Adrien Silva falou, de forma aberta, sobre a mudança do Sporting para o Leicester e o facto de ter ficado impedido de jogar entre setembro de 2017 e janeiro de 2018. «Nunca vou entender a decisão da FIFA», disse o internacional português, que também abordou o papel do presidente leonino na transferência.

«Tive algumas lesões na minha carreira, mas aí sabe-se porque não se joga, faz parte do futebol e aceita-se», começou por dizer Adrien Silva, ao The Guardian.

«A situação não foi correta e não foi porque eu estava apto fisicamente para jogar e não fiz nada de errado para aquela situação sucedesse», acrescentou o médio.

«Nunca vou entender a decisão da FIFA, mesmo depois de o Leicester ter tentado inverter a situação», comentou.

A entrega dos papéis da mudança de Adrien passaram o prazo de transferências por 14 segundos, mas o organismo que tutela o futebol mundial foi firme na decisão e não aceitou a inscrição do internacional português.

Adrien ficou a viver num hotel durante várias semanas e a treinar-se sozinho, pois não o podia fazer com a equipa.

«Não há qualquer proteção dos jogadores nestes casos. Se os jogadores são a parte mais importante, então por que é que a FIFA não pensa nisso e abre exceções? Tudo bem quando se passa o prazo por horas, mas estamos a falar de segundos neste caso, por isso, acho que foi uma má decisão», considerou o camisola 14 dos Foxes.

O papel de Bruno de Carvalho

O repórter do The Guardian explicou a Adrien que, durante algum tempo, ninguém na imprensa sabia se ele era do Sporting ou do Leicester. «Nem eu», respondeu o português.

Ora, é por esta altura da entrevista que Adrien fala do papel de Bruno de Carvalho. A determinada altura, o presidente do Sporting afirmou: «A transferência de Adrien está completa. Espero claramente que o Leicester o consiga inscrever.»

Escreve o jornalista inglês que aquele comentário dava a impressão de que o clube de Alvalade estava a «lavar as mãos em relação a eventuais problemas» e que, com isso, em mente, Adrien foi questionado sobre se sentia alguma frustração pelo modo como o clube tinha atuado: «Com o Sporting não. Com o presidente. O que é diferente.»

Adrien Silva completou depois: «Creio que ele tentou proteger o seu clube. Mas no futebol, quando se representa um clube, é mais importante proteger a pessoa ou o jogador.»

O The Guardian informa que as negociações foram extremamente complicadas e que Adrien fez muitas concessões ao Sporting, de modo a poder mudar-se para Inglaterra. Também indica que o Leicester estava determinado a fechar o negócio e que o clube inglês sempre manteve de que fez a entrega dos documentos a tempo.

Ainda assim, a FIFA considerou sempre que não e, por isso, rejeitou a inscrição de Adrien Silva. Questionado sobre a quem atribui responsabilidade pela situação em que se encontrou, Adrien respondeu: «Para mim, sobretudo, a FIFA.»

Adrien Silva também revelou que a maior preocupação que teve foi falhar o Mundial 2018 devido a este caso: «Tinha isso em mente todos os dias o que só fez pior.»

Já com todas as hipóteses excluídas, Adrien decidiu que tinha de mudar a perspetiva. Aqueles 14 segundos provocaram-lhe uma mudança significativa, por isso, o médio português optou por encarar o caso com algum humor.

«Estava a falar com o meu empresário, que passou um mês e meio comigo no hotel, e disse-lhe: “Temos de gozar com isto. Porque não jogar com o número 14?”», atirou.

Em janeiro, Adrien estreou-se com a camisola do Leicester e disse que, naquele dia, sentiu que «queria comer a relva».

Na entrevista, também contou como José Mourinho o convidou a assinar pelo Chelsea -  que o Chelsea defronta neste domingo -, de como isso irritou o Sporting e de que tomou a decisão de ficar nos leões pois os londrinos não ofereciam uma perspetiva a longo prazo, como sucedia com os verdes e brancos.

Já como jogador do Leicester, o Sporting proporcionou-lhe o regresso a Alvalade, para uma homenagem simbólica ao antigo capitão.

«Todos os anos que lá passei vieram-me à memória e, por isso, foi muito sentimental. O Sporting fez-me jogador, mas também homem e, por isso, terá sempre um lugar especial no meu coração», disse.