Trouxe o coração, trouxe a sorte, devolveu confiança mínima à bancada, mas tem enorme tarefa no banco do Sporting. Da lateral, Sá Pinto viu um leão de poucas ideias, perante o Paços com uma ideia única e bem definida: defender até ao limite. Pelo menos até sofrer um golo. Num jogo de ironias, as melhores oportunidades foram pacenses, mas as grandes falhas também. Sobretudo uma, de Cássio e Ricardo, que deram uma ajuda na estreia vitoriosa do novo treinador leonino, em casa.

Rir com a desgraça alheia

O ambiente não dava para festas, o Sporting atirava-se ao Paços com o treinador a pedir garra e qualidade, mas, na verdade, a equipa leonina precisou de ser imensamente paciente para ultrapassar um Paços de Ferreira que chegava a Alvalade com o peito inchado por três triunfos. Talvez por isso era expectável que não fosse tão comedido sobre o relvado como se viu no primeiro tempo.

No regresso de Sá Pinto, o José Alvalade esperava um leão de vontade, à imagem do técnico. Chegou a impacientar-se, mas saiu para o intervalo a sorrir por desgraça alheia. Pelo meio, mais de meia hora de pouca emoção. Os leões trocaram a bola incessantemente, mas longe da baliza de Cássio. Demasiado longe, tão longe que os remates leoninos não chegaram, sequer, para completar os dedos de uma das mãos.

Sem correr riscos, o leão esperou pelo erro adversário. Mas podia ter derramado sangue primeiro que o Paços, quando Michel se isolou perante Patrício. O avançado atirou ao lado e o jogo ofensivo dos visitantes, na primeira parte, acabou ali, ao quarto-de-hora.

Do outro lado não havia muito mais do que um lance bastante duvidoso na área pacense, entre Ricardo (destinado a protagonista) e Wolfswinkel. Em jogo corrido, o Sporting girava a bola, para a esquerda, para a direita, mas sem ninguém capaz de desequilibrar. Por isso, para haver 1-0 ao intervalo, refugiou-se na falha pacense: Cássio socou a bola contra Ricardo e o central fez autogolo. Depois dos golos de Carriço e André Santos, «recuperados» pelo novo técnico em Varsóvia, Sá Pinto trouxe uma estrelinha de sorte que se apagara ainda com Domingos Paciência.

«Mãozinha» de Ricardo e as duas de Patrício

Depois de um primeiro tempo de pouca emoção, em que o público apenas se levantou para aplaudir o golo e reclamar da decisão do árbitro no lance de Ricardo e Van Wolfswinkel, os adeptos voltaram a agitar-se nas cadeiras. Não porque o nível de desempenho da equipa subiu, mas pelo modo como a equipa treme quando vê alguém lançado para a área de Patrício.

Manuel José obrigou o guarda-redes a defesa apertada, e, mesmo que fosse um oásis no futebol sobre o relvado, a verdade é que o leão nem atirar à baliza conseguia. Quando Ricardo, outra vez, meteu a mão à bola e levou Van Wolfswinkel para a marca de penalty, Alvalade encheu-se de esperança, a mesma com que iniciara o encontro para saudar Sá Pinto. Mas o holandês desperdiçou o penalty e obrigou Rui Patrício, instantes depois, a segurar o 1-0 por duas vezes.

Num jogo mau, o árbitro também não escapou, ao marcar fora da área uma falta sobre João Pereira, que devia ter dado nova oportunidade a Van Wolfswinkel de bater um penalty. Assim não foi e o sofrimento leonino prolongou-se até ao apito final.

Sá Pinto assume que tem de devolver confiança à equipa e depois, sim, enchê-la de alegria. Entre uma coisa e outra, tem, ironia das ironias, de pedir aos adeptos um pouco de paciência. O momento é para vencer, dê por onde der. É isso que fica no almanaque, quando se procurar a estreia de Sá Pinto. Ainda bem, porque a exibição, essa, quase que foi para esquecer.