O Sporting sobreviveu ao impaciente inglês para alcançar umas das vitórias mais distintas dos últimos anos: uma vitória arrancada do fundo da alma, com sabor a mel e chocolate.

Um sabor delicioso, portanto.

Sobretudo porque lhe saiu do corpo, regado a suor e alimentado a coragem, capaz de ir buscar força às raízes mais interiores e profundas do que é o carácter de um leão.

Paulinho voltou a ser o herói desta história, ele que já tinha marcado na vitória sobre o Boavista de há dois anos, que se tornou o jogo do título. Podem, portanto, argumentar que faz menos golos do que devia, mas ninguém pode duvidar que o avançado faz os golos certos.

O Sporting sobreviveu ao impaciente inglês, repete-se, para reescrever a história, outra vez com um conde à procura de recuperar a memória dos gloriosos tempos no centro da narrativa, antes de morrer no fim. Desta vez, porém, o conde acaba por ter um papel secundário.

Por causa do Sporting, sim, por causa de Alvalade e por causa de uma perfeita comunhão de entusiasmos, que fomentou a esperança na vitória até ao último segundo.

O Tottenham, o tal conde, foi impaciente na forma como entrou na primeira e na segunda partes. Muito forte na pressão, quase asfixiante, a não deixar o Sporting impor o seu jogo e levar o futebol para o outro lado do campo. Mas foi coisa de meia hora, dividido por dois: quinze minutos na primeira e quinze minutos na segunda partes.

Parecia que a equipa de Antonio Conte, que tem muitas semelhanças com este Sporting, ou não fossem as duas formações o reflexo dos excelentes treinadores que as dirigem, mas parecia que a equipa de Antonio Conte, dizia-se, tinha pressa em chegar rapidamente ao golo.

Depois desses quinze minutos, sobretudo no primeiro tempo, o Tottenham caiu por ali abaixo até deixar o Sporting ser melhor e criar as ocasiões mais claras de golo.

Nesta altura convém fazer uma vénia a esta equipa leonina: impressionante o carácter, a confiança, a personalidade para jogar como gosta e sabe contra qualquer adversário.

Impressionante até a capacidade que tem de retirar o melhor de cada atleta. Por exemplo, no slalom de Diego Armando Edwards, pelo meio de adversários, ao melhor jeito de Maradona, para finalizar na cara de Lloris: infelizmente para ele, o guarda-redes evitou um golaço.

Ora este talento, esta agilidade, esta desenvoltura é sinal de um saúde mental admirável e é, para lá do resultado final, um excelente motivo para os adeptos se sentirem orgulhosos.

É verdade que a segunda parte foi mais difícil, também porque se fez sentir a diferença entre ter descansado e não o ter feito no fim de semana: com mais capacidade física, o Tottenham continuou a ameaçar a baliza de Adán, que em determinado momento se tornou figura.

Até que chegou Paulinho, e com ele um dos mais belos episódios da história recente do Sporting. Foi quase de loucos, sobretudo porque não ficou por ali: logo a seguir surgiu Arthur Gomes a tornar este conto numa lenda, e a deixar memórias para muitos anos.

É a Champions e assim é que ela é bela. Que noite, leão.