Tiago Neves, um dos arguidos no caso das agressões de Alcochete, afirmou em tribunal que se deslocou à Academia do Sporting para «dar um aperto aos jogadores», de forma a «assustá-los e a que eles percebessem que deviam ter dado mais em campo», mas manifestou-se «arrependido» em relação às agressões.

«Queria ir lá dar uma espécie de aperto, mas nunca foi minha intenção agredir, era mais pedir justificações. A minha intenção nunca seria ir lá agredir jogadores, a minha intenção era assustá-los e fazer com que eles percebessem que deviam ter dado mais no campo, deviam ter ganhado», sustentou.

Tiago Neves, que vivia em Loulé e veio para Lisboa um dia antes da invasão para se encontrar com a namorada, admitiu ter acionado uma tocha no interior da academia, mas garantiu que não chegou a entrar no balneário de equipa profissional de futebol.

«Acendi uma tocha no interior da academia, essa tocha foi-me passada por um dos elementos, sei que não devia, acendi a tocha e projetei-a para uma zona sem nada», afirmou o arguido, o segundo a falar em tribunal desde o início do processo.

Confrontado com algumas mensagens enviadas via Whatsapp a incitar à violência sobre os jogadores, nomeadamente uma que dizia «Amanhã, quero ir bater nos jogadores», Tiago Neves afirmou que estas «eram mais bazófia do que outra coisa».

A juíza Sílvia Pires contrapôs a afirmação de Tiago Neves, referindo que nas referidas mensagens o arguido «incentivou as hostes, incentivou a chamar mais malta, discutiu o ponto de encontro e aconselhou a que não saíssem dos carros ao mesmo tempo para não chamar a atenção», acrescentando: «Isto é muito sério, não é uma brincadeira de Carnaval, vocês não são acéfalos».

O arguido, que disse ser «um adepto, não filiado em nenhum grupo, mas com muitos amigos no grupo Casuals», afirmou ter ficado à porta do balneário, onde viu «Bas Dost caído no chão a ser ajudado por alguém do Sporting».

«Depois dirigi-me às portas da ala profissional e acabei por entrar. Fiquei na zona de porta, talvez tenha dado uns passos para dentro, estava muito fumo e muita confusão lá dentro do balneário. Ouvi várias ofensas aos jogadores», disse, acrescentando que os únicos jogadores que viu, além do avançado holandês, foram William Carvalho e Rafael Leão.

Tiago Neves, que foi dos primeiros a entrar e dos últimos a sair da academia no dia 15 de maio de 2018, disse ter tapado a cara quando saiu do carro, «no caminho para a academia», para onde se deslocou «em passo de corrida».

O arguido, de 29 anos, considerou que as suas atitudes são condenáveis, e que «se calhar, o Sporting era um vício». «É tudo condenável, não me revejo nisto, não sei o que me passou pela cabeça na altura. Percebo que isto chocou o país. Isto, se calhar, era um vício que eu tinha, o Sporting e as claques», disse o arguido, que admitiu ter mentido no interrogatório.

O processo, que está a ser julgado no tribunal de Monsanto, tem 44 arguidos, acusados da coautoria de 40 crimes de ameaça agravada, de 19 crimes de ofensa à integridade física qualificada e de 38 crimes de sequestro, todos estes (97 crimes) classificados como terrorismo.