Num clássico que começa a alimentar uma tradição de maus resultados para o FC Porto – não ganha em Alvalade para a Liga desde 2008 – não é fácil encontrar números da época atual que sustentem favoritismos, para um ou de outro lado, tanto mais que a época ainda vai no princípio e a amostra de jogos não encoraja conclusões à prova de bala. 

Ainda assim, é possível confirmar, com números na mão, aquilo que o senso comum já sugeria: Sporting e FC Porto não são apenas equipas muito diferentes, nos processos e conceitos de jogo. São, também exemplos de projetos com características de gestão muito diferentes.

As estatísticas do Sporting

Se o número de jogadores utilizados pelas duas equipas nas cinco primeiras jornadas é idêntico (21), as diferenças tornam-se nítidas na opção para os onzes iniciais. No Sporting, que teve 18 titulares, há nove jogadores escolhidos de início por Marco Silva em pelo menos quatro jogos da Liga: Rui Patrício, Sarr, Maurício e Adrien estiveram em todos, Jefferson, William Carvalho, André Martins, Nani e Carrillo só falharam um. O onze base fica praticamente definido, já que só na lateral direita (Cédric e Esgaio) e como ponta de lança (Slimani e Montero) houve estatuto repartido.

O técnico dos leões repetiu o onze da terceira para a quarta jornada (Benfica e Belenenses) e, de resto, mexeu tanto por necessidade como por opção técnica. Foi assim com a lesão de Cédric e os castigos de William e Jefferson, que lançaram Esgaio, Rosell e Jonathan Silva para o onze. Já as trocas de Heldon por Nani, Montero por Slimani e André Martins por João Mário resultaram de opção.

As estatísticas do FC Porto

No FC Porto, que teve 20 titulares em cinco jogos, a lógica de rotação de Lopetegui traduz-se na evidência de nunca ter havido um onze repetido na Liga, e de o número de «fiéis» à escolha inicial ser menor do que no Sporting. Só Jackson e Maicon estavam em todas, estatuto que o central vai perder em Alvalde, por castigo. Danilo, Fabiano, Martins Indi e Brahimi (quatro vezes titulares) são as outras apostas mais habituais do técnico espanhol. 
 

Mesmo descontando as lesões de Oliver Torres e Alex Sandro, que obrigaram Lopetegui a efetuar alterações forçadas, o número de mexidas por opção técnica é incomparavelmente superior e chegou inclusive à baliza no último fim de semana, fazendo de Jackson o único totalista da equipa. Não surpreende, por isso, que Aboubakar, concorrente direto do colombiano, seja o único dos utilizados pelo FC Porto na Liga que ainda não teve direito à titularidade.

A diferença maior, entretanto, está na continuidade: enquanto Marco Silva herdou uma equipa já consolidada, acrescentando apenas duas caras novas – Naby Sarr e Nani - aos mais utilizados, já Lopetegui teve carta branca para reconstruir e tem sete reforços entre os 14 jogadores com mais tempo de utilização

Carrillo e Jackson, caminhos diferentes para o golo

As diferenças entre os dois técnicos na gestão dos efetivos são claras, e são-no também na forma como as suas equipas chegam ao golo. O Sporting está a pagar neste início de temporada a fatura do elipse de Montero: tem menos cinco golos do que há um ano, na quinta jornada, quando o colombiano reinava na tabela dos marcadores.

Estatísticas gerais da Liga

Nenhum dos oito golos leoninos nasceu de lances de bola parada, e quatro foram conseguidos no último domingo, em Barcelos. Até então, a ineficácia concretizadora era o maior problema da equipa de Marco Silva, que teve domínio estéril, ou perto disso, nos jogos com Académica, Arouca e Belenenses e até agora só conseguiu marcar dois golos nos jogos em casa, diante de equipas fechadas. A receção ao FC Porto vai, seguramente, fugir a essa tendência, o que até pode encaixar melhor nas características da equipa.

Mesmo com alguma irregularidade no rendimento, Carrillo tem sido o maior desequilibrador ofensivo dos leões: marcou por três vezes e teve participação direta em mais dois golos – os de Mané ao Arouca e Slimani ao Benfica. A pressão do peruano sobre a zona defensiva dos adversários, forçando erros diretos, rendeu dois golos – na Luz e em casa, com o Belenenses.

Em Barcelos, a chegada de João Mário e a permeabilidade defensiva do Gil Vicente, na zona central, deram armas novas ao leão: dois golos de fora da área, na primeira parte, e, na segunda, outros dois em transições rápidas, bem aproveitadas por João Mário, perante um adversário aberto na tentativa de recuperar a desvantagem no marcador.

Do lado do FC Porto também há défice de golos (menos quatro do que há um ano por esta altura) mas esse problema só se tornou sensível nos últimos dois jogos, com os dragões a marcarem apenas uma vez, de penálti. De certa forma, um percurso inverso ao do Sporting, com apenas dois golos marcados fora de portas, sempre pelo inevitável Jackson que com cinco golos em jogos jogos é a referência goleadora que tem feito falta ao leão.

Só dois dos sete golos do FC Porto resultaram de lances de bola parada – o primeiro, de Rúben Neves, após canto, e o último, de Jackson, de penálti. A tendência do FC Porto tem sido para marcar a partir de desequilíbrios nos flancos, com assistências repartidas por Tello, Quintero, Brahimi, Angel e Adrián, e Jackson como o suspeito habitual para finalizá-las.

As melhorias do FC Porto de Lopetegui são mais nítidas, até agora, no aspeto defensivo, com apenas um golo sofrido – de penálti – em cinco jornadas, menos dois do que há um ano. Mas esse aspecto poderá ser posto em causa pela ausência forçada de Maicon, até agora um dos pilares do setor. O Sporting, por seu lado, mantém a eficácia defensiva em valores idênticos aos da época passada (três golos sofridos), apesar de todas as reservas manifestadas em relação à habitual dupla de centrais.

Por fim, para completar um retrato que sugere um clássico com poucos golos, de referir que o Sporting tem inícios de jogo mais agitados do que o FC Porto: marcou quatro vezes na meia hora inicial, mas também sofreu dois golos nesse período. Já a equipa de Lopetegui costuma ter inícios mais pausados (um golo marcado e nenhum sofrido nos primeiros 30 minutos) e tem-se revelado muito forte nos 15 minutos finais, período em que já marcou três dos seus sete golos.

Os números que lançam o clássico

Jogadores utilizados
Sporting, 21 (18 titulares), quatro onzes em cinco jornadas
FC Porto, 21 (20 titulares), nunca repetiu um onze

Quando marcam
Sporting
1-15: 3
16-30: 1
31-45: 1
45-60: -
61-75: 1
76-90: 2

FC Porto
1-15: 1
16-30: -
31-45: 1
45-60: 1
61-75: 1
76-90: 3

Golos marcados
Sporting, 8-FC Porto, 7

Em casa:
Sporting, 2

Fora:
FC Porto, 2

Bola parada
Sporting, 0
FC Porto, 2

Marcadores Sporting
Carrillo, 3
Slimani, 2
Mané, 1
Nani, 1
Adrien, 1

Marcadores FC Porto
Jackson, 5
Oliver Torres, 1
Rúben Neves, 1

Assistências no Sporting
João Mário, 2
Jefferson, Carrillo e Adrien

Assistências no FC Porto
Tello, Quintero, Brahimi, Angel e Adrián

Golos de suplentes
Sporting, 2 (Mané e Carrillo)
FC Porto, 0