Bruno de Carvalho, Bruno Jacinto e Mustafá foram absolvidos de todas as acusações no julgamento do ataque à Academia do Sporting, acompanhado pelo Maisfutebol ao minuto, enquanto os restantes 41 arguidos foram condenados por crimes de ofensa a integridade física qualificada, ameaça agravada e introdução em local vedado ao público. Ficaram por provar os crimes mais graves, como sequestro e terrorismo.

Em resumo, dos 44 arguidos, três foram absolvidos de todos os crimes, nove foram condenados a cinco anos de prisão efectiva, por já terem antecedentes criminais, enquanto os restantes 28, entre os quais o agressor de Bas Dost, foram condenados a penas suspensas e trabalhos comunitários. Há ainda quatro arguidos condenados a pagar multas.

O antigo presidente do Sporting, como já se previa, foi absolvido de todas as acusações, depois do Ministério Público não ter conseguido provar que tenha procurado incentivar os adeptos a invadir a academia.

«Não se prova que as publicações de Bruno de Carvalho nas redes sociais tenham servido para incitar os adeptos. Não se prova qualquer causa-efeito na expressão “façam o que quiserem” e o que aconteceu na academia. Quanto à reunião em que o arguido perguntou quem estava com ele, essa expressão foi utilizada no sentido de saber quem estava com aquela direção», refere o acórdão.

Também ficaram por provar que Mustafá, líder da claque Juventude Leonina, e Bruno Jacinto, antigo Oficial de Ligação aos Adeptos, tenham sido autores morais dos crimes.

«O arguido Nuno Mendes Mustafá não foi à Academia, nenhuma das testemunhas o referiu. O seu nome apenas foi referido por outras nas conversas de Whatsapp. Não existe nos autos qualquer mensagem do arguido Nuno Mendes. Relativamente ao Bruno Jacinto, não se fez prova de nada. Não se fez prova que deu ordens ou que participou», destacou a juíza.

Com três absolvições, a juíza identificou depois os restantes arguidos. «Tribunal provou que 37 arguidos entraram na Academia, a correrem em passo acelerado, sabiam que era um espaço vedado», referiu a juíza Sílvia Pires, identificando depois o nome dos arguidos que invadiram Alcochete «de cara tapada para não serem identificados».

Penas mais pesadas para os que tinham antecedentes criminais

Entre os acusados, nove deles - Domingos Monteiro, Bruno Monteiro, Nuno Torres, Pavlo Antochuk, Leandro Almeida, Tiago Neves, Getúlio Fernandes, Elton Camara e o antigo presidente da Juve Leo Fernando Mendes - tiveram condenações mais pesadas, com cinco anos de prisão efetiva, por já terem antecedentes criminais. «Há um que até já tem 17 condenações anteriores. Um tribunal não tem um cartão cliente», justificou a juíza.

Rúben Marques, de 21 anos, o único réu a assumir que agrediu jogadores, foi condenado, em cúmulo jurídico, a quatro anos e dez meses de pena suspensa e 200 horas de trabalho comunitário. Uma pena mais leve atendendo à idade e à conduta que o arguido demonstrou em tribunal.

«Prova-se que dentro do balneário, foram arremessados quatro engenhos pirotécnicos. As agressões a Bas Dost são dadas como provadas, foi pontapeado e agredido enquanto estava no chão. Não se consegue provar quem agrediu Battaglia, é inconclusivo. Dão-se como provadas as agressões do arguido Ruben Marques a Bas Dost, Misic e Jorge Jesus. Não se fez prova que tenham causados estragos as instalações, apenas um estrago a um Porsche os quais foram feitos por Ruben Marques.»

«Esta é uma oportunidade que o tribunal vos está a dar»

O acórdão conta ainda com quatro arguidos que foram condenados a 40 dias de multa a oito euros por dia, pelo crime de introdução em local vedado ao público.

Os restantes 28 arguidos ficaram todos com penas suspensas [variam entre três anos e 10 meses e os 4 anos e 10 meses], pelos crimes de «ofensa a integridade física qualificada, ameaça agravada e introdução em local vedado ao público», mas foram retiradas todas as acusações mais graves, relacionadas com sequestro e terrorismo. O arguido Celso também foi absolvido da acusação de detenção de arma proibida.

Ficou ainda por provar que os arguidos tenham impedido a saída dos jogadores do balneário. «Foram também arremessados engenhos pirotécnicos no interior do balneário, facto que fez os jogadores temerem pela vida. Não se provou que os arguidos tenham impedido a saída dos jogadores. Fernando Mendes e Nuno Torres mantiveram sempre na retaguarda do grupo», refere o acórdão.

Já perto do final da sessão, a juíza fez questão de dirigir-se diretamente aos arguidos que ficaram apenas com penas suspensas.

«A bola está do vosso lado. Esta é uma oportunidade que o tribunal vos está a dar. Agarrem-na. Pensem no que querem fazer com a vossa vida. Todos nós erramos. Sejam homens com H grande. Ser homem é assumirmos os nossos erros e não entrar de cara tapada num sítio a correr. Assumam os vossos erros», apontou.