O Benfica venceu o «derby» de Alvalade sem grandes problemas e continua tão na corrida ao título quanto o F.C. Porto deixa. O campeão fez quase tudo sozinho, perante um adversário que não soube estar à altura da tradição. Tudo, até complicar um jogo anunciado simples.

De resto, este era um «derby» com guião escrito. Pelo menos foi o que lemos durante a semana. Era chegar, montar a tenda e esperar que o destino se cumprisse. Os primeiros minutos reforçaram a ideia. Nem tanto pelo golo do Benfica, já lá vamos. Antes disso, muito Gaitan. Mais do que muito, Gaitan à vontade, com espaço para combinar com Saviola e Coentrão. Domínio absoluto no meio-campo, centrais tranquilos lá atrás e essa vantagem inesperada de ver o adversário com a defesa remendada. Mais do que é costume, entenda-se.

E depois então o golo. Vale a pena perder tempo com ele. Foi assim. Rui Patrício com a bola. Toque para um defesa. Tentativa ténue de sair a jogar. Devolve. Agora guarda-redes para Pedro Mendes. Devolve. Outra vez Rui Patrício. O Benfica aproxima-se. Rui Patrício chuta. Mal. A bola cai em Gaitan e o resto já deve ter visto na televisão. Cruzamento, muito bom, Pedro Mendes em esforço, Salvio mais rápido do que Grimi. Golo.

Não faço ideia o que pensaram os jogadores do Benfica. Mas sei o que pareceu. Pareceu um episódio de novela, quando o herói beija a menina bonita (quer dizer, deve ser assim, porque não é meu hábito ver novela). Tudo se encaixa. O Benfica deu ideia de ter ficado convencido de que estava feito. E no entanto tinham passado apenas quinze curtos minutos. Percebe-se. O Sporting estava a ser mau de mais. Pouco Matias, nenhum Cristiano, o Yannick do costume e um Postiga abandonado. Tudo desgarrado, tudo complicado, tudo impróprio de um clube como o Sporting.

De repente, o Benfica acostumou-se àquilo, aquele futebol feio, sem sentido, mal jogado, aos bocados. Afinal, recordemo-nos, estava escrito que este «derby» já tinha dono e na quinta-feira até há jogo da Liga Europa. Claro que o Benfica já devia saber que os «derbies» são bons jogos para desconfiar. Desconfiar sempre. Pois bem, à passagem da meia hora Yannick começou a aparecer sobre a esquerda e inventou um contra-ataque. Depois outro. O Benfica, ao contrário do que é hábito, desequilibrava-se nos cantos a seu favor, coisa rara. O árbitro ia mostrando amarelos ao mesmo ritmo que a polícia de choque batia (e levava) na bancada onde estava a claque do Sporting. Lá em baixo, agora já havia Matias e mais Yannick. E amarelos. Um, dois, três. Um para Sidnei, aos 41. Outro para Sidnei, aos 45. Ups, complicou-se. Será?

Sem Saviola e com Jardel, o Benfica reapareceu do intervalo fiel ao guião, organizado. Podia ter marcado, por Coentrão e Martins. O Sporting surgiu com um problema. Tinha mais um, mais bola, mas para a aproveitar era preciso fazê-la circular, ser paciente, maduro, gerir o jogo. Tudo coisas que a equipa de Paulo Sérgio, a ver da bancada, tem dificuldade em fazer. Com menos um, parecia mais simples para Jesus.

É certo que o Sporting até podia ter marcado, numa jogada excelente de Matias Fernandez. Mas Roberto fez a defesa da noite e pouco depois o Benfica aproveitou um livre de Carlos Martins para chegar ao 2-0. Num daqueles lances em que o Sporting tudo permitiu. Apesar de ter mais um, apesar de estar em vantagem. Javi, Maxi, todos fizeram o que quiseram. Aos 63 o guião voltava a ser cumprido.

Com meia hora para jogar e dois de vantagem, o Sporting retirava um dos médios e pressionava com Saleiro. O Benfica respondia com Airton em vez de Carlos Martins. E preparava-se para resistir às incipientes trocas de bola do Sporting, uma caricatura do que uma equipa grande deve ser. Tudo perdido, Paulo Sérgio aproveitou para ensaiar mais uma forma de jogar, uma espécie de esquema com três defesas e Salomão a fazer o corredor esquerdo. Penoso, sem sentido, magnífica perda de tempo. Eis o Sporting, hoje: um desperdício.