A FPF pronunciou-se esta sexta-feira sobre os incidentes na Academia do Sporting, em Alcochete, na passada terça-feira.

O organismo fala em «inaceitáveis acontecimentos», apela a uma tomada de posições firmes quanto à violência no desporto e confirma a realização da Taça de Portugal este domingo.

No mesmo comunicado, a FPF volta a falar dos grupos organizados de adeptos: «O País necessita de responder de forma diversa ao aumento de atos de violência extrema associados ao fenómeno desportivo. A legalização de grupos organizados de adeptos é inócua e ineficiente. É preciso dizê-lo sem temer as palavras. A FPF afirmou-o em outubro do ano passado, na Assembleia da República.»

Comunicado da FPF na integra

Desde terça-feira, depois dos inaceitáveis acontecimentos na Academia do Sporting, em Alcochete, a FPF recolheu um conjunto de informações junto das mais relevantes instituições do Estado.

Hoje mesmo, as autoridades policiais – a quem compete garantir a segurança de espectadores e agentes desportivos envolvidos na Final - asseguraram que estão reunidas todas as condições para que o jogo se realize.

A Federação Portuguesa de Futebol saúda e agradece o esforço das autoridades policiais e judiciais e a forma como têm lidado com esta situação triste e excecional. A FPF entende que estas garantias, conjugadas com a vontade dos atletas em disputar o jogo, permitem, neste momento, confirmar a realização da Final da Taça de Portugal, no próximo domingo, às 17:15, no Estádio Nacional.

Apesar disso, é nossa convicção que nenhum golo, nenhuma defesa, nenhuma vitória, nenhuma taça apagará as consequências do que se passou em Alcochete. Quem pensar assim está a pactuar com o intolerável.

Sem prejuízo da disputa da Prova Rainha do Futebol português, para a qual se qualificaram o Desportivo das Aves e do Sporting, não pode a FPF deixar passar os factos que os portugueses viram, como se eles fossem normais ou, pior, como se não tivessem ocorrido.

Cremos que existem dois planos a distinguir:

O País necessita de responder de forma diversa ao aumento de atos de violência extrema associados ao fenómeno desportivo. A ”legalização” de grupos organizados de adeptos é inócua e ineficiente. É preciso dizê-lo sem temer as palavras. A FPF afirmou-o em outubro do ano passado, na Assembleia da República.

O Estado necessita de criar mecanismos adequados de resposta e, se for o caso de já os ter – e também afirmámos no Parlamento que esses mecanismos existem –, garantir que eles são adequadamente aplicados. De pouco ou nada adianta legislar se quem aplica as leis quase nunca se socorre delas.

No plano desportivo não há que temer a ação. A Lei atual entrega exclusivamente aos clubes profissionais de futebol a elaboração das suas regras e respetivas medidas punitivas. A Federação Portuguesa de Futebol e os seus órgãos disciplinares aplicam as normas que os clubes e sociedades desportivas decidem criar.

Cremos que é tempo - já o é há muito - de os regulamentos atacarem os verdadeiros problemas do futebol.

Aproveitamos a oportunidade para recordar que a 22 de setembro de 2017 o Presidente da Federação, Fernando Gomes, denunciou, em artigo publicado em vários jornais nacionais, os “sinais de alarme no futebol português”.

A 25 de outubro de 2017 esteve na Comissão de Educação, Ciência, Cultura e Desporto, no Parlamento. Teve, nessa altura, oportunidade de agrupar os problemas em três áreas: relação com a arbitragem, comportamento dos adeptos e respeito pelas mais elementares normas éticas do desporto.

Revelou ameaças concretas a árbitros – todas já entregues às autoridades policiais - e partilhou um conjunto de propostas absolutamente concretas, entre as quais a criação de uma autoridade administrativa, vocacionada para a segurança e combate à violência no desporto.

Tivemos oportunidade de afirmar, também nessa audição, que o Conselho Nacional do Desporto deveria ser dotado de poderes para inabilitar pessoas para as funções de dirigente desportivo nas diversas modalidades.

Várias destas medidas merecem ser executadas e, por isso, a Federação Portuguesa de Futebol mantém total disponibilidade para auxiliar o Estado, no limite das nossas competências, no sentido de essas propostas serem implementadas.

Apelamos a que no domingo todos saibam estar à altura do futebol, do momento que vivemos e da história da Taça de Portugal.