A história do futebol português está repleta de casos como este entre Bruma e o Sporting.

De um lado um clube, por vezes formador, com problemas e dificuldade em reconhecer que os miúdos crescem. Do outro um talento que meia dúzia de jogos depois parece valer muito mais e ter gente que lhe oferece o mundo.

É estúpido dizer que quem rompe acaba mal.

Estúpido porque a história o desmente. Paulo Sousa é um bom exemplo (mas já tinha 22 anos quando deixou a Luz). Paulo Futre outro (não foi para o estrangeiro...). Haveria mais.

Também há histórias destas sem final feliz, mas que não sabemos como terminariam se os jogadores tivessem escolhido ficar em vez de sair.

Bruma não será diferente. Pode dar certo, pode simplesmente falhar. Mas se ficasse no Sporting, alguém sabe como seria? Não.



Compreendo na mesma medida a opção de Bruma e o lamento dos adeptos. Já tenho dificuldade em perceber a posição dos dirigentes e de quem aconselha o jogador.

Ao contrário de muita gente, acho que o erro dos dirigentes do Sporting não começou agora. A ser verdade que Bruma ganha 1900 euros por mês (e não reparei em desmentidos), o erro maior é esse, ter um jogador de seleção sub-20 assim tão mal pago.

Nestes processos, o primeiro erro normalmente é este. Os dirigentes resistem o máximo possível a aumentar um júnior. Acham sempre que não é preciso, que há tempo, que ainda é um miúdo, recordam-se facilmente do tempo em que um refrigerante e uma carcaça eram suficientes para o manter. Enquanto isso, pagam milhares a suplentes. Um dia acordam e é tarde de mais.

No caso de Bruma, o tempo andou muito depressa e é evidente que a responsabilidade maior é da direção de Godinho Lopes. Mas isso não admira, a incompetência foi a nota maior. Já a posição de Bruno de Carvalho é incompreensível. Aliás, Bruno de Carvalho é, não raro, incompreensível. Isto não é uma crítica. Pelo menos para já. É sobretudo o reconhecimento de que passou pouco tempo, a forma de estar e agir do presidente do Sporting é ainda relativamente desconhecida. E os resultados estão totalmente por confirmar.

Como em todos os casos, admito que aquilo que não sabemos é mais do que aquilo que está à vista. Mas o que está à vista é que o Sporting embirrou com os representantes de Bruma, fossem eles Zahavi, Catio ou Bebiano. Insistiu em falar apenas na presença do jogador e isso precisava de ser explicado. Não foi.

Pode ser que isto, por estranho que possa parecer, fizesse parte da estratégia de Bruno de Carvalho, talvez convencido de que a indemnização por rescisão sem fundamento é a melhor aposta para o clube. É estranho, admito, mas já vi muita coisa. E não conhecemos Bruno de Carvalho, é um facto.

Para os representantes de Bruma, este forçar de saída parece precoce. Se o objetivo era pressionar o Sporting, havia formas menos definitivas, até porque o clube parece tudo menos indisponível para ouvir quem deseje comprar-lhe um ou dois jogadores (veja-se o preço de saldo de Schaars e Arias).

Ao alegar nulidade, os representantes de Bruma colocaram o jogador num caminho estreito e sinuoso. Podem descobrir o pote de ouro no fim da vereda, mas será que o risco compensa? Tenho dúvidas.

Nestes casos, uma boa e honesta renovação aos 18, 19 anos é sempre a melhor solução para clube e jogador. Quem passa a receber mais agradece a atenção, sente-se apreciado. O emblema fica seguro de que se o futebolista progredir terá o retorno de que necessita. Deve ter sido que pensaram Esgaio, João Mário e Bruno de Carvalho. Deveria ter sido possível com Bruma.