O Ministério Público acusa Bruno de Carvalho de ser o «autor moral» do ataque a Alcochete, considerando que o antigo presidente leonino apoiou a escalada de violência que culminou nas agressões aos jogadores e equipa técnica.

O despacho de acusação indica que as declarações de Bruno de Carvalho no Facebook, após a derrota do Sporting em Madrid, «visavam determinar os adeptos à prática de ações violentas contra jogadores e equipa técnica», sabendo o dirigente que «tais comentários potenciavam um clima de animosidade, que já existia entre a Juve Leo, os jogadores e a equipa técnica».

A acusação indica que no dia 9 de abril, Bruno de Carvalho, juntamente com André Geraldes e Bruno Jacinto, reuniu com elementos da Juve Leo na Casinha, da claque, tendo nessa altura sido sugerido fazer uma visita à Academia. Segundo o despacho, o então presidente leonino respondeu a essa sugestão com um «façam o que quiserem».

É também referido no documento que Bruno de Carvalho manteve no dia 7 de abril uma reunião com o plantel em Alvalade, altura em que William Carvalho confrontou o presidente com o facto deste, supostamente, ter mandado Mustafá partir os veículos dos jogadores.

«Mustafá, diz lá ao Williamzinho se eu alguma vez te mandei partir os carros»

«Bruno de Carvalho ausentou-se do local, regressando após cerca de 5 minutos, com uma chamada em curso e em voz alta no seu telefone, com o presidente da claque, a quem perguntou diante de todos os presentes: Mustafá, diz lá ao Williamzinho se eu alguma vez te mandei partir os carros dos jogadores ou bater em alguém». Mustafá respondeu que não e Bruno de Carvalho terá dito então a William que, se lhe quisesse bater, não precisava de chamar ninguém para o fazer.

A acusação refere também que só depois de Mustafá se dirigir à zona do estádio onde estava Bruno de Carvalho é que a claque recebeu autorização, do próprio presidente, para enviar tochas para a zona onde se encontrava Rui Patrício, no jogo frente ao FC Porto.

Na sequência desse facto, o detido Emanuel Calças enviou um whatsapp num grupo de conversação da claque a dizer «lindo» e «amo-vos», ao que o também detido Ricardo Neves respondeu «a única coisa boa neste jogo de m...».

Depois do jogo na Madeira, com o Marítimo, é referido que no aeroporto o antigo líder da Juve Leo, Fernando Mendes, avisou Rui Patrício de que falariam em Alcochete.

A partir daí é criado um grupo no whatsapp, chamado Exército Invencível, com 14 membros, entre os quais Mustafá, que lia as mensagens mas nunca respondeu a nenhuma, e mais sete adeptos que foram detidos após o ataque a Alcochete. Nesse grupo são trocados vários incentivos por vários membros da claque para se bater nos jogadores.

«Levam todos, menos o Bruno Fernandes»

Nessa altura começam a falar sobre quando o podem fazer, surgindo a sugestão de visitarem a Academia de Alcochete. «Alcochete antes do Jamor», escreve um dos detidos, João Moreira. Começa a ser combinada, então, a melhor forma de fazer o ataque: caras tapadas, todos juntos, um grupo de 20 a 30 adeptos.

Numa nova conversa no grupo de whatsapp, mantida a 14 de maio, um dia antes do ataque, o detido Ricardo Neves diz que William Carvalho «é o primeiro que quero bater», acrescentando logo a seguir «levam todos menos o Bruno Fernandes» e depois «até o Coentrão». Mais tarde, porém, diz que «não vou andar aqui a escolher ninguém» e «é bater em todos e ponto».

Filipe Alegria acrescenta «levam todos, até o Paulinho».

Também no dia 14 de maio é criado um outro grupo no whatsapp, chamado de Academia Amanhã.  Nesse grupo, Emanuel Calças diz que «tenho informação oficial que o treino é às 17 horas», acrescentando «entramos e batemos, bazamos». Foram ainda trocadas várias mensagens de organização da logística do ataque.

O encontro de Fernando Mendes com Bruno Jacinto

Bruno Jacinto, o oficial de ligação aos adeptos, foi informado pelo detido Tiago Silva no dia 15, pelas 12 horas, que ia haver o ataque a Alcochete, tendo-lhe sido pedido silêncio. Mais tarde encontra-se com Tiago Silva e Fernando Mendes, junto ao Multidesportivo de Alvalade, avisando-os de que estaria em Alcochete e só contactaria a segurança quando os agressores tivessem entrado, para evitar que aquela avisasse a GNR com tempo.

Nesse mesmo dia, 43 indivíduos atacam os jogadores e a equipa técnica do Sporting na Academia, tendo dado com um cinto em Jorge Jesus, arremessado quatro tochas contra os jogadores, uma das quais acertou em Mário Monteiro, acertado com um cinto na cabeça Misic e Bas Dost, dado vários pontapés em Bas Dost e atacado com um número indeterminado de socos e pontapés William, Acuña, Battaglia, Montero, Ruben Ribeiro, Rui Patrício, Petrovic, Mário Pinto, Carlos Mota, Ludovico Marques.

A acusação conclui que este ataque respondeu a diretivas de Bruno de Carvalho, Mustafá e Bruno Jacinto, os quais nunca fizeram nada para evitar as agressões, tendo mesmo, segundo o Ministério Público, potenciado as mesmas através da criação de um clima de violência contra os jogadores.