular. Ganhámos tudo: Campeonato, Taça e Supertaça. Só não passámos o Milan, na Taça UEFA, mas era difícil», acrescenta.

A rápida mudança de «chip»

A lesão de Niculae criou problemas ao Sporting. Não só pela influência que o internacional romeno já tinha conquistado na equipa, mas também por ter obrigado a mudar o sistema. «Felizmente conseguimos resolver com o Hugo Viana, e equilibrámos com João Pinto e Jardel», lembra Boloni.

«No início jogávamos três na frente, comigo a partir da esquerda para fugir à marcação, e com liberdade de movimentos. Um pouco como fazia antes na Seleção. Depois da lesão do Niculae passámos a jogar dois na frente, comigo no papel de segundo avançado, aquele a que estava mais habituado», desenvolve João Pinto.

A equipa reorganizou-se mais facilmente do que se temia, até no interior do grupo. A prova disso é que não sofreu qualquer derrota na segunda metade da época (a última foi a 6 de Dezembro, em Milão). «Nessa fase da época a equipa já estava bem oleada. Aí notou-se a experiência do grupo. Não estranhámos a mudança», explica João Pinto.