Uma despedida nunca é fácil. Dizer adeus aos que nos gostam é sempre um momento estranho, seja esse adeus um «até breve», como quem parte depois de um fim-de-semana com os amigos, um até à vista, na incerteza de um reencontro, ou, neste caso, um até sempre. Liedson despediu-se do Sporting. Disse adeus aos adeptos. Despediu-se de Alvalade, da grande área, das redes adversárias; despediu-se do golo com a camisola do leão. E despediu-se de uma equipa que não soube honrar o percurso do «Levezinho», muito menos a História que o 31 ajudou a engrandecer, mesmo sem título de campeão no currículo. O adeus do 31 foi triste. Triste porque não trouxe vitória, triste porque se percebe que o que aí vem não pode ser melhor, triste... porque ninguém pode ficar contente com um empate, em casa, frente ao último.

Há sete anos e meio chegou. 173 golos depois parte, com a certeza de que, na última noite, fez o que sempre lhe pediram. Agora, será noutro lugar que Liedson vai estar no sítio certo, à hora certa, como aconteceu no 1-0 à Naval. Antes do jogo, o «Levezinho» sorria, distribuía palmas para a bancada. Ao intervalo, era um homem pensativo, no meio do relvado, depois de o rival ter virado para 2-1. Como? Uma exibição a meio gás do leão, um erro e o desmoronamento de um castelo de cartas que é a capacidade mental desta equipa.

O baile deixou de apetecer

Já se sabia que Abel iria jogar no lugar de João Pereira, na direita. Mas de lateral a lateral, os desempenhos no Sporting tinham pouca cor. Pelo meio, Zapater parecia um futebolista saudoso dos golos recentes, do futebol, até de Liedson talvez. Sim, porque o espanhol chegou este ano, mas logo deve ter percebido da importância do 31, que foi o primeiro a ameaçar, com um cabeceamento por cima. Evaldo teria outro lance de perigo, antes de Liedson, quando a Naval crescia, fazer o golo, o penúltimo pelo Sporting e um dos mais fáceis de sempre. Mas como dizem os avançados, não há golo fácil, nem feio, feio é não fazer golos. Neste aspecto, Liedson é uma beleza (para ser lido com sotaque brasileiro).

O Sporting vencia mais uma vez perante o seu público, nesta noite com um brilho nos olhos pela despedida da figura maior do clube nos últimos dez anos. O Sporting vencia, mas não convencia e tanto assim era que bastou um erro de Evaldo para a Naval empatar. O penalty não deixou dúvidas a ninguém, o remate de Fábio Júnior também não. A equipa de Carlos Mozer aproveitou novo erro para se colocar à frente no marcador. Com 1-0, o Sporting deixou de jogar, ficou convencido de que para a despedida do 31 ser de festa bastava aparecer, mas como a banda não tinha tom, o baile deixou de apetecer. Faltavam 45 minutos.

A equipa fica

Havia 45 minutos de esperança para Liedson fazer subir o cartaz que por baixo do nome do novo avançado do Corinthians diz «resolve». O Sporting entrava com alma, com vontade de ir buscar o empate. A Naval deu uma mãozinha e Rui Patrício não deu nenhuma. Postiga empatava de grande penalidade, mas Godemeche abria a ferida entre adeptos e equipa técnica/jogadores. O golo do francês transformava o dia da saída de Liedson numa manifestação de protesto. Protestos contra Paulo Sérgio, contra Costinha, contra meio mundo. Menos Liedson. Esse não. Esse que parte encheu de esperança as bancadas, com mais um golo, que redundou na igualdade final a três golos.

Liedson encheu de esperança, mas não conseguiu resolver. São problemas a mais para um homem só. Por isso, Liedson chorou após o apito. Quando um misto de revolta e saudade se apoderou de Alvalade. Liedson chorou porque mereceu o amor dos adeptos. Liedson chorou porque parte e Alvalade chorou com ele. Chorou o «derby» com o Benfica também, porque fica mais pobre, e até chorou o futebol português. E um homem que chora em frente a 20 mil pessoas merece um tremendo aplauso. O resto da equipa é que nem por isso...e é essa que fica.