O Sporting regressou às vitórias em casa, às goleadas e à liderança, pelo menos até o FC Porto enfrentar as curvas da estrada até Arouca. Tudo isto aconteceu depois de uma oferta de Rafael Martins que entregou as chaves do jogo a Leonardo Jardim e impediu José Mota de continuar confortável no jogo. Em Alvalade a festa foi grande. Faz sentido, a coerência é algo que merece ser festejado.

«Então muito obrigado» . Quando recebemos uma oferta manda a boa educação agradecer. Não sei se os jogadores do Sporting o fizeram, mas ao intervalo o erro de Rafael Martins estava a fazer toda a diferença. Aquele passe atrasado, já perto do descanso, deu a Montero o que ainda nenhum dos colegas tinha conseguido: uma flagrante oportunidade de golo. Como tem sido habitual, o colombiano foi competente.

Mas, afinal, qual era o problema do Sporting até esse lance? Na verdade, o problema maior era o singular não chegar para descrever o que se passava.

O
primeiro problema , sejamos justos, era a boa organização do Vitória de Setúbal. Montado com um ou dois médios à frente da defesa e um terceiro a seguir de perto William Carvalho, preparara-se muito bem para suportar o Sporting. Sem Jefferson para desequilibrar na esquerda e com Cédric muito preocupado com Rafael Martins, restavam ao Sporting André Martins, o desequilibrador, e Montero, sempre a ameaçar fazer de meia chance de golo um grande acontecimento.

Sim, o facto de ter saltado dois dos médios do Sporting era
outro dos problemas . Adrien e William não conseguiam ter bola porque os sadinos nunca retiravam gente do centro do terreno. Para piorar um pouco as coisas, na direita Wilson Eduardo estava um absoluto zero ( terceiro problema ) e Carrillo tentava, mas por norma faltava-lhe um bocadinho assim ( quarto problema ).

Como se não bastasse, por volta da meia hora o Vitória de Setúbal até começou a conseguir sair, quase sempre pelo lado de Piris, que se estreava em Alvalade. Criou uma oportunidade de golo, por Ricardo Horta, e chegou perto de Rui Patrício. A coisa podia piorar?

Podia, mas logo a seguir Rafael Martins cometeu
o tal erro , entregando a prenda à pessoa errada. O Sporting chegava à vantagem sem antes ter conseguido perceber como teria de jogar para o conseguir. O futebol também tem dias bons .

A cara do jogo não mudou muito depois do intervalo. Com uma diferença: o Sporting estava a ganhar e por isso mais confortável naquele jeito de quem nunca sente que é preciso pressionar muito, de quem não se deixa desequilibrar emocionalmente.

Para o Vitória as coisas estavam substancialmente mais desagradáveis. Montada para defender e procurar sair depressa à procura dos erros do adversário, defrontava um grande, fora de casa. Um grande que conhece em detalhe as suas próprias limitações e que por isso arrisca pouco. Foi neste contexto, com o jogo equilibrado, que apareceu o golo de Carrillo. O peruano fez uma extraordinária simulação que permitiu a Adrien ficar com a bola sobre a esquerda. O médio, com espaço, progrediu e devolveu a Carrillo já na área. Desta vez a eficácia aliou-se à beleza e a bola entrou. Aos 60 minutos tudo parecia resolvido. Alguém acreditava em dois golos do Vitória de Setúbal?!

Aos 66 minutos Cardozo impôs-se na área e permitiu a Diogo Rosado, da formação do Sporting, rematar forte. Mas ao lado. O Vitória entregou-se ali. Em Alvalade cantava-se nas bancadas. De facto, os tempos são de felicidade. Para o Vitória, assumir a bola é um problema e a equipa de José Mota não foi capaz de o fazer mantendo-se unida. Os espaços apareceram, a história inverteu-se, agora era o Sporting quem tinha por onde caminhar. Sem surpresa, o 3-0 apareceu. Adrien, Piris, cruzamento e golo de Montero, um ponta-de-lança de
inacreditável eficácia .

A porta estava aberta. Seguiu-se a grande penalidade de Adrien, ainda com 15 minutos para jogar.

Leonardo Jardim montou uma equipa que é, antes de outra coisa qualquer, muito consciente do que vale. Isso tem permitido gerir bem os jogos e aproveitar os acidentes dos adversários (a expulsão em Braga, a oferta de Rafael Martins este sábado). Sem cometer grandes erros. No campeonato atual, com o FC Porto sem todo o equilíbrio de outros dias e o Benfica mal, não é preciso atingir a excelência para ser líder. Basta ser coerente. E isso o Sporting é, o que lhe permite, à sétima jornada, esperar pelo FC Porto no primeiro lugar. E ir crescendo.