O Rio Ave ganhou em Alvalade pela primeira vez. E não é por acaso: é improvável que uma equipa desta dimensão vença em casa de um grande. Algumas passam anos sem o conseguir, o que faz sentido, tal a diferença de valores de um lado e do outro.

Face à história, é evidente que a vitória do Rio Ave é uma surpresa, uma grande surpresa. Seria estúpido escrever o contrário.

Mas já não é surpresa ver o Sporting perder ou pelo menos não ganhar. Já o tinha feito na semana passada, perante uma equipa inexistente, na Liga Europa. E é assim porque o Sporting tem problemas. Já escrevi sobre alguns, recordo-os, começando pelo sítio menos óbvio, a defesa.

O Sporting renovou toda a defesa, o que é sempre arriscado. E fê-lo porque quis. Vendeu o lateral direito, deixou sair um central, colocou outros dois no banco e está a fazer tudo para correr com o terceiro. Só manteve o lateral esquerdo, que pouco jogou na pré-temporada.

Na Dinamarca, o Sporting sofreu um golo de infantis, quatro jogadores contra dois. Nenhuma agressividade, nenhuma entreajuda, nenhum sentido posicional.

Esta segunda-feira, o Sporting voltou a sofrer um golo com superioridade numérica, marcado por um lateral esquerdo que arrancou lá do fundo e foi deixado correr. Em casa, perante adversários fechados, os grandes têm de começar pelo básico: não permitir que se animem, que cresçam, que acreditam. Não levar golos.

Depois o meio-campo. Como é que se diz isto de outra forma? O Sporting, em casa com o Rio Ave, não pode jogar com três futebolistas daquele perfil. Não driblam, não mudam de velocidade, não caem nos flancos. Como se não bastasse, parece que Gelson, Adrien e Elias ainda não perceberam como devem casar. Nenhum acaba por fazer de facto a posição «6», protegendo os centrais. Nem a «10».

Se aquelas três não funcionam (e isso é visível há tanto tempo), também é difícil entender que ao intervalo se mudem dois deles. Teria sido mais sensato começar por colocar ali um pouco de talento, uma luz. Depois, se preciso, acrescentar mais alguma coisa. Com Gelson, André Martins e Labyad, o Sporting trocou um trio sem rotina por outro. Diferentes, mas no fundo iguais.

Por fim o ataque. Capel é um jogador que só podia mesmo entusiasmar os adeptos. Mas já está cá há tempo suficiente para se perceber que oferece pouca variedade de soluções. Se bem marcado, apaga-se. Sobram Carillo e Wolfswinkel. O peruano é a maior esperança, sempre. E isso é curto. Trata-se de um miúdo, é cruel pedir-lhe tanto.

O holandês já carrega sobre os ombros o fado de ser o goleador que pouco marca. E isso é injusto. Wolfswinkel é mal servido, mal acompanhado. Não o crucifiquem.

Por fim, neste jogo a opção por um futebolista que acaba de chegar, como Viola, é difícil de entender para quem tem no plantel alguém como Wilson Eduardo. Também jovem, mas já muito rotinado no futebol português e capaz de fazer golos na Liga.

Em cima de tudo o que escrevi, isto: o Sporting parece demasiado mecânico, como se não houvesse espaço para a improvisação, para a tentativa, para a surpresa. Como na época passada, permanecem as dificuldades para criar oportunidades e desequilibrar o adversário. Uma equipa grande não pode ser tão previsível quando tem a bola.

Resumindo: é errado partir desta derrota em casa para dizer que o Sporting tem problemas. Errado porque não era preciso ter visto o jogo.