Quem já viu o Famalicão jogar aponta um nome acima de todos: Diego Medeiros. O brasileiro, de apenas 21 anos, é extremo, tanto pode jogar numa ala como na outra, mas tem aparecido sobretudo pela esquerda do ataque.
 
Na caminhada do Famalicão pela Taça, por exemplo, já fez dois golos (Sp. Pombal e Ac. Viseu) e inventou a assistência para a vitória em P. Ferreira.
 
Mas quem é afinal Diego Medeiros?
 
«O Carlos Mané é o jogador do Sporting mais parecido comigo: um extremo rápido, habilidoso, com técnica e que vai para cima do lateral», refere.
 
«Não sei se vai jogar o Cedric ou o Miguel Lopes, mas seja quem for vou para cima dele, claro que sim. Não há dúvidas sobre isso.»
 
«Em todos os jogos vou para cima e com o Sporting não vai ser diferente. Na velocidade ou na técnica, vou para cima do lateral e se ele me deixar ganhar confiança vou dar-lhe muito trabalho durante o jogo todo.»
 
Um quarto para quinze rapazes e... baratas na comida
 
Quem lê assim a frio as declarações de Diego Medeiros pode pensar que há aqui alguma arrogância, mas é ilusão: o jovem tem até a cabeça muito no lugar.
 
Nota-se na maneira como fala.
 
Além disso, convém dizê-lo desde já, passou por muito na vida. Por isso sabe dar valor à humildade de um recomeço, por exemplo.
 
«Saí de casa com catorze anos para ser jogador de futebol e nunca mais voltei durante um mês seguido», conta. «Nunca mais passei um mês inteiro em casa, junto da família. Só duas ou três semanas, dependendo das férias.»
 
Nessa altura, com catorze anos, saiu para jogar no Santos. Mais tarde saltou para o Osasco Audax: uma espécie de clube-empresa que recruta talentos para os vender pouco depois.
 
Ora do Osasco Audax saiu para o Vasco da Gama. Nessa altura viveu o lado mau do futebol. Assinou por três anos, mas pediu para sair no final do primeiro.
 
«Foi tudo mau, péssimo», revela. «Não pagavam, tinha os salários em atraso, vivíamos quinze rapazes num quarto, debaixo de uma bancada, com calor insuportável, davam-nos comida com baratas, enfim...»
 
Como é? Comida com baratas?
 
«Repetidamente acontecia isso, sim. A comida era má e vinha com baratas no prato. Alguns de nós não comiam, outros atiravam a comida ao chão, enfim. Pedi para rescindir e então tentaram sujar o meu nome. Fizeram tudo para que eu não voltasse a jogar futebol.»
 
«Cheguei ao clube com grande visibilidade, falavam que era uma grande promessa, mas depois havia um diretor do clube que também era dirigente das seleções jovens do Brasil e que queria ser meu empresário.»

«Dizia que me ia meter na seleção. Mas eu não tinha empresário, falei com uma pessoa amiga do Osasco Audax que me aconselhou a não assinar com essa pessoa. A partir daí começaram os problemas.»


 
Diego Medeiros bateu no fundo e teve de recomeçar.
 
«Nessa altura parei. Fiquei afastado do futebol. Mas o sonho do meu falecido pai era que eu fosse jogador, por isso voltei à luta e recomecei de novo.»
 
Recomeçou no mesmo Osasco Audax, onde Tulipa o descobriu numa observação que fez no Brasil. O treinador trouxe-o então para o Ribeirão, de onde saltou para o Rio Ave.
 
Assinou com a equipa da Liga, mas uma lesão e um problema de saúde durante um empréstimo ao Santa Clara devolveram o jovem extremo à estaca zero: o Rio Ave virou-lhe as costas e o jovem teve de recomeçar novamente.
 
Daniel Ramos já o conhecia do Ribeirão e levou-o para o Famalicão. Diego tem justificado a aposta e encara a viagem a Alvalade como uma oportunidade.
 
Está impaciente que a hora do jogo chegue, aliás.
 
«Estamos todos um bocado ansiosos, claro. É um jogo importante, a visibilidade é muito grande, Portugal inteiro vai estar ligado no jogo, no estádio ou pela televisão, por isso é uma oportunidade que temos de aproveitar.»
 
O brasileiro, de resto, está confiante.
 
«Acredito que vou fazer um bom jogo. A diferença entre jogar com equipas da Liga e equipas do nosso campeonato é imensa. Mesmo no jogo com o P. Ferreira notou-se que estas equipas querem jogar, no nosso campeonato é muito duro: as marcações são terríveis, os relvados são maus, é muito difícil.»
 
«Com equipas da Liga há mais espaços, os relvados são melhores... São jogos que se adequam ao meu futebol e acredito que vou fazer um bom jogo.»
 
Mais logo se verá.