A discussão começou logo após o final do jogo com o Borussia Dortmund: terá Elias capacidade de substituir Adrien?

Os números são claros e dos 13 golos sofridos esta época pelo Sporting, nove foram com Elias em campo e sem Adrien Silva, ou por lesão ou por substituição.

Tudo começou em Madrid, quando os leões venciam por 1-0 e Jorge Jesus trocou um pelo outro. Os merengues iriam consumar a reviravolta e o golo de livre de Ronaldo até nasce de uma falta do internacional brasileiro.

Elias já participou em sete partida e apenas em duas o conjunto verde e branco não sofreu golos: em Famalicão para a Taça (90 minutos) e com o Moreirense em casa (entrou aos 67’ para o lugar de Adrien).

Nos restantes, Rui Patrício encaixou muitos golos. Depois de Madrid, encaixou dois com o Estoril já nos minutos finais com Elias em campo (entrou aos 76’ para o lugar de Adrien), sofreu três em Guimarães (entrou na primeira parte para o lugar do lesionado Adrien) e mais dois com o Dortmund.

O Maisfutebol falou com Silas, jogador que foi treinador por Jorge Jesus no Belenenses e que conhece as suas exigências, para perceber se Elias é vítima do sistema ou é o culpado por estes desequilíbrios.

«O Elias não teve o rendimento que o Adrien estava a ter, mas isso é normal. É um jogador com muita influência e o Elias vem de um futebol diferente, mais lento, não estava a ter minutos porque o Adrien jogava sempre, então é normal que as dinâmicas sejam afetadas», começou por explicar o agora jogador do Cova da Piedade.

Depois deixou o apontamento: «Se o Adrien tivesse saído não tenho dúvidas que o Elias ia acabar por criar dinâmicas próprias que seriam benéficas para o Sporting. Agora, não se pode pedir que o Elias em dois ou três meses que tenha a dinâmica do Adrien e a sua influência porque o Adrien já joga desde o ano passado.»

Silas salientou que os médios não são apenas fulcrais nos sistemas de Jorge Jesus, «são fulcrais em qualquer equipa», e que é muito difícil substituir alguém como o campeão europeu por Portugal ao nível que estava a jogar:

«É dificil sobretudo porque nós temos a imagem do Adrien e da dinâmica que o Adrien dá, por isso é que é mais difícil. O próprio Adrien no princípio do ano passado não estava como está agora, nem como acabou o campeonato. Acho que o Elias precisa de tempo, até a nível de ritmo competitivo. O Elias não está no mesmo patamar que estava o Adrien e não se nota só no Elias, nota-se no Markovic, estão num patamar abaixo.»

«Era um problema coletivo e o Sporting corrigiu-o com o Bruno César»

Silas esteve em Alvalade para assistir ao jogo com o Borussia Dortmund e ilibou individualmente quer Markovic e Elias dos problemas defensivos e ofensivos dos leões.

«Apercebi-me da insatisfação de adeptos do Sporting para com o Markovic. O problema não estava nele, mas na forma como o Sporting estava a defender. Um dos médios não saltava para o pressing, algo que aconteceu quando entrou o Bruno César, que começou a pressionar mais na frente e o Bryan Ruiz, que era quem já estava na posição do Markovic, preocupava-se exclusivamente com o central. O Markovic não teve esse benefício, estava preocupado com o central e com o Weigl. Acabou por correr muito mais, foi um erro coletivo, só que as pessoas só olham ao rendimento individual», afirmou.

Esse «erro coletivo» que referenciou, prejudicava também as movimentações ofensivas no sérvio: «Também é verdade que não tem conseguido fazer o suficiente por variadíssimas razões para ser o Markovic do Benfica, mas quando agarrava na bola para além de morto fisicamente acabava por perdê-la muitas vezes e os adeptos do Sporting estavam insatisfeitos. O problema era do Markovic só porque estava a executar, mas qualquer outro jogador na posição dele, com a dinâmica coletiva que o Sporting tinha, ia passar pela mesma coisa.»

O Sporting melhorou na segunda parte e Silas explica o que aconteceu.

