«FACTOS E ARGUMENTOS» é um espaço do Maisfutebol destinado a cruzar declarações ou teses com números e dados irrefutáveis. Por vezes, a alta velocidade do dia-a-dia condiciona a avaliação criteriosa do que é dito, sem o imperioso contraditório.
«Acho que nós já atingimos o mesmo número de golos do ano passado, se não me engano.»
Após a vitória sobre o Famalicão por 2-1, Ruben Amorim foi desafiado a identificar o que falhou numa época 2022/23 aquém das expectativas. Com a frase acima, o treinador do Sporting pretendia argumentar que não era pela falta de golos que os leões estavam no 4.º posto da Liga, até porque na temporada passada a equipa lutara pelo título com semelhante registo goleador.
Os números batem com o que Amorim disse?
De facto, à 30.ª jornada o Sporting não só atingiu como até já tem mais golos apontados do que na mesma ronda da época passada – 61 contra 59 – e, já agora, do que na temporada do título, quando os leões tinham 54 remates certeiros na jornada que até coincidiu com a conquista matemática do primeiro campeonato em 19 anos.
Amorim reconheceu, no entanto, que apesar do registo global de golos até acima das suas outras duas temporadas completas à frente do Sporting, a consistência e a eficácia foram problemas em alguns jogos.
O peso dos pontas de lança
Em nenhuma das três temporadas completas de Amorim ao leme do Sporting, o maior goleador da equipa foi a principal referência ofensiva: Pote liderou em 2020/21 (23 golos), Pablo Sarabia em 2021/22, com 15 remates certeiros e na presente temporada Pote voltou a assumir maior protagonismo, tendo nesta altura 15 golos na Liga.
Números elucidativos daquilo que Ruben Amorim entende ser mais a consequência de um plano estratégico do que um problema. O técnico dos leões até dispensa por vezes a utilização de um ponta de lança, como aconteceu precisamente neste domingo, quando alinhou de início com Pote, Edwards e Trincão na frente, deixando no banco Youssef Chermiti.
Mas a verdade é que o peso direto dos pontas de lança nos golos do Sporting ameaça ser o mais baixo de todas as épocas completas de Amorim no clube, cenário que não pode ser dissociado também da condição física de Paulinho, que falhou 12 jogos no campeonato.
Ainda assim, e apesar dos bons números dos que os rodeiam – casos de Pote, de Edwards ou de Trincão – os pontas de lança representam apenas sete dos 61 golos do Sporting nesta Liga: cinco golos de Paulinho e dois de Youssef Chermiti. Números ainda aquém do total de 2020/21 (nove) e de 2021/22 (15). «Se formos ver, tudo à volta do avançado marca sempre muitos mais golos do que é normal. Vamos ver se dá um forcing no avançado e se o Youssef e o Paulinho começam a marcar mais golos, porque acredito que vamos melhorar nesse aspeto», assinalou Ruben Amorim também na conferência após o Sporting-Famalicão.
Fica claro que o treinador do Sporting deseja que os pontas de lança sejam mais concretizadores e possam, por consequência, alavancar os números ofensivos de uma equipa que, apesar de achar que não é por aí que ficou arredada do título e possivelmente da luta por lugar de apuramento para a Liga dos Campeões, apresenta o pior ataque dos quatro grandes, atrás de Benfica, Sp. Braga e FC Porto, por esta ordem.
Onde mais pode estar a diferença?
Possivelmente na defesa. Amorim tem considerado que o Sporting é hoje uma equipa mais autoritária nos seus jogos e que concede menos oportunidade aos adversários comparativamente com o passado. No entanto, os números, vistos a nu, mostram também uma equipa defensivamente mais permeável.
Em 2020/21, os leões terminaram a Liga com apenas 20 golos sofridos e na época passada fecharam a campanha com 23. Nesta temporada, ainda com quatro jornadas por se realizarem, já encaixaram 28 tentos. E, também aqui, perdem para todos os rivais.
Na verdade, nunca desde a primeira época completa de Amorim no Sporting, a equipa de Alvalade apresentou registos ofensivos e defensivos piores do que Benfica, FC Porto e Sp. Braga.