O dérbi da meia-final da Taça de Portugal vai a meio, com vantagem do Benfica e o Sporting a tentar dar a volta ao 2-1 da Luz. E com muito por trás, sempre. Há a pressão do momento, quando o leão procura manter-se vivo na única competição que ainda pode vencer, depois de já ter ganho esta época a Taça da Liga e quando já está fora da luta no campeonato, mas também travar uma das mais longas séries sem triunfos frente ao rival eterno. E há o peso da história, uma decisão em Alvalade que tem sido esmagadoramente favorável ao Sporting.

A última vez que o Sporting ganhou ao Benfica em absoluto foi a 21 de novembro de 2015, precisamente para a Taça de Portugal, um 2-1 que representou a terceira vitória seguida no dérbi na época de estreia de Jorge Jesus em Alvalade. Mas o Benfica venceu ainda nessa época o dérbi da segunda volta da Liga, que seria decisivo na corrida ao título, e desde então conseguiu mais três vitórias, duas delas na atual temporada, tendo havido quatro empates.

Passaram três anos e meio, no total oito jogos sem vitórias do Sporting. Um resultado que não o triunfo nesta quarta-feira igualaria aquela que é a maior seca de vitórias dos leões frente ao Benfica, já lá vão mais de 25 anos. Houve um período maior há muito, muito tempo, 14 jogos do Sporting sem vencer entre 1908 e 1915, mas nessa altura jogava-se apenas para o Campeonato de Lisboa.

Depois disso, o maior período compreende então nove jogos. A única vez que aconteceu começou em dezembro de 1987, com um triunfo do Sporting para a Supertaça, e só terminou quase cinco anos depois. Pelo meio houve seis vitórias seguidas do Benfica, nas várias competições, dois empates e novo triunfo encarnado. Até que a 17 de outubro de 1992 Balakov entrou com pressa de quebrar o enguiço.

Marcou aos 14 segundos de jogo, e foi o Benfica a sair com a bola. Ainda sob a nuvem dos fumos lançados das bancadas antes do início do jogo, um golo mítico que o búlgaro ainda há pouco recordou no Maisfutebol: «Acho que metade do estádio nem o viu…»

Jorge Cadete estava nesse jogo. «A bola saiu do Benfica, eu recuperei e passei para o Balakov marcar um grande golo», recorda o antigo avançado ao Maisfutebol. Iordanov fez o 2-0 final aos 53 minutos, ele que acabaria expulso, tal como Filipe, do lado dos «leões», e Vítor Paneira, pelo Benfica. Jogava-se a 8ª jornada do campeonato, o Sporting ficava a dois pontos do Benfica e a quatro do líder FC Porto, mas sobretudo quebrava um longo ciclo sem vencer o Benfica. Para o campeonato, aliás, os leões não ganhavam ao rival de Lisboa desde dezembro de 1986, desde os famosos 7-1.

Cadete não se recorda de todo o peso histórico desse triunfo. Na altura essa seca de vitórias frente ao rival não era um tema de conversa no balneário, diz, nem pesava na abordagem aos jogos com o Benfica. «Não dávamos muita importância a isso, dávamos mais importância à preparação do jogo.»

É um dérbi, não precisa de incentivos adicionais, resume o antigo avançado, que também jogou no Benfica e diz que a abordagem ao grande jogo é idêntica dos dois lados da Segunda Circular. Há sempre pressão e a motivação vem por si: «É sempre dentro dos mesmos parâmetros de ansiedade, de motivação. Os momentos que antecedem um dérbi são sempre intensos.»

Leão rei e senhor em casa

O dérbi tem mais de 110 anos e a cada jogo começa de novo, embalado pelo momento e pela força que vem da história. Para um lado e para o outro. Porque para cada sinal a fazer a balança inclinar para um dos lados há outro em sentido contrário. O Sporting não ganha ao Benfica há muito tempo, mas falamos de uma decisão de Taça de Portugal em Alvalade. E em casa o leão tem sido rei e senhor.

Em 16 confrontos em Alvalade para a Taça, o Sporting ganhou 12, contra três do Benfica. Só por uma vez as águias eliminaram o rival como visitantes e já lá vão três quartos de século: foi em junho de 1943, na segunda vez que se defrontaram para a Taça de Portugal: na primeira, um ano antes, o leão venceu por 4-0. Nesse segundo duelo de Taça, no Lumiar, decidia-se a meia-final, a uma mão, e o Benfica venceu por 3-2.

As águias também ganharam o confronto seguinte em casa do Sporting, 2-1 para a meia-final em 1944/45, mas aí saiu por cima o leão, com direito a reviravolta. Não era jogo único e foram preciso três para definir o finalista. O Sporting venceu no Campo Grande, então casa do Benfica, por 3-2, e voltou a casa para ganhar o terceiro jogo por 1-0 e seguir para a final.

O Sporting voltou a dar a volta na terceira e última vez em que o Benfica ganhou na sua casa para a Taça. Já era Alvalade, em junho de 1963. O Benfica venceu por 1-0 e a segunda mão foi do Sporting e de Figueiredo, que marcou os dois golos que apuraram os leões. Leia aqui as recordações de Figueiredo sobre esse jogo que lhe valeu a alcunha de «Altafini de Cernache».

Esse foi o último confronto entre ambos a duas mãos até hoje. Ao todo foram cinco e os leões ganharam quatro deles (veja aqui).

Também ganharam o último duelo de Taça, em 2015, precisamente a derradeira vitória sobre o rival até hoje. Agora são circunstâncias bem diferentes as que rodeiam a decisão desta quarta-feira, onde o Benfica chega como líder do campeonato, em igualdade com o FC Porto, e ainda em prova na Liga Europa, enquanto o Sporting está a oito pontos de distância e já fora da Europa. O que dá ao jogo uma importância especial para os leões, diz Cadete: «O Sporting, para fazer uma época dentro do que se espera de um clube com a dimensão do Sporting, precisa de conseguir passar a meia-final.»

É um dérbi a meio caminho, com o Benfica na frente, a poder apurar-se mesmo com um empate. O que, já agora, é coisa absolutamente rara nos dérbis de Taça. Só aconteceu por duas vezes: em 1959/60, numa meia-final a duas mãos em que o Sporting começou a vencer em casa por 3-0 e passou depois de um nulo na Luz, e em 2005, num 3-3 memorável na Luz decidido nos penáltis a favor do Benfica.

Mas é dérbi, lá está, e começa sempre do zero. «Em tempos dizia-se que a equipa que estava mais atrás acabava por vencer», lembra Cadete: «É uma motivação extra porque se está atrás e se quer recuperar. Neste caso está em jogo uma final. É uma incógnita.»