[reportagem publicada originalmente em julho de 2014, numa altura em que André Silva se destacou no Europeu de sub-19. Esta segunda-feira, o FC Porto vendeu o avançado ao AC Milan por 38 milhões de euros]

Cinco golos no EuroSub19, pormenores riquíssimos, perfil de enorme competitividade: André Silva, avançado do FC Porto, é um dos nomes do momento.

O Maisfutebol pega nos dados recentes e vai à procura da história de um menino prometedor. 18 anos e notável compleição física [1,85 metros por 78 quilos] aliada a um evidente talento inato.

Está aqui um ponta-de-lança para tratar com o cuidado exigível. Curiosamente, um ponta-de-lança que viajou por outros lugares em campo antes de se instalar, talvez em definitivo, no coração das áreas opostas.

André Silva nasceu para o futebol no histórico Salgueiros. Durante sete anos vestiu de vermelho. Até que na manhã de um domingo de 2010 encheu o campo da Constituição com uma exibição assombrosa.

O Salgueiral venceu por 2-3 e o FC Porto já não o deixou para lado nenhum. «O Porto só tinha vitórias e fomos lá surpreender. Toda a equipa esteve ótima, mas o André evidenciou-se naturalmente. Fez um golo e foi o melhor em campo», conta ao Maisfutebol o treinador de André Silva nessa altura, Alexandre Silva.

A transferência, porém, acicatou os ânimos entre os vizinhos. O FC Porto não pagou o que o Salgueiros exigia. Tudo foi resolvido através da AF Porto. «Foi paga uma taxa de compensação, na ordem dos mil euros. Só isso».

«Mandei-o parar muitas vezes, ele quer sempre mais»

Por esses dias, recorda Alexandre Silva, o menino de Baguim do Monte tinha uma alcunha muito especial. «Todos o tratavam por Deco. Pois, ele não era ponta-de-lança. Jogava a extremo, na esquerda ou na direita, e antes disso era um número dez. Daí a comparação com o Deco».

«Estamos a falar de um miúdo fora do normal», adverte o atual técnico dos sub19 do Salgueiros. «Alia o talento à vontade, quer sempre mais e mais, possui uma predisposição natural para tratar a bola e jogar futebol».

Alexandre Silva recorda um atleta «determinado» e «obcecado com a evolução», mesmo que os 14 anos pudessem sugerir alguma rebeldia sem causa. «Nada disso, ele queria era treinar. Tive muitas vezes de me aproximar dele e mandá-lo para o duche: André, chega, faz só o que eu mando. Não exageres!. Como vê, não posso estar surpreendido com o que ele está a conseguir».

O «bom enquadramento familiar» e «o aproveitamento excelente na escola» são pormenores coerentes no traço comportamental de André. Tudo faz sentido.

«Eu digo sempre que o André é muito bom em muita coisa. Já me passaram centenas de atletas pelas mãos e este rapaz é mesmo especial».

«Ponta-de-lança? É a mesma situação do Cristiano Ronaldo»

Parte final da conversa e uma derradeira pergunta: Alexandre Silva olha para André Silva como o potencial ponta-de-lança de futuro da Seleção Nacional?

«Respondo desta forma, tendo consciência das diferenças entre eles: o Cristiano Ronaldo é ponta-de-lança? Não. Pode ser? Pode, dos bons. Ou seja, o André tem toda a capacidade para singrar nessa posição, mas ele é capaz de brilhar noutras funções também».

«Possui uma capacidade incrível de mudar de velocidade, tem boa técnica, joga sem problemas com os dois pés e a finalizar tem um excelente instinto».