Stephanie Roche surge entre os finalistas do Prémio Puskas - pode ser a primeira mulher a conquistar a distinção - graças a um golo apontado pelo Peamount United frente ao Wexford Youth, na República da Irlanda.

Mas afinal, quem é esta jogadora? Sabe por exemplo que é cem por cento irlandesa, embora jogue atualmente em França e o seu nome aponte para uma descendência gaulesa?

Em entrevista ao Maisfutebol e à  Maisfutebol Total, a primeira para Portugal desde que surgiu na lista final para o melhor golo de 2014, Stephanie Roche fala de tudo um pouco e revela a sua admiração por Cristiano Ronaldo. Afinal, do outro lado da linha está uma fervorosa adepta do Manchester United.

Antes de mais, a felicidade por surgir ao lado de Robin Van Persie e James Rodriguez na reta final da corrida pelo Prémio Puskas.

«Fiquei muito feliz, já tinha sido uma felicidade enorme quando vi o meu golo no top-ten e portanto já deve imaginar o que senti quando fiquei no top-três. Foi uma sensação indescritível.»

Stephanie Roche nasceu em Dublin há 25 anos. Começou por jogar em equipas mistas, com rapazes, mas alterou o rumo quando se viu limitada pelas regras contra essa prática. Passou por Stella Maris, Dundalk City, Raheny United e Peamount United. No início desta temporada, rumou a França para vestir a camisola do ASPTT Albi.

«Vi a cerimónia em que eles anunciaram os finalistas em direto, o meu clube organizou isso, estava toda a gente a ver. Eu, as minhas colegas de equipa, os dirigentes, tudo a ver em direto na televisão francesa. Olhe, ainda bem que fui nomeada, se não ficava um pouco envergonhada no meio deles.»

Irlandesa de sorriso fácil, que se percebe na voz, Roche agradece a distinção mas tenta contornar a barreira entre mulheres e homens.

«É uma ótima notícia para o futebol feminino, que bem merece, mas não quero que o golo seja olhado por esse ângulo. Quero que avaliem o meu golo pela sua beleza, não por ter sido marcado por uma mulher ou por um homem. É um golo de futebolista, como o de James e Van Persie.»



Caro leitor, um momento de sinceridade: ao ver este golo, acha que foi fortuito? Coisa de uma vez só? A jogadora está habituada a essa análise e até agradeceu a presença de uma equipa de reportagem francesa no treino do ASPTT Albi, na passada semana, para filmar a tentativa de repetição do movimento.

«Uma televisão francesa esteve aqui há dias e filmou-me a recriar o golo. Consegui fazê-lo duas ou três vezes, entre poucas tentativas, e serviu para provar que aquilo não aconteceu por acaso. Em que pensei no golo? Aquela defesa andava muito em cima de mim durante o jogo, numa marcação muito forte. Então, dominei logo para o lado, depois para o outro e como a bola estava a jeito acabei por rematar daquela forma. Foi um momento de inspiração.»


Stephanie Roche pode fazer história no Prémio Puskas mas sabe que enfrenta uma concorrência feroz. A irlandesa não revela a sua preferência e fala até de um golo que não chegou à lista final.

«Sinceramente, um dos que gostei mais até não chegou ao top-três, que foi o golo do Tim Cahill frente à Holanda. Depois, acho que tenho dois grandes concorrentes: o golo do Van Persie é um gesto técnico fantástico, incrível mesmo, e o do James também foi uma bela execução.»



Aos 25 anos, a jogadora saiu da República da Irlanda para assinar contrato profissional com o ASPTT Albi de França. Tudo por culpa daquele golo?

«É verdade que este golo acabou por mudar a minha vida, em vários aspetos, mas não foi por isso que vim jogar profissionalmente para França. Já tinha sido convidada para vir para França há uns anos, mas só agora dei o passo.»

No seu país, para além de jogar no Peamount United, Stephanie Roche dava os primeiros passos em direção ao futuro.

«Na Irlanda estava a jogar e a treinar crianças. Tirei o curso de treinadora e fiz estágio de um ano no projeto de futsal da Federação Irlandesa. Estava a tentar passar os meus conhecimentos para os mais novos. É isso que farei no futuro, adoro treinar crianças, sejam raparigas ou rapazes. Nesta altura, entreguei-me profissionalmente a este projeto em França e espero cá ficar o máximo de tempo possível.»

O nome aponta para uma ligação francesa mas a jogadora afasta essa ideia. Aliás, a língua tem sido o maior obstáculo em solo gaulês.

«Sinceramente, o mais difícil aqui tem sido a barreira da língua, sobretudo fora de campo, no dia-a-dia. Em campo a adaptação foi mais rápida, também graças às minhas companheiras, que têm sido impecáveis. Curiosamente, o meu nome tem provavelmente uma origem francesa mas não sabia dizer nada nesta língua até agora.»




Uma grande adepta do Manchester United, de Ronaldo…e de Nani

Stephanie Roche ficará a aguardar pela Gala da FIFA a 12 de janeiro de 2015. O Prémio Puskas surge como um dos pratos fortes da cerimónia mas o principal é, naturalmente, a Bola de Ouro.

Nesse capítulo, a jogadora não tem dúvidas: entre Ronaldo, Messi e Neuer, o seu voto iria para o português.

«A Bola de Ouro deve ir para o Cristiano Ronaldo, para mim é o melhor jogador do mundo nos últimos dois ou três anos.»

Nem de propósito. Uma boa altura para falar sobre uma declaração recente de Stephanie Roche: «Não acho que seja tão vaidosa quanto o Cristiano Ronaldo. Ele tem mais produtos de beleza do que eu na sua mala». Ela disse mesmo isto?

«Olhe, até é bom esclarecer isso para as pessoas em Portugal. Dei uma entrevista para um jornal brasileiro, em que o jornalista perguntou se eu era vaidosa, e ele próprio falou em alguns jogadores que considera vaidosos como Cristiano Ronaldo. Eu respondi que não, não era nada vaidosa e não pensava em nada disso em campo. Depois, alguém traduziu mal as declarações para inglês e espalhou-se essa ideia errada.»

Fica o esclarecimento e uma revelação pertinente. A irlandesa é uma grande adepta do Manchester United…e de Cristiano Ronaldo, naturalmente.

«Eu criticar o Ronaldo? Sou adepta do Manchester United, uma grande adepta, e todos os adeptos do United adoram o Ronaldo desde que ele passou por lá. Se virem o meu Twitter, estou sempre a elogiar o Ronaldo, até lhe deixei uma mensagem de boa sorte na final da Liga dos Campeões. Sou uma grande fã do Ronaldo.»


A conversa, divertida e fluída, vira-se então para o Manchester United. Como é que esta adepta dos ‘red devils’ avalia Nani, jogador atualmente cedido ao Sporting?

«Vi vários jogos do Nani em Old Trafford, com o meu namorado, e ambos dizíamos que ele faz coisas extraordinárias com a bola, coisas que poucos conseguem fazer. Acho que nunca teve a continuidade esperada, mas espero que seja feliz no Sporting e ainda volte ao meu United.»

Stephanie Roche despede-se com saudações para os adeptos portugueses e um voto para o futuro. Um desejo para lá do Prémio Puskas.

«Acho que o futebol de homens ainda está acima do futebol feminino, em geral, mas já há grandes jogadoras e um nível muito interessante. Acredito que em três/quatro anos pode haver maior equilíbrio nesse aspeto. Espero que sim.»