«Era um problema coletivo e o Sporting corrigiu-o com o Bruno César, que tem um andamento diferente do Elias e deu uma dinâmica mais parecida com a do Adrien. Tem muito mais tempo com o Jorge Jesus. Com ele, o Sporting foi muito mais parecido com o que o Sporting é. Faz uma segunda parte que se pode considerar boa, tendo em conta o adversário. Teve mais ocasiões, foi mais pressionante enquanto na primeira parte não.»

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E agora, Elias ou Bruno César a «8»?

É notório e evidente que o Sporting esteve melhor com Bruno César na posição de Adrien, mesmo que a culpa não seja exclusiva do brasileiro.

Este sábado, os comandados de Jorge Jesus recebem o Tondela e existe dúvida sobre quem vai ocpuar a posição. Silas defende a continuidade.

«Nesta altura, o Bruno césar é capaz de dar mais garantias, mas por outro lado em algum momento o Elias tem que jogar para chegar a esse patamar. Sem jogar não consegue. Acho que deveria voltar a colocar o Elias, se é que ele quer contar com ele para aquela posição.  Jogando em casa com o Tondela, com todo o respeito pelo Tondela, mesmo com o Elias o Sporting é claro favorito. Acho que o ideal seria jogar o Elias», explicou.

Em seguida justificou a opção: «O Sporting vai ter muitos jogos, está em todas competições e o mister vai precisar do Elias. Portanto, o que faz sentido é que continue o Elias na posição. Depois se durante o jogo não estiver a correr bem há sempre a possibilidade de colocar ali o Bruno César, que entrou muito bem. Era melhor para o Sporting que o Elias jogasse para ganhar confiança, rotinas, minutos porque tenho a certeza que ele vai ser uma mais-valia para o futuro.»

«Acho que a posição crucial é a do Elias e se querem que ele possa vir a render a um nível muito próximo do que o Adrien rende tem que continuar a ter minutos.»

Sobre Bruno César, Silas deixa vários elogios: «Tanto pode jogar ali como numa posição mais avançada como jogou com o FC Porto e com o Real Madrid. Tanto pode jogar como médio interior, como lateral. Do Bruno César já sabemos que jogue onde jogar vai dar sempre garantias.»

E deu o exemplo, comparando Bruno César e Bryan Ruiz a si e a Zé Pedro, nos tempos de Jesus no Restelo.

«O Sporting com o Real Madrid começou com Bryan na linha e Bruno César na frente, depois trocou. Depende de jogo para jogo. Acho que o Bruno César é muito util porque pode ser utilizado em várias posições, já tinha estado com o Jesus no Benfica e conhece bem as ideias dele. O Bruno César vai ter muitos minutos e vai sempre render a um bom nível. Ele e o Bryan Ruiz podem jogar os dois e alternar posições, aconteceu isso comigo e com o Zé Pedro no Belenenses, mesmo durante o jogo. Eu ia para a esquerda e ele vinha para «10» a jogar no losango. Sporting com estes jogadores pode fazer isso.»

«Não podem pedir ao Bas Dost que seja o Slimani, nem ao Slimani que seja o Bas Dost»

Outra coisa que mudou no processo defensivo do Sporting foi a capacidade de pressão na saída de bola do adversário, já que Bas Dost não é tão bom como Slimani nesse capítulo, refere Silas.

Cabe a Jesus encontar a receita para colmatar essa qualidade do argelino: «Isso [capacidade de pressing] encontra-se com outras soluções e na segunda parte contra o Dortmund o Sporting encontrou. O Bas Dost tem coisas melhor que o Slimani, o Slimani tinha coisas melhores que o Bas Dost. A situação do pressing é um dos aspetos em que o Slimani é superior, mas o Bas Dost tem coisas melhores, por exemplo na área. Jogador que se movimenta bem, no jogo aéreo é mais forte, é inteligente.»

E depois deixou um recado para concluir: «Temos que lhes dar tempo, a verdade é que o Bas Dost já mostrou que é mais valia, agora não podem pedir ao Bas Dost que seja o Slimani, nem ao Slimani que seja o Bas Dost. São jogadores de características diferentes e o Sporting é que tem que encontrar dinâmicas para que possam render todos a um bom nível.»