Era o homem mais no centro das atenções do Super Bowl. Era sobre ele que os olhos mais incidiam no jogo do ano nos Estados Unidos. Era a prova de fogo que estava reservada em particular para Tom Brady na final da liga de futebol americano A estrela dos New England Patriots não só a superou com a vitória sobre os campeões em título Seatlte Seahawks, como foi colocado no patamar mais alto, naquele onde estão os outros melhores de sempre.

Um jogo soberbo com quatro passes para «touchdown» colocaram Brady ao nível de Joe Montana, o ídolo de gerações seguidoras do futebol americano e, até domingo, consensualmente considerado como o melhor «quarterback» da história da modalidade. Até domingo. Brady conquistou agora o seu lugar neste olimpo, mesmo que a sua cadeira ainda seja banhada por alguma sombra. O passador dos Patriots passou do Inferno ao Céu em 328 jardas e deixou a questão do melhor como o tema do dia seguinte à vitória.



É isto que se discute agora entre os especialistas e entre os adeptos da modalidade. Não terá Brady passado a ser o melhor «quarterback» de sempre? É o que está em cima da mesa com os números em análise. É o que importa no presente. Arredada por enquanto ficou a nuvem que (ainda) faz sombra a esta glória recém-atribuída. E que não desapareceu de todo.

No lançamento do jogo, pelo contrário, o «deflategate» fazia parte da atualidade que ensombrava a aura de Brady desde há cerca de duas semanas. O escândalo aconteceu na final de conferência, jogo que determina quem jogará o Super Bowl. Os Patriots venceram Os Indianapolis Colts por 44-7, mas o expressivo triunfo ficou marcado pela polémica com as bolas utilizadas.

No futebol americano, cada equipa dispõe de um conjunto de 12 bolas que utiliza quando está na sua posse, ou seja, quando está em situação de ataque no encontro – sendo que todas as bolas utilizadas num jogo têm de estar cheias dentro de um intervalo determinado de pressão. Ora, onze das 12 bolas utilizadas pelos Patriots, nesse jogo que é como uma meia-final para a decisão do título, tinham um nível de pressão irregular.

Nesta altura ainda decorre uma investigação para apuramento de responsabilidades, que atingiram a integridade de Brady em particular, mas que já se estenderam a funcionários dos balneários... Mas foi o «quarterback» que acabou por ser o mais exposto já na contagem decrescente para o Super Bowl, inclusive, pelo seu ídolo do futebol americano, o próprio Joe Montana.

«Se eu quiser uma bola de uma certa forma, não sou que faço isso. Por isso, alguém fez por ele. Mas não percebo por que está toda a gente a fazer um grande alarido para tentar descobrir quem o fez. É muito simples. Se foi feito, foi feito por uma razão. Só há uma pessoa que o faz. E mais ninguém se importa como é que a bola está», disse o antigo jogador numa citação do «Boston Globe».

Mágoa e energia

A variação da pressão da bola importa quer para o jogador passador quer para os companheiros de equipa que vão apanhá-la. Diferentes pressões implicam diferentes performances da bola, às quais não são também alheias as condições meteorológicas. E costuma ser o «quarterback a definir essa pressão dentro dos valores regulamentares. As palavras de Joe Montana tiveram Tom Brady como destinatário.

Brady ainda comentou a polémica na véspera do Super Bowl reconhecendo «perceber o que as pessoas sentiam», mas assumindo também mágoa: «Está uma investigação a decorrer. E tenho a certeza de que se vai descobrir. Tem havido muita especulação. E acho qe foi isso que me magoou.» Nestas declarações à «NBC», a estrela dos Pariots afirmouq eu «todos os factos vão surgir depois do Super Bowl». «E sejam eles quais forem também serão uma novidade para mim», acrescentou garantindo estar a concentrar as energias no grande jogo.

E elas não lhe falharam.
 


Nos números em concreto do jogo desta madrugada de domingo, Tom Brady fez 37 passes completas em 50 tentativas, fez a bola voar 328 jardas, fez quatro passes para «touchdown» e ainda duas interceções. No cômputo geral, o «quarterback» dos Patriots passou a ser o jogador com mais passes para «touchdown» em Super Bowls: os tais 13. E superou Montana (11) e também a outra lendaTerry Bradshaw (9).

Com um jogo soberbo, Brady foi logicamente eleito o melhor em campo e foi pela terceira vez o MVP do Super Bowl – igualando Montana (também 3) e passando Bradshaw , Bart Starr e Eli Manning (2). Ao ganhar o quarto anel de campeão (em seis finais jogadas) igualou também os outros dois históricos Montana e Bradshhaw (com quatros vitória em quatro Super Bowls jogados).

O reconhecimento ficou feito.
 



A noite foi a tal ponto de triunfo para Tom Brady, para além do triunfo dos Patriots, que Richard Sherman se rendeu ao «quarterback» adversário. Sherman, uma das estrelas dos Seahawks e um dos melhores defesas da NFL, não tinha a melhor das relações com Brady. Pelo contrário, as suas trocas de palavras passavam por recíprocos «depois do jogo, logo falamos»
.

«Acho que as pessoas têm de alguma forma uma visão distorcida do Tom Brady: que ele é apenas um indivíduo certinho que faz tudo bem feito e nunca diz uma palavra feia a ninguém. Pois nós conhecemo-lo de outra maneira», acusou Sherman numa citação do «Sports Blogs Nation».

No Super Bowl deste domingo, Brady e Sherman voltaram a enfrentar-se em campo. E, à primeira vista, a animosidade parecia perdurar para lá do final do jogo. Com Sherman a estender a mão e Brady de mão no queixo.



Mas pareceu. Não foi o que ficou. O que ficou foi o reconhecimento do que houve para valorizar.



E, com «deflategate» ou sem, com polémica ou sem, a garantia que Brady deu é a de que vai continuar em cena
, como disse ao «The New York Times» após o Super Bowl: «Ainda tenho muito para jogar.»