Mantém contactos com os antigos companheiros, sobretudo com Esgaio e Bragança, diz que Hjulmand é um “grande capitão”, que Rui Silva deu “estabilidade à baliza do Sporting”, que o estilo de jogo de Gyökeres combina com o do Atlético Madrid, e que se Ruben Amorim tivesse continuado «provavelmente o Sporting já teria sido campeão há mais tempo».

Na véspera do jogo mais importante da época do Sporting, falámos com Antonio Adán, um dos protagonistas dos últimos dois títulos do Sporting, em 2021 e no ano passado. Foi um dos capitães dos leões nas últimas épocas, um dos protagonistas dos festejos no Marquês de Pombal há um ano e está a pensar voltar a Alvalade no sábado para torcer pelos antigos companheiros de equipa.

Aos 38 anos, o guarda-redes espanhol está sem clube, mas quer voltar a jogar na próxima época e mostra-se «de braços abertos» a regressar ao Sporting no final da carreira.

Em conversa com a CNN Portugal, uma entrevista que o Maisfutebol publica na íntegra, Adán fala ainda de um compatriota que brilha no Benfica e que acredita poder ser uma boa opção para o Real Madrid: Álvaro Carreras.

Maisfutebol - Antonio, já entrou em contacto com os seus antigos companheiros nesta semana tão especial?

Antonio Adán (AA) - Ainda falo muito com eles, desde jogadores, membros de staff, todos. Foi uma etapa muito especial na minha carreira e isso foi também graças a todos os trabalhadores do Sporting. Falo mais frenquentemente com o Ricardo Esgaio, com o Daniel Bragança, para ver como está a evoluir da lesão, com muitos fisioterapeutas, com a Carla Gomes, uma pessoa que foi muito importante para mim e para a minha família enquanto estive em Portugal.  Mantenho uma ótima relação com todos eles.

MF – Que conselhos quer dar à equipa do Sporting antes de um jogo tão importante como o do próximo sábado com o Vitória?

AA - É um contexto fácil, a equipa depende de si, o jogo é no Estádio José Alvalade, com o apoio dos adeptos, o que vai dar um grande empurrão para que o Sporting seja campeão.  É um momento especial, não é preciso passar mais motivação, o que se pode conseguir é incrível, dois campeonatos em dois anos seguidos é algo que não acontece há muito tempo no clube, mas os jogadores devem estar com a tranquilidade de que o vão conseguir.

MF – Que memórias tem da festa do título há um ano?

AA - Para mim, foi uma altura complicada, porque estava lesionado, acabei a época de fora, a ver os jogos da bancada, mas foi algo muito especial porque conseguimos dois campeonatos em quatro anos e isso não é nada fácil. Estava muito emocionado. Nessa noite em que festejámos, começámos por jantar em Alvalade para ver o jogo do Benfica, e quando acabou foi uma explosão de alegria muito grande.

MF – Depois vieram as bebidas…

AA - São momentos em que dá para tudo, para beber, para comer…Depois de um ano de tantas dificuldades, aquele foi o momento em que nos libertámos, em que estavámos com as famílias. Nós temos de nos permitir libertar de um ano de sacrifícios, em que não podemos fazer nada, por isso quando alcanças um título, tens de desfrutar ao máximo, foi o que eu fiz, gosto muito de celebrações. Aquela loucura de subir ao andaime, no Marquês de Pombal, e tudo isso, foi algo curioso, mas também só o fiz porque tinha a sensação de que podia ser o meu último momento no Sporting e queria desfrutá-lo ao máximo.

MF – Como é que está nesta fase? Ainda sem clube?

Sim, estou bem, estou tranquilo, no último verão apareceram algumas opções, mas depois nada se concretizou. Continuo a trabalhar ao máximo para voltar na melhor forma possível, cheguei a estar uns meses na Arábia Saudita a treinar, mas o clube tinha dificuldades e a Liga acabou por não autorizar a transferência. Voltei para Madrid, estou a aproveitar o tempo com a família, e vamos ver o que acontece no verão. Se houver algo que me agrade, desportivamente e financeiramente, avanço.

MF - Equaciona, por exemplo, voltar a Portugal?

AA - Estou aberto a qualquer opção, desde que seja para ser protagonista, quero um projeto que seja bom para a família, e também positivo do ponto de vista económico, não lhe vou mentir…Não descarto a opção de voltar a Portugal, no ano passado estive em conversações com um clube português, mas nada avançou.

MF – Como é que está a ver a sucessão ao Adán na baliza do Sporting?

AA - Apostou-se na contratação do Kovacevic, uma opção que não resultou, houve muita irregularidade, depois entrou o Franco Israel e também não conseguiu agarrar o lugar. Até que chegou o Rui Silva, que está a mostrar o grande guarda-redes que é, a provar as grandes temporadas que fez em Espanha. Chegou ao Sporting e deu novamente estabilidade à baliza da equipa.

MF - Como é que viu a saída de Ruben Amorim, um treinador que conhece tão bem, a meio da época?

AA - Já se falava há muito da possibilidade de o Ruben sair. É dificil dizer que não a oportunidades destas, ele estava à espera de um clube do prestígio do Manchester United há algum tempo, por isso era muito complicado para ele. Na minha opinião, não podes dizer que não a estas oportunidades, mas é claro que foi um momento duro para o clube e para o Ruben também. Ele era uma figura no clube, assumia todas as responsabilidades, era mais do que um treinador, na mensagem que passava para fora, para dentro, na comunicação que tinha com os adeptos, com a imprensa. De um momento para o outro, isso caiu.

MF - E também saiu o Hugo Viana, outro pilar da estrutura…

AA – O Ruben e o Viana complementavam-se muito bem, era amigos íntimos. O importante é que o Sporting conseguiu dar a voltar, conseguiu reeguer-se. Quanto ao Ruben, está a passar um momento complicado, mas vai fazer do Manchester United tudo aquilo que vimos o clube fazer em toda a sua história.

MF – Como definiria o Ruben Amorim?

AA - É um fanático do futebol, lembro-me de antes dos nossos jogos, quando os jogadores estavam no balneário, ele estar a ver jogos de outros campeonatos para ter ainda mais conhecimento futebolístico. Ele é tremandamente inteligente, tem uma comunicação muito clara e sincera com os jogadores, com os adeptos, com a imprensa. Isso faz com que todos estejam com ele e vão onde ele for. O vínculo que tem com os jogadores é o que o faz especial, mesmo nos momentos mais difíceis, a mensagem dele faz-nos levantar imediatamente. A vantagem do Sporting sobre o 2.º classificado era tão grande quando o Ruben saiu, que se ele tivesse continuado, provavelmente, o Sporting já teria sido campeão há muito tempo.

MF - Esta época também foi marcada pelas saídas de alguns dos pilares da equipa como o Adán, o Paulinho, o Coates, o Neto. Como é que viu essa transição na liderança?

AA - O mais importante é que o clube tenha um projeto suficietemente forte. Já havia jogadores que mostravam personalidade para liderar a equipa, o Morten Hjulmand sempre mostrou isso. Pela personalidade, pelo compromisso, e depois também ganhou o respeito de todos pela forma como joga. É um grande capitão e apoia-se em jogadores como o Daniel Bragança, o Ricardo Esgaio ou o Nuno Santos, que têm muito peso no balnéario.

MF – Por falar em individualidades, o que dizer do Viktor Gyökeres?

AA - O Sporting conta com um jogador que está ao nível dos melhores avançados da Europa, isso dá tranquilidade à equipa para encarar os jogos com ainda mais força. O Viktor tem feito anos incríveis no clube, está a acima da média na Europa, é um animal goleador, só quer marcar golos, mais, mais e mais.

MF – Tem-se falado muito no interesse do Altético Madrid no Viktor Gyökeres. Acha que o estilo da equipa de Simeone combina com o futebol do sueco?

AA - O estilo de jogo dele encaixa-se no futebol inglês, mas também muito na forma de jogar do Atlético Madrid. Se me falar de um Barcelona ou de um Real Madrid, o estilo é diferente do que ele gosta e de que está habituado, mas sinceramente acho que o estilo de jogo do Atlético poderia ajudá-lo. Se sair, e se o clube fizer uma boa venda com ele, o Atlético seria um bom clube para ele.

MF – No campeonato português, também se está a destacar um jogador espanhol, o Álvaro Carreras, que é alvo do Real Madrid. Seria uma boa opção para os merengues?

AA – O Carreras está a fazer uma grande época, a jogar a um grande nível, é jovem, isso dá-lhe hipóteses de chegar ao Real e ter tempo para vingar. Aqui em Espanha fala-se muito dessa possibilidade, podia ser um bom jogador para o Real Madrid.

MF – Antonio, já li em alguns fóruns de adeptos pedidos para que volte ao Sporting mesmo que seja depois de terminar a carreira. O que lhe parece?

AA – Eu ainda sinto o carinho de todos os adeptos, fui sempre muito bem tratado, sempre senti o respeito de todos e agora, mesmo longe, também o sinto. O Sporting sabe que estarei sempre disposto a voltar, não neste momento, porque quero continuar a jogar, mas no futuro as minhas portas estarão sempre abertas ao Sporting, por tudo o que vivi no clube.

MF – Quer deixar uma mensagem aos seus ex-companheiros de equipa para o jogo de sábado?

AA - Nós estamos todos confiantes de que vão conseguir mais um título, que vão celebrar mais uma vez, desejo-lhes sempre o melhor. Que não sejam apenas dois títulos seguidos, mas que possam dar seguimento a este momento especial que está o clube está a viver.

MF - Vai ao estádio e, eventualmente, à festa no Marquês no sábado?

AA - Sim, pensei em ir a Alvalade ver o jogo, passar o fim de semana em Portugal, mas ainda não sei. Oxalá possa viver mais uma vitória e uma conquista do Sporting